Resenha: Fresno - A Sinfonia de Tudo que Há

Com direito a uma participação de Caetano Veloso, novo disco da Fresno é uma imersão da banda em novos mundos e diversas sonoridades.

Fresno - A Sinfonia de Tudo Que Há

Lembro-me de quando ouvi falar pela primeira vez da Fresno. No auge da moda “Emo” dos anos 2000, a banda era um dos principais nomes do estilo, ao lado de NX Zero, entre outros.

Naquela época, ser emo era mais do que simplesmente ouvir tais bandas. Era seguir uma moda através de roupas, perfis personalizados no Orkut, entre outras características. Se você não seguia essa moda, ouvir tais bandas poderia ser motivo para piadas sem graça.

Então, você pode me perguntar: “E o que isso tem a ver com o disco novo?” E eu te responderei isso mais pra frente. Mas vamos ao começo. Me lembro que, após ver muitas pessoas falarem da banda no já citado Orkut, fui buscar no Kazaa (!) algumas músicas para conhecer, e os dois primeiros discos me agradaram bastante.

Mas, infelizmente falar que os ouvia era motivo de bullying, então confesso que não admitia isso pra ninguém, afinal, ser sacaneado é algo que você não quer, independente da idade. Imagina isso no fim da adolescência? Até desligava o subnick do Messenger que era linkado com o Media Player, pra ninguém descobrir.

Após um tempo, a banda cresceu, assim como o estilo, e influenciados por produtores e gravadoras, tais bandas alcançaram sucesso radiofônico, com pitadas de música pop e produção de mainstream. Nessa época, confesso, perdi um pouco o interesse pela banda.

Após ouvir o disco Revanche (2010), resolvi dar mais uma chance. E desde então, tenho visto uma crescente muito interessante. Uma evolução que talvez seja resultado não só do talento dos músicos, mas também de um amadurecimento pessoal dos integrantes. Tal amadurecimento foi sendo mostrado a cada disco lançado, chegando então aos dias atuais.

A Sinfonia de Tudo que Há

Lucas Silveira (guitarra e vocais), Gustavo Mantovani (guitarra), Mario Camelo (teclados) e Thiago Guerra (bateria) gravaram esse novo disco sem alarde, sem propagandas, prazos, expectativas e exigências de gravadoras ou produtores, e acertaram em cheio.

Desde a belíssima capa, produzida por LucasRafael Rocha e Tiago Abrahão, membros da banda Wannabe Jalva, passando pela participação de Caetano Veloso, temos aqui um disco que mostra um amadurecimento da banda que já podia ser visto desde o EP Eu sou A Maré Viva.

A primeira faixa, “Sexto Andar”, de cara, dá um clímax interessante para o disco, com uma abertura crescente e emotiva. Em seguida, “Deixa Queimar”, já traz um clima um pouco mais “tenso”, com bastante peso, e uma linha de baixo e piano bastante marcantes, enquanto Lucas canta: “E se você não sabe contra quem lutar / Só vai ter inimigos em todo lugar / Já posso ouvir o coro: Deixa, deixa, deixa queimar!“.

Logo depois temos talvez a música mais esperada do disco, “Hoje Sou Trovão”, resultado da parceria da banda com Caetano Veloso. O resultado é bastante interessante, e os vocais funcionam muito bem.

A sequência “Poeira Estelar”, “O Ar” e “Abrace Sua Sombra”, é o ponto alto do disco, tanto musicalmente, quanto poeticamente. Introspectivas e com belas melodias, as canções têm tudo para se tornarem algumas das favoritas dos fãs.

“Astenia” é outro ponto muito interessante do disco. As influências de Queens of The Stone Age parecem bem claras, e os vocais lembram bastante algumas músicas do Showbiz, disco de estreia do Muse.

“A Sinfonia de Tudo Que Há” e “Axis Mundi” também remetem aos ingleses do Muse, dessa vez de uma fase mais atual, principalmente do disco The Resistance, mas também soando como se fosse trilha sonora de um filme, ou uma ópera rock, porém, sem perder a identidade da banda. Seguida por “A Maldição”, talvez a mais pesada do disco, e por fim, “Canção Desastrada”, que encerra os trabalhos.

A Sinfonia de Tudo que Há é um ótimo disco de uma banda que parece cada vez mais segura do próprio trabalho. Ainda é cedo para dizer se é o melhor disco da banda, e é necessário ver como tais músicas funcionarão ao vivo, mas dá pra dizer que o álbum tem tudo para ser um dos grandes discos nacionais do ano.

Sobre a pergunta lá do começo da resenha: o amadurecimento faz parte da vida. Creio que a mensagem do disco é justamente essa, de falar sobre o amadurecimento de todos nós.

Assim como vemos um amadurecimento da banda, resultado da experiência de cada um dos seus integrantes, há o amadurecimento daquele adolescente com medo de ser sacaneado por um gosto pessoal, para o adulto de hoje, que fica feliz em ouvir um disco tão bem feito, falando sobre a vida e não se importando de fato com opiniões vindas de fora.

O disco fala de como as situações da vida nos fazem nos questionar, crescer, sofrer, se alegrar e perceber que podemos fazer música a partir de todos os momentos da vida. E que há música em todos nós. Que há sinfonia em tudo que há.