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Celebração e despedida marcam edição de 2016 do Festival Dosol

Tulipa Ruiz, O Terno, Felipe Cordeiro, Perrosky, Luneta Mágica e muitas outras bandas estiveram no evento na capital potiguar

Celebração e despedida marcam edição de 2016 do Festival Dosol
Fotos por Luana Tayze

Fotos por Luana Tayze
Texto por João Pinheiro com colaboração de Luana França

O Festival Dosol já é um evento consolidado na agenda cultural do país. Na capital potiguar e região, é icônico. Dessa vez, no entanto, além do ar festivo, havia um clima de despedida. É que essa foi a última edição do evento no histórico bairro da Ribeira, reduto boêmio e berço do rock de Natal. A produção vai reformular o formato e levá-lo à praia! Nada mais adequado na cidade que tem sol durante 300 dias por ano, hein.

Assim como em todo grande festival, com seis (!) palcos simultâneos é humanamente impossível ver tudo. E a gente sempre fica com pena de ter perdido esse ou aquele show. De antemão, peço perdão a todos os artistas que não consegui prestigiar por estar vendo outra banda, pegando uma cerveja ou no lounge.

Minerva Del Diablo e Joseph Little Drop no Festival Dosol
Minerva Del Diablo e Joseph Little Drop no Festival Dosol

Pelo outro lado, uma das coisas legais de eventos como o Dosol é conhecer. Pessoas, artistas e bandas. Digo isso porque talvez vocês ainda não tenham ouvido falar dos galhofeiros da Joseph Little Drop (que nome!). A banda de punk é diversão e carisma puros. O que poderíamos esperar de um grupo que começa um show com um cover de “Faz um Milagre em Mim”, de Regis Danese, e termina com a participação da drag queen Minerva Del Diablo na versão de “Sweet Transvestite”, do musical Rocky Horror Picture Show? É quase como estar no recreio.

Quem também mandou muito foi o Fetuttines. A dupla é formada por Anderson Foca (Camarones Orquestra Guitarrística) e Luiz Gadelha (Talma&Gadelha) e tem uma pegada eletrônica bem forte com letras mais românticas. Além do já conhecido talento dos dois artistas, é preciso ressaltar como Foca se mostrou um cantor virtuoso nesse projeto. Agora ele solta a voz sem medo e acerta em cheio.

Luneta Mágica é uma banda do Amazonas que já é queridinha do TMDQA!. Em 2015 eles lançaram o ótimo No Meu Peito, segundo disco de sua carreira, e entraram na nossa lista de melhores álbuns do ano. Com um pé no rock alternativo e outro na psicodelia, o grupo fez uma ótima apresentação com suas suas versões estendidas propícias para ótimas viagens. Outro destaque são as suas letras bem trabalhadas. Há até espaço para uma belíssima referência ao eterno escritor Eduardo Galeano.

Luneta Mágica no Festival Dosol
Luneta Mágica no Festival Dosol

A música da região norte do Brasil deveria ser patrimônio imaterial da humanidade. E Felipe Cordeiro é parte integrante dela. O show do rapaz faz você se sentir em um passeio pelo Pará, naquele mormaço entre um típico. Para ser completo só falta o pato no tucupi e uma cuia de açaí com farinha de tapioca. É música solar feita para sentir com o corpo inteiro. O público não poderia reagir de outra maneira. Sábado, 22h, tudo que as pessoas querem é dançar. Lambada, cumbia, carimbó. Teve tudo isso. Ainda teve também o mestre Manuel Cordeiro, pai de Felipe. Eles tocam juntos e há tanta beleza em ver uma família dividindo essa paixão pela música e por suas raízes. Sem dúvidas, o show do festival.

O Terno estava com participação marcada no evento desde o ano passado. É que a banda seria atração da edição de 2015 do Dosol, mas foram obrigados a desmarcar porque o vocalista e guitarrista Tim Bernardes foi diagnosticado com caxumba e teve que ficar 15 dias de repouso. Sendo assim, a apresentação foi adiada em ano. Tempo esse que serviu para o grupo lançar um ótimo disco e vir ainda mais afiados. O público respondeu a espera e cantou a plenos pulmões faixas como “O Cinza”, “Bote ao Contrário”, “Deixa Fugir”, “Lua Cheia”, “Ai, Ai, Como Eu Me Iludo” e tantas outras. Um showzaço que só reforça o status de melhor banda do rock nacional.

Tulipa Ruiz no Festival Dosol
Tulipa Ruiz no Festival Dosol

A dupla de irmãos chilenos Alejandro (cabelo liso) e Alvaro (cabelo cacheado), ou duo Perrosky para dar um ar arrojado, mostrou que consegue dar conta de juntar & misturar folk, blues e rockabilly, em versão econômica com guitarra e bateria, vez em quando uma gaita, é claro. Cantando em espanhol e uniformizados de camisa azul com a palavra perro bordada, nos lembram logo das roupinhas iguais dos Bananas de Pijamas ou talvez seja por escolha da mãe para evitar “arengas” (quem tem irmão/irmã, sabe). Assim como o Chile consegue ter neve e deserto ao mesmo tempo, a banda consegue ser leve e pesada na medida certa. Enquanto Alvaro, da bateria aproveita a malemolência na cabeça e dá vida aos cachos, Alejandro desce do palco e até deixa o público contribuir tocando a guitarra por alguns segundos. Uma pena ter sido vista por poucos, a plateia perdeu uma ótima oportunidade de preparar um coro “Fuera, Temer” para treinar outro idioma.

Em outro palco, mas com força semelhante, estava Tulipa Ruiz. Quem já foi ao show da cantora sabe que ela nunca decepciona. E no Festival Dosol não foi diferente. Com a apresentação baseada principalmente em Dancê, seu disco mais recente, ela conseguiu, de fato, fazer todo mundo bailar. O destaque sempre fica com a performance de “Víbora”. Não importa quantas vezes vejamos a artista cantar essa canção, sempre é de embasbacar. Teatralidade, controle vocal e uma letra de arrepiar. Vale também lembrar que o show teve uma participação muito feliz de Felipe Cordeiro em “Virou”, e d’O Terno em uma versão um tanto atrapalhada de inusitada de “Efêmera”.

Conjunto de Música Jovem Merda no Festival Dosol
Conjunto de Música Jovem Merda no Festival Dosol

Conjunto de Música Jovem Merda – nome que ajuda qualquer pesquisador sobre a produção cultural na pós-modernidade a construir o título de algum artigo – um exemplo de vandalismo ao vivo, com direito à pichação “Merda” no banner do festival (só falta aparecer a reaçada da UFRN querendo apagar o trabalho dos rapazes), som pesado, a certeza de ter algum cidadão tentando emplacar alguma dancinha até ser derrubado no pogo, músicas com letras bem-humoradas e a famigerada roda punk de docinhos. O conselho tutelar não liberou a entrada do menino Crackinho, mas em compensação, a última banda a tocar no domingo, manteve o estilo que a galera gosta: milhares de músicas em uma hora de show. O (des)concerto acabara antes da meia-noite, ajudando bastante na vida dos remanescentes que precisavam estar no ponto para pegar o último ônibus e a não terminarem a noite dormindo em algum banco da praça. O jovem no Brasil é levado a sério, sim.

E assim termina a etapa de Natal do Festival Dosol. Com festa, diversão e um tantinho de nostalgia com a despedida. O menino agora é quase adolescente e vai veranear. Mais do que isso, toma novo fôlego com a brisa do mar, água de côco gelada e o vento soprando na cara. Nós do TMDQA! já estamos separando a roupa de banho. Bora?