Texto e fotos por Rakky Curvelo, com colaboração de Marcos Andrade
Mas a edição desse ano dividiu as 28 bandas que tocaram no Estacionamento do Estádio Mané Garrincha entre brasilienses e não brasilienses em 100% dos horários, dando um espaço especial inclusive a bandas independentes e mais novas.
Foi o caso do Almirante Shiva, que tocou à tarde ano passado e nesse ano ganhou um espaço especial como última atração do Palco Chilli Beans, depois da 1h30 da manhã, de seus colegas do Darshan, que subiram ao palco principal, Budweiser, à 1 da madrugada para seu show, que precedeu o do Planet Hemp e de mais 12 outras bandas locais que tiveram seus momentos de glória durante o evento.
Os Punks
Algumas bandas mais tarde, outro nome importante do gênero no país se apresentaria no palco Budweiser: era o papito, Supla, chegando e botando moral com seu “O Charada Brasileiro”. Não faltou nostalgia no setlist do moço, afinal, comemorar 30 anos de carreira não é todo dia. Com canções como “Humanos”, “Japa Girl / Green Hair”, “Cenas de Ciúmes” e “Garota de Berlin”, o papito segurou o público, que ouvia com a mesma animação músicas de seus trabalhos mais recentes, como “Minha Mão Direita”, “Comer Você” e “Amor entre Dois Diferentes”, com a participação especial de Isa Salles.
Chegando ao fim de seu show, Supla incluiu em seu discurso esperado o já esperado apelo político, dessa vez pela união das pessoas, independentemente de partidos políticos e exibiu sua boa forma pulando do palco e indo até a área da grade para o grande público, cumprimentando a galera que fazia volume por ali.
O Palco Pesado
Além das atrações da casa, apenas outros dois estados brasileiros dividiram as honras locais com o povo do DF: as bandas de São Paulo (como o Oitão, o Worst e o Project 46, que fechou a apresentação) e o Hibria, do Rio Grande do Sul.
Os Psicodélicos
Um show a parte é a presença de palco e atitude da fofíssima Gaivota Naves (que também é parte do grupo Rios Voadores). A moça canta, dança, corre de um lado para o outro do palco e interage com plateia e colegas de banda com a naturalidade de quem de fato nasceu para a coisa. Aprovado!
As novidades que prometem e a galera que todo mundo ama
A Nafandus, do Ceará, subiu ao palco encapuzada e presa. Na performance, gravações de rádio com depoimentos de Getúlio Vargas, de Lula e a gravação de alguns depoimentos da votação para o impeachment de Dilma Rousseff, como a infeliz homenagem de Jair Bolsonaro à Brilhante Ustra, anunciavam que aquele seria um show para se ver. E foi.
A presença de palco e o vocal impressionantes de Claudine Albuquerque fizeram do show da banda nordestina um marco no finalzinho de tarde do Porão. O grupo está trabalhando para lançar Unbreakable, autoral que conta a saga do músico independente em busca do reconhecimento do público e da consagração artística. Enquanto isso, os metaleiros misturam influências do estilo à ritmos do Nordeste, com uma potência que dá gosto!
“Boa Esperança”, “Gueto”, “Zica”, com direito a passinho e músicos gingando em frente ao palco, pra galera copiar, “Ubuntu” e “Hoje Cedo”, em uma de suas performances mais pesadas nas guitarras e na atitude da sensacional Anna Tréa, porém, mais belas, fizeram o show de Emicida ser o primeiro completamente lotado do festival, e um dos melhores do músico neste ano.
Com o ModeHuman ensaiadinho, Emmily e companhia tocaram “Thievery”, “Another Round” e “Deadmen” antes de se dirigirem ao público, celebrando aquela apresentação que já eram tão diferente da de dois anos atrás. Emocionada, Emmily agradeceu ao público por diversas vezes, e passou a palavra para uma Cris não menos comovida, que também deu o tom de festa para aquele momento.
Em “Communication”, Emmily e Cris dividiram a responsabilidade de fazer o público se comprometer em dançar com elas “aquela música que a gente dança esquisito”. “Não vai ter problema, daqui a pouco você olha pro lado, vê alguém dançando esquisito e dança também!”, explicou Cris, antes do começo da música.
Já chegando ao fim da apresentação, a banda se apresentou com a música “Monochrome” e já saia do palco após a despedida, quando receberam a notícia de que podiam ficar mais um pouco, afinal o palco do lado, que receberia o Nação Zumbi em alguns instantes, ainda não estava pronto. Belos e animados, o quinteto voltou ao palco para tocar novamente “Thievery”, com direito a uma jam que levou Emmily para a bateria, enquanto a galera ao redor olhava desacreditada.
Revivals: por que não?
Obviamente estando em Brasília, não dá para não falar de política e Du Peixe, emendado pelo grito de “Fora Temer” do meio do público, pediu aos fãs que não se deixem calar pela série de mudanças pelas quais o país está passando.
Para finalizar, a banda foi até o final do disquinho que celebra 20 anos em 2016 com “Amor de Muito”, coisa bela e rara na discografia ao vivo do grupo e “Samidarish”.
Entre as canções do disco que celebra 30 anos em 2016, Nasi e Scandurra celebraram sucessos de outros grandes momentos da carreira, como “Tarde Vazia”, “Rubro Zorro”, “Flerte Fatal” e voltaram para o bis com “Núcleo Base”, para delírio do público brasiliense.
Mas quem teve a responsabilidade de fechar o Porão foram os caras do Planet Hemp. A banda conseguiu levar o público ao delírio antes mesmo de subir ao palco, com as dicas para curtir o show apresentadas no telão, no estilo de avisos de segurança de companhias aéreas, com direito a aeromoça e tudo o mais.
Abrindo o show com “Não Compre, Plante” e “Legalize Já”, o grupo passou por todas as faixas mais conhecidas de sua carreira, desde “Fazendo A Cabeça”, “Futuro do País”, “Dig Dig Dig (Hempa)” até “Queimando Tudo”, “Ex-Quadrilha da Fumaça”, “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga” e “Quem Tem Seda?”. Nas músicas com pegada mais hardcore, BNegão pediu para que todas as rodas se juntassem numa única celebração punk.
E teve também homenagem a Chico Science, com a execução de “Samba Makossa”. A imagem do artista pernambucano ficou congelada na tela enquanto o Planet Hemp tocava. Marcelo D2 chegou também a oferecer a performance a Chorão, já que a canção fez parte durante muito tempo do repertório do Charlie Brown Jr.
Na derradeiro ato do espetáculo, D2 brincou com o “cheirinho de hepta”, ao notar um fã que abanou uma camiseta do Flamengo durante mais de um hora perto da grade. BNegão ainda invocou a nação rubro-negra presente, e quando percebeu que nem todos tinham gostado, perguntou: “ih, tem vascaíno aqui?” (Flamengo e Vasco são as maiores torcidas de Brasília). Após a recorrente apresentação dos integrantes (que além dos veteranos D2, BNegão e Formigão, conta hoje com Nobru Pederneiras e Pedro Garcia, vindos da banda carioca Cabeça), o grupo encerrou como o faz tradicionalmente, tocando “Mantenha O Respeito”.
A Redação do TMDQA! viajou a convite do evento.