Lançamentos

Resenha: Rolling Stones se renova e envelhece no ótimo Blue & Lonesome

Depois de mais de uma década, os Rolling Stones estão de volta com um álbum que celebra a origem do rock e deles mesmos como banda.

The Rolling Stones - Blue and Lonesome

O blues é o pai do rock e o sofrimento é o pai do blues. Nascido dos cantos dos escravos, ele incomodou, mexeu e emocionou pessoas de diversas raças, etnias e gerações. Entre eles, certos garotos ingleses com fama de transgressores: os Rolling Stones. Agora com mais de 50 anos de carreira, eles voltam ao gênero em um impactante novo disco.

“Sou apenas seu tolo, não posso evitar” canta um melancólico Mick Jagger nos primeiros segundos de Blue & Lonesome, primeiro lançamento dos Stones em mais de 10 anos. O álbum começa num susto, num pulo, como se tivesse uma urgência em registrar o que se passava ali dentro daquele estúdio.

O resultado surpreende quando se pensa que aquilo é um disco de covers: um registro cru, forte, guitarreiro e com muito potencial para se tornar um favorito dos fãs na discografia dos Stones. Com 12 canções clássicas do gênero, o disco traz uma emoção que não era sentida há anos na música da banda.

Desde o começo da carreira, o blues é uma das partes mais fortes de seu som. Seja com versões que eles sempre tocam nos shows, seja em clássicos como Let It Bleed, essa raiz do rock sempre foi parte da identidade da banda. Agora, com a produção de Don Was e The Glimmer Twins, os Rolling Stones trazem uma vitalidade enquanto revisitam canções que tocavam na juventude.

Mick Jagger e Keith Richards

As guitarras de Keith Richards e Ron Wood choram em riffs belíssimos cavalgando sobre a cozinha sempre elegante de Charlie Watts. Pensando em primor musical, talvez esse seja um dos registros mais elaborados dos Stones. Eric Clapton surge brilhante nas faixas “Everybody Knows About My Good Thing” e “I Can’t Quit You Baby”.

A voz de Jagger, desgastada pelo tempo, acaba mudando o sentido que as frases tinham. De sofridos relatos de amor, muitas delas soam como vivas canções de experiência. De como o tempo traz autoconhecimento.

Blue & Lonesome é disco essencial para se ouvir e guardar na coleção. O único problema é a sensação de já estar ouvindo essas canções na voz dos Stones desde sempre, não como se fosse uma novidade, e não ter aquele gostinho de imaginar como seria ouvir novas canções autorais dos Stones, como o ótimo single “Doom & Gloom”, de 2012.

Onze anos após A Bigger Bang, ouvimos Mick cantar: “não posso te largar, baby. Então, vou te deixar de lado por um tempo”. Tomara que não seja por mais tanto tempo.

Ouça o disco na íntegra, em sua plataforma favorita, clicando aqui.