“Senti cheiro de ferro por conta do sangue derramado”: baterista do Eagles of Death Metal fala um ano após o Bataclan

Julian Dorio, do EODM, escreveu um artigo para a Billboard contando o antes, o durante e o depois do atentado terrorista no Bataclan.

Julian Dorio, do EODM (créditos: Alysse Gafkjen/Billboard)
(créditos: Alysse Gafkjen/Billboard)

Pois é, já faz um ano desde a tragédia terrorista em Paris.

Esta semana, o Bataclan anunciou que vai reabrir as portas com um show de Sting. No anúncio, o diretor da casa de shows, Jerome Langlet, disse querer que o local não permaneça para sempre como uma lembrança dos atentados.

Publicidade
Publicidade

Mas, certamente, quem vai lembrar pra sempre daquele 12 de novembro são os integrantes do grupo Eagles of Death Metal.

Julian Dorio tocava com o The Whigs quando recebeu o convite para excursionar com o EODM por seis semanas para a turnê europeia. Ele nunca tinha tocado com a banda, mas aceitou. Apenas duas semanas depois, a tragédia.

Agora, ele falou abertamente à Billboard sobre o assunto. E nós trouxemos os principais trechos pra você.

O depoimento

(créditos: Solal/SIPA via AP Images)

Mais do que uma entrevista, a revista deu espaço pra que Julian Dorio escrevesse o que quisesse. E ele começou falando sobre os dias anteriores:

Eu já tinha estado em Paris para lua de mel com a Emily, minha esposa. Mas nessa viagem ela não foi. Na noite do show, eu fui jantar sozinho em um restaurante charmoso perto do Bataclan. O garçom me reconheceu e falou sobre o Eagles of Death Metal, então eu ofereci alguns ingressos do show a ele. Ele disse que adoraria, mas teria que trabalhar até tarde. Graças a Deus que ele não foi.

Depois, descreveu os momentos de terror e como conseguiu fugir:

O tiroteio começou de repente. Eu nunca vou esquecer como foi alto e poderoso. A pólvora atingiu meu nariz. Eu também senti cheiro de ferro, e percebi depois que era de tanto sangue derramado. Em poucos minutos, consegui achar uma porta de saída. Até pensei que podia ter um atirador do outro lado, mas o que eu poderia fazer? Apenas abri e saí correndo. Eu e mais dois membros da banda conseguimos chamar um táxi e fomos direto a uma delegacia. Eu estava sem nenhum pertence, então usei o telefone de lá pra ligar pra Emily. A TV estava ligada e dizia ‘dezoito mortos’. Logo subiu para 30, depois 34. Aí eu percebi que aquele número não pararia de subir.

E, claro, não foi fácil voltar a Paris e encarar de perto aqueles momentos novamente. Mas ele teve a ajuda da esposa pra isso:

O psicólogo com o qual me consulto disse que seria bom voltar a Paris para criar novas memórias. Por isso eu aceitei o convite do U2, semanas depois, para tocar ‘People Have the Power’ com eles. A Emily foi comigo. Quando voltamos pra casa, ela me disse que estava grávida. Soubemos na mesma hora que o bebê tinha sido concebido em Paris. Essa foi nossa redenção.

Julian Dorio também contou como conseguiu recuperar uma relíquia daquela noite:

A maioria dos instrumentos da banda foi incinerada durante a limpeza do Bataclan. De alguma forma, a bateria foi poupada. Foi devolvida ao fabricante. O dono da loja me ligou e perguntou se eu queria ficar com ela. Eu disse que sim, então ele limpou a bateria e pediu para um padre abençoá-la. Ele e eu acreditávamos que era importante fazer o instrumento voltar à ativa para trazer alegria para as pessoas. Por isso, eu uso essa bateria até hoje.

O depoimento de Julian Dorio estará na edição de novembro da Billboard americana.

Documentário

Em 2017 o Eagles Of Death Metal irá lançar um documentário sobre os atentados dirigido pelo filho de Tom Hanks.

https://www.youtube.com/watch?v=d08JkQa6V38

Sair da versão mobile