Foram mais de 15 anos de espera.
Foram duas turnês canceladas – uma delas faltando apenas dez dias para o show. Assistir ao Sum 41 ao vivo parecia um daqueles sonhos impossíveis de realizar. Há alguns meses, quando a banda anunciou sua vinda ao Brasil, foi um misto de vibração com desconfiança: “será que agora acontece?”. Aconteceu. E foi tudo aquilo que imaginávamos.
Na quinta-feira (8), São Paulo recebeu o segundo show do grupo para os fãs brasileiros. O primeiro foi no dia anterior, em Porto Alegre. Na capital paulista, a apresentação aconteceu dentro do HonorSounds Festival, junto com as bandas Backdrop Falls, La Raza e Strike.
Com um cronograma apertado, praticamente não houve atrasos entre uma banda e outra. Dentro do previsto, a banda cearense Backdrop Falls deu início ao evento.
Matheus Collyer (guitarra e voz), Rafael Neutral (guitarra), Lucas Azeredo (baixo) e Bruno Collyer (bateria) cumpriram muito bem a difícil tarefa de serem os primeiros a tocar. O grupo lançou em março suas primeiras músicas, mas já mostra que tem talento para ir longe.
“My Own Remains” e “There’s No Such Place Called Home” abriram o show, seguidas por “Flesh And Bones”. Matheus trocou algumas palavras com a plateia, que ainda não era muito volumosa, mas foi muito receptiva com a banda e curtiu o som. “Feast Of The Crown” e “6:00 AM” vieram na sequência. Som bem trabalhado e de qualidade. Musicalmente, a melhor banda entre as atrações de abertura.
“Before We Hit The Ground” encerrou a apresentação e a banda deixou o palco sendo muito aplaudidos por todos que estavam presentes.
Após uma rápida mudança no palco, era a vez do La Raza entrar em cena. Alex Panda (vocal), Rafael Bombeck (guitarra), Juninho (baixo), Thiago Matricardi (bateria) e Daimon (DJ) fazem um som diversificado, que traz para o rock influências do rap e hip-hop.
Depois de uma Intro, Alex convocou o público para agitar. E funcionou! Logo de cara, com “Bem Vindos a La Raza”, a galera da pista entrou na vibe da banda e foi super participativa. A presença de palco do vocalista fez com que tudo fosse uma grande festa: “Show de hardcore sem roda, não é show de hardcore”, afirmou. Logo em seguida, uma roda se abriu. Ainda que pequena, deixou mais animada a performance de “O Dia Em Que O Pai Chorou”.
“Na Contra Partida” antecedeu, “/quem?”, que colocou o pessoal da pista para pular. Após um trecho de “Sabotage”, do Beastie Boys, a apresentação foi muito bem finalizada com “Caos da Paz” e “Cai Dentro”. “Obrigado por receber a gente tão bem!”, agradeceu Alex.
Realmente, o público do Sum 41 foi um dos mais participativos com atrações de abertura que eu já vi. Mesmo não sabendo as músicas, fazia questão de interagir. Com o Strike foi ainda mais evidente, já que a banda preparou um setlist com suas principais músicas e (quase) todo mundo conhecia.
Marcelo Mancini (vocal), André Maini (guitarra), Rodrigo Maciel (guitarra), Leo Pinotti (baixo) e Bruno Graveto (bateria) começaram seu show com “Dogtown Style”. De cara já tinha roda na pista, muitas palmas e geral cantando junto. Era como se muitos estivessem ali pelo Strike. “Dedico essa música a todas as bandas coloridas que cagaram a cena”, disse Marcelo ao anunciar “A Tendência”. Todos sabemos que não foram grupos como Restart e Cine que cagaram a cena, e falar mal deles é cometer o mesmo erro das bandas antigas que têm essa opinião a respeito do Strike. Bola fora.
A empolgação na pista aumentou com “O Teu Olhar”. Depois, a banda convidou Alex e Juninho do La Raza para fazerem uma participação. Juntos eles cantaram “Dias de Luta, Dias de Glória”, do Charlie Brown Jr. A essa hora, a casa já estava cheia e o coro do público foi grande. Marcelo ainda puxou trechos de “Papo Reto”, “Proibida Pra Mim” e “Te Levar” – todas do Charlie Brown.
Ao falar sobre política o vocalista colocou Temer, Dilma e Lula no mesmo pacote e mandou que eles tomassem naquele lugar. Para o rolê underground onde estamos acostumados a discussões com substância, foi um tanto quanto bizarro. Roger Moreira e Lobão parecem estar fazendo escola.
Já quando o Strike começou “Aquela História”, o show foi interrompido por causa de uma briga perto da grade. Depois de um sermão do Marcelo e tudo normalizado, o mosh tomou conta das duas pistas. O clima ficou ainda mais animado com “O Jogo Virou” e todos cantando e pulando com a banda.
Ao anunciar “Fluxo Perfeito”, o vocalista disse que a música era dedicada às mulheres, pediu que elas dançassem e brincou inadequadamente que “quem fosse esperto se daria bem”. Ele ainda agradeceu bastante aos presentes, à organização e mencionou ser fã de Sum 41 – o que explica a “referência” a “Walking Disaster” em “Pecado Predileto”.
A sequência final contou com “No Veneno” e “Paraíso Proibido”. Plateia cantando muito alto e agitando muito. Se pecou nos discursos, o Strike acertou muito em fazer com que um show de abertura tivesse a vibe de um show principal.
E chegava o momento tão aguardado da noite. A ansiedade era grande. O Tropical Butantã estava completamente lotado. Em pouco minutos, finalmente estaríamos frente a frente ao Sum 41.
Com uma intro, Deryck Whibley (vocal e guitarra), Dave “Borownsound” Baksh (guitarra), Tom Thacker (guitarra), Jason “Cone” McCaslin (baixo) e Frank Zummo (bateria) subiram ao palco ovacionados. A espera havia acabado. Estava acontecendo.
Completando 20 anos de carreira em 2016, a banda está em turnê para divulgar seu novo disco, 13 Voices. O trabalho marca o retorno do grupo após um hiato, que inclui problemas de saúde de Deryck e a volta de Dave depois de dez anos afastado.
“The Hell Song” e “Over My Head (Better Off Dead)”, que abrem o segundo disco, Does This Look Infected?, também abriram o show. Melhor maneira de começar um set, já levando o público à loucura, cantando muito alto e se jogando nas rodas que se abriram nas duas pistas.
Depois de uma sequência de clássicos, uma sequência de músicas novas. “Fake My Own Death” e “Goddamm I’m Dead Again”, do último álbum, já estavam na ponta da língua dos fãs, que seguiam incansáveis no mosh da pista.
Deryck fazia questão de sempre falar com o público, agradecer e incentivar as rodas. Também falou sobre a volta de Dave e sobre ser o primeiro show da banda em São Paulo. “A próxima música é uma música para pular”, avisou antes de dar início a “Underclass Hero”, obviamente acompanhada de muito pulo dos fãs.
Os integrantes estavam sempre o mais próximo possível da plateia, cantando olho no olho, acenando, posando para fotos, convocando a galera para mais. Palhetas foram jogadas aos montes. Dave, que era o mais próximo ao camarote, interagia o todo tempo com quem estava ali. Era uma festa completa!
Em seguida, vieram “Screaming Bloody Murder”, única faixa do disco que leva esse mesmo nome a aparecer no repertório, e “There Will Be Blood”. Apesar do 13 Voices predominar em relação aos outros álbuns, todos os trabalhos do Sum 41 marcaram presença na apresentação.
“War” foi dedicada a todos os presentes, após mais agradecimentos por parte do vocalista. A banda estava tão empolgada quanto os fãs, o que deixava tudo ainda melhor. E teve mais roda insana em “Motivation”, um dos momentos de destaque da noite.
Deryck brincou que Dave era o rei dos riffs e que poderia tocar qualquer coisa que quisesse: o guitarrista escolheu “Paranoid”, do Black Sabbath. A banda o acompanhou e em seguida Deryck pediu que ele tocasse algo do Sum 41. O grupo deu início à faixa instrumental “Grab The Devil By The Horns And Fuck Him Up The Ass”, do seu EP de estreia, que contou até com coreografia dos integrantes.
“We’re All To Blame” foi outra música a proporcionar um dos pontos altos da noite. Com o bate cabeça e uma roda muito grande, ainda teve deixa para os fãs cantarem, aos berros. “Walking Disaster” seguiu com muita participação dos presentes e o momento mais bonito do show aconteceu com “With Me”, cantada em uníssono por todos. Emocionante!
Depois de “God Save Us All (Death To POP)”, os integrantes deixaram o palco ser comandado por Frank e um belo solo de bateria. Com todos de volta, foi a vez de “No Reason”, que abriu caminho para um versão bastante autêntica de Queen, com “We Will Rock You”. Ainda mais rápida que a gravação alternativa desse clássico, a música se encaixou muito bem no show. Todos cantaram e vibraram junto com a banda. “Eu amo vocês. Vocês me amam?”, perguntou Deryck, como sempre faz nesse momento da apresentação.
“Still Waiting” teve o o seu começo apenas pelas vozes dos fãs, seguido de pancadaria na pista, que aumentou ainda mais com o hit “In Too Deep”. Pista caótica, todos dando tudo de si, mas infelizmente o show caminhava para o fim.
O grupo saiu de cena e, enquanto não voltava, gritos de “vamos, vamos, Chape” ecoavam pela casa, como homenagem ao time da Chapecoense que sofreu recentemente um acidente de avião. Depois, os gritos de “Sum 41! Sum 41!” dominaram o Tropical Butantã pedindo o retorno da banda.
E o bis veio com “Pieces”, cantada a uma só voz por todos, “Makes No Difference”, primeiro single da banda, e “Fat Lip”, mas um clássico que não poderia ficar de fora e embalou os últimos minutos de caos generalizado.
Se as expectativas para esse show eram enormes, a satisfação foi ainda maior. Valeu a pena esperar tanto tempo! Por motivos óbvios, muita coisa ainda ficou de fora do repertório, mas não há do que reclamar, apenas agradecer.
Fica a expectativa de que possamos presenciar tudo isso novamente. O Sum 41 mostrou que ainda tem muito gás para seguir em frente e continua forte. Foi uma noite memorável e de lavar a alma.