A banda Trampa foi ao Canadá e nos contou como foi em um diário de bordo

Veja como foi a viagem da banda brasiliense de rock Trampa, que foi ao Canadá e fez muito barulho com seu último disco, lançado em 2016.

Trampa no Canadá

Fotos por Thaís Mallon

Os brasilienses da banda Trampa lançaram um disco chamado ¡Viva La Evolución! em 2016 e o ano não foi marcado apenas pelo álbum para eles.

O grupo também excursionou pelo Canadá e se apresentou ao lado de bandas locais, bem como de Estados Unidos e México.

O grupo nos manteve atualizado de tudo que rolou por lá com fotos e um diário de bordo, e você pode ler logo abaixo, através do vocalista André Noblat.

Após o relato da viagem, conheça o som dos caras baseado em grandes riffs de guitarra e letras que provocam o ouvinte.

Dia 1 – Primeira impressão é a que fica

Trampa no Canadá
O Canadá começou em Natal (RN)
Saída de Brasília no dia 11 de novembro com roupas de frio e calor.
Dois shows no festival DoSol + três horas de viagem entre Natal e Sampa + dez horas em Guarulhos na espera do voo da Air Canada + uma hora para o baterista do Trampa, Arnoldo Ravizzini ser liberado pela imigração.
É manhã do dia 15 de novembro e finalmente chegamos em Toronto.
Primeiras fotos para registrar a chegada são feitas na rua dos fundos do pequeno hotel no qual nos hospedamos.
Descanso para alguns, outros mais ansiosos batem perna pela cidade. Aliás que cidade foda!

Noite
Festa de lançamento do Festival Indieweek. Mais de 200 bandas de várias partes do mundo estarão na ativa e se apresentarão em 20 casas de show espalhadas pela cidade.
Somos os únicos artistas brasileiros e estamos com quatro shows confirmados em seis dias de estadia.
Tiramos fotos com o mascote do patrocinador do evento e voltamos no hotel. Temos que pegar o equipamento pois em algumas horas estaremos no palco.
O After Party da abertura do festival acontece no Bovine Sex Club, casa que movimenta a cena de Toronto há mais de 25 anos.
Serão apenas cinco shows nesse dia e estamos no line up.
Entraremos no palco às duas da manhã para fechar a noite.

Madrugada
Dono da casa de show presente!
Curador do Festival presente!
Darryl, dono do Festival, também!
Chegamos ao Bovine em tempo de assistir duas bandas antes de subirmos no palco. A local Blackie Jacket Jr, que faz um Country bem divertido. E Silvestre, que, diretamente do México, mistura rock com música tradicional de seu país.
Silvestre ainda no Palco e Pedro, baixista do Trampa, se preocupa: “nosso som é pesado demais, vamos expulsar todo mundo daqui”.
2h da manhã em ponto estamos no palco.
45 minutos depois estamos com o dono do Bovine Sex Club. “Trabalho há 25 anos aqui e esse é um dos melhores shows que já vi nesse palco”.
Cruzamos com o Curador: “Awesome man! Great Set!”
E finalmente esbarramos com Darryl, dono do festival: “Foi espetacular. Sabia que o show seria ótimo só de ver o material de vocês antes de convidá-los”
Desde então Darryl esteve presente em todas as nossas outras apresentações.
Missão cumprida. Primeiro show foi pra conta. Cantamos em português e a receptividade do público, organizadores e outros artistas foi maravilhosa.
Não expulsamos ninguém da casa, como temia Pedro. Pelo contrário!
Agora temos segurança de que essa viagem pode ser melhor do que esperávamos.

Dia 2 – Voz!!!!! Não, não vá embora! (16/11)

Trampa no CanadáDia livre. O único.
Nem faz tanto frio como imaginávamos. Cerca de sete graus e temos sol!
Toronto é uma cidade receptiva.
Povo simpático e muito civilizado.
A maconha é liberada e existem dezenas de lojas que vendem a erva espalhadas pela cidade.
Literalmente andamos pela cidade enquanto nosso guitarrista, Rodrigo Vegetal, participa de todos os painéis e palestras do festival.
Durante o período da manhã e da tarde, em um hotel no centro de Toronto, produtores, músicos e profissionais da indústria musical trocavam contatos e experiências em rodadas de negócios, oficinas de produção e palestras. Vegetal esteve presente em quase todas.
Final do dia, pizzaria, bares. Esfria um pouco.
André Noblat, vocalista do Trampa, junto com David Murad e Thais Mallon, diretor e fotógrafa do documentário que está sendo gravado sobre a tour no Canadá, assistem ao Toronto Raptors, time local de basquete, ser derrotado pelo Golden State Warriors, um das melhores equipes da NBA.
Ao sair do ginásio, na volta pra o hotel, a voz de André começa a sumir!
PQP!

Dia 3 – Ufa! (17/11)

Trampa no CanadáHoje tem show, o segundo. A casa se chama Mod Club, uma das maiores e mais importantes de Toronto.
Trampa abre a noite que contará com a apresentação da Finger Eleven, banda canadense de New Metal que fez bastante sucesso no início do anos 2000.
André acorda com a voz bem debilitada, sai pra almoçar e volta pro hotel.
Precisa ficar sem falar, o que pra ele é um esforço gigantesco. Só quebra o silêncio para fazer exercícios vocais. Precisa tentar salvar o show que começa às 21h30.
Enquanto isso, Vegetal segue nos painéis e a banda espalhada por Toronto.
21h30 em ponto somos chamados para o palco. A voz não parece bem.
Darryl, o dono do festival, está na plateia de novo.
O show começa tenso pois ninguém sabe se a voz segura.
André se poupa, segura nas notas mais altas, encurta algumas melodias.
Quarta música. Percebemos que vamos sobreviver e nos soltamos de vez! UFA!
Show um pouco mais burocrático devido aos problemas com o vocalista, mas funcionou.
Público respondeu muito bem novamente.
De quebra, conhecemos uma banda espetacular que tocou após o nosso show: Sumo Cyco!
Enquanto toda banda permanecia para curtir, o vocalista volta pro hotel.
Temos show no dia seguinte e a voz precisa existir.

Dia 4 – Ganhamos o que? (18/11)

Trampa no CanadáHoje tem Bovine Sex Club de novo. Dessa vez somos a terceira banda. Subiremos ao palco às 22h.
A temperatura cai. Toronto nos apresenta a neve.
Rafael Maranhão, guitarrista, é atacado com bolas de neve por crianças canadenses.
O frio literalmente machuca.
Durante o dia a rotina de turista é mantida por quase todos.
Vegetal segue nos painéis e André no hotel para cuidar da voz.
21h chegamos na casa de show.
Descobrimos que existe um júri que avaliará as bandas da noite, mas achamos que é para bandas canadenses.
Com a voz mais segura esse show é bem mais divertido.
Setlist pesado, público batendo a cabeça com a gente e elogios ao final do show.
É madrugada quando a última banda termina de tocar. Nos preparamos para ir embora quando somos surpreendidos pela organização do festival.
Ele anunciam que a noite tem uma apresentação vencedora e foi a nossa.
E ganhamos o quê? Descobrimos que eles selecionaram 16 das 200 bandas para mais um show especial com os destaques do festival. Na real fomos pegos de surpresa, mas ficamos bem felizes de poder fazer mais uma apresentação antes de retornarmos.

Dia 5 – Parecia que eu tinha cheirado cocaína! (19/11)

Trampa no CanadáÚltimo dia de shows. No plural, porque agora são dois. Tocaremos no Mod Club às 21h30, no show dos vencedores, e no Cherry Cola’s às 3h.
A neve continua a cair e a temperatura também.
Tentamos subir na CN Tower, um dos principais pontos turísticos do Canadá.
O mirante da torre permite que você veja toda a cidade, mas com o tempo ruim e a visibilidade baixa acabamos desistindo na entrada.
Acabamos passando o dia na base da cerveja e só!
As preocupações já tinham acabado, com voz, turismo e neve. Faltavam dois shows e estávamos ansiosos por eles.
De novo no Mod Club fizemos nossa primeira apresentação da noite. Muito legal, novamente.
A sequência de três shows já realizados nos deixou bastantes tranquilos quanto a receptividade do público ao rock em português.
Não tivemos tempo de ver as outras bandas. Tínhamos mais uma gig.
Seguimos para o hotel e do hotel para o Cherry Cola onde tivemos o prazer de encontrar Lauren, uma fã de Brasília que mora nos EUA há dois anos e pegou 120 Km de estrada só para nos ver.
A casa do último show é a menor mas uma das mais bonitas.
Felizes e surpresos mais uma vez com a presença do dono do festival e do curador do Indieweek em nosso show.
Antes de subirmos no palco assistimos aos amigos mexicanos do Silvestre mais uma vez.
Subimos para montagem.
Técnico de som mal humorado, meio grosseiro. Está cansado, já fez oito bandas na noite.
Estamos felizes e isso não incomoda.
O palco é muito pequeno, quase não conseguimos nos mexer durante o show. É um dos mais intensos dos cinco que fizemos.
É nossa despedida e queremos que ela seja marcante.
A apresentação é novamente bastante elogiada.
Ajudamos o técnico mal humorado a desmontar o palco.
“Primeiro queria pedir desculpas pela chatice”, ele diz.
“Estou cansado, vocês foram a nona banda do dia”, explicou.
“Mas quando começaram a tocar parecia que eu tinha cheirado cocaína. Foi um choque, porrada, muito bom”, elogiou.
Com certeza um dos elogios mais sinceros e divertidos que já recebemos.
Missão cumprida, chocolate quente com menta do Tim Horton’s antes de dormir.
Foram 5 shows em cinco dias.
O sexto é de descanso e curtição na festa de encerramento.
Valeu demais!

Epílogo

Trampa no CanadáÚltimo dia de Canadá.
Uma foto especial para eternizar a viagem num painel no centro de Toronto no meio do vento, frio e neve.
Festa de encerramento no Bovine Sex Club. Karaoke com banda ao vivo.
Todos que nos encontram, artistas, equipe e produtores do festival, repetem os elogios.
Alguns nos cumprimentam com socos no peito, imitando nosso vocalista que faz isso durante os shows.
Saldo mais que positivo. Oportunidades na Europa, México, Canadá e EUA já na pauta como consequência de todo esse rolê
Voltamos apaixonados pela cena, pelo festival, pela cidade e pelo povo!
Quem sabe não voltamos ano que vem.