Chuck Hipólitho é um dos caras mais prolíficos do rock and roll brasileiro há algum tempo, tendo atuado com as Vespas Mandarinas, Forgotten Boys e produzido uma série de discos em seu estúdio, o Costella.
No último ano, porém, ele havia sumido e apareceu recentemente por aqui com a notícia de que está voltando à banda de hard rock onde se popularizou como guitarrista, mas agora na bateria.
Além disso, Chuck acabou de lançar um EP chamado Namastê Yeah, todo gravado no iPhone, e conversamos com ele também a respeito do futuro das Vespas Mandarinas.
Você pode ler a entrevista exclusiva do TMDQA! com Chuck Hipólitho logo abaixo.
TMDQA!: Você está lançando, finalmente um registro solo com duas faixas e seu próprio nome, sem uma banda. Para alguém que tem um estúdio, sempre pareceu bastante natural, mas você parece ter invertido a ordem das coisas e gravou tudo em um iPhone. Como surgiu a ideia do trabalho e como foi a execução dele?
Chuck: Eu me distanciei um pouco do estúdio e da música no começo do ano por causa de uma crise que eu passei. Quando eu comecei a voltar a ouvir música de novo meus hábitos mudaram. Eu ouvia mais música pelo telefone, vendi todos os meus discos, aí comecei a ouvir gravações que eu tinha feito no passado, de lembretes, sabe? E comecei a gostar da textura lo-fi do microfone do iPhone. Comecei a gravar demos, baixei um app multi-pista e fui experimentando, até que vi que estava com algumas músicas e resolvi assumir a textura. Me inspirei bastante no Daniel Johnston; é mais livre gravar em casa, sozinho, a qualquer hora, em qualquer lugar. O disco Crush Songs da Karen O também me inspirou bastante, e quando eu estava com duas músicas prontas, resolvi lançar. Não tem a pretensão de ser um trampo sério, mas são músicas que sintetizam bastantes coisas que eu andei ruminando nesses tempos. Pra você ter uma ideia, as músicas foram mixadas enquanto eu dava rolê de ônibus pela cidade.
TMDQA!: A temática de Namastê Yeah parece vir de alguém que está observando tudo enquanto o mundo implode nesse famoso “2016 por favor acabe logo”. Foi mais ou menos isso? As gravações vieram como resposta de todas as discussões nas redes sociais e a polarização entre “coxinhas” e “petralhas”?
Chuck: Um pouco, mas não se limita a isso. O mundo ocidental tá experimentando uma fase bem ruim de polaridades. Enquanto um equilíbrio não acontece, muita gente sofre e pouquíssimos enchem o bolso. O resultado é muito preconceito, intolerância, burrice; as vozes de “Fila Do Pão” eu gravei enquanto a Dilma era interrogada no processo de impeachment, dá até pra ouvir a TV ligada ao fundo. É sobre não se reconhecer no próximo apesar de respirarmos o mesmo oxigênio. Fase triste. “Gente do Século 20” é uma versão de um grupo espanhol. Fala sobre a nossa geração que nasceu pra limpar a sujeira e renovar as coisas mas hoje se vê escravizada pelo sistema. Mas as letras são leves e quase infantis. Foi intencional.
TMDQA!: Há algum tipo de projeto para lançar novas músicas nesse formato no futuro ou é o tipo da coisa que surge naturalmente sem muitas expectativas?
Chuck: Nenhum projeto. O que vier e achar legal eu lançarei. Tenho nome pro próximo já, e algumas músicas, devagar sai. Mas tô curtindo muito colocar as coisas nas plataformas, fazer a capinha, essas coisas. Coloco meu amor nisso, me distraio e exercito a mente e o coração.
TMDQA!: Recentemente o Forgotten Boys anunciou o retorno às atividades com nova formação e você está na bateria. Como foi que isso tudo aconteceu? Quais são os planos para 2017 com a banda em que você tocou guitarra e cantou por tanto tempo?
Chuck: Pra quebrar um galho cheguei a fazer o show de lançamento do Taste It quando o Flávio saiu. Fiz o show como baterista e na sequência entrou o Carioca na banda e fomos cada um para um lado. Eu queria voltar a tocar bateria pra me reconectar ao meu primeiro instrumento, fazia parte do meu processo de terapia. Encontrei com o Gustavo e combinamos de experimentar fazer umas músicas novas; no ensaio tocamos as antigas e resolvemos fazer um show. Foi rolando. Mas queremos fazer mais músicas, quem sabe um disco, uma turnê… o primeiro show foi foda. Vai ser legar cair na estrada com eles.
TMDQA!: Quando o Misfits se reuniu para shows no Riot Fest, os desafetos Jerry Only e Danzig disseram que foram influenciados pelas recentes mortes no rock. Outro aspecto que também motivou reuniões mundo afora foi o retorno de bandas como o Guns N’ Roses com sua formação clássica. Houve algum tipo de pensamento nesse sentido com o Forgotten Boys? Algo do tipo “a gente só vive uma vez, se divertia, e deveria fazer isso de novo”?
Chuck: Olha, nos dois casos acima além de reatar algumas amizades e deixar o passado para trás tem bastante dinheiro envolvido. Não dá pra esquecer isso, e no caso do Forgotten não existe essa grana rolando, então é mais pelo prazer pessoal de todo mundo mesmo. É mais honesto, talvez. É muito bom tocar com eles e estar lá atrás. Descarrego bastante coisa tocando com eles, dou bastante porrada, é gostoso e eu andava precisando. Mas que bom que Misfits, GnR e Forgotten Boys estão de volta <3
TMDQA!: E as Vespas Mandarinas? Como anda a banda e quais são os planos para o futuro?
Chuck: Vespa não anda né? Vespa voa! Aliás, o disco novo se chama Daqui Pro Futuro e sai no segundo semestre do ano que vem. Tá praticamente mixado, estamos em processo de aprovar as mixes com o Rafael Ramos, que tá mixando. Foi produzido pelo Rafa, o Kuaker e o Thadeu durante esse ano todo praticamente. O disco tá bem legal, reflexivo, dinâmico e pop… tanto eu como Thadeu fizemos muitas coisas diferentes esse ano. Cada um pro seu lado. Mas eu e o Thadeu não fazemos a menor ideia de como as coisas vão ser daqui pro futuro.
TMDQA!: Por fim, quais foram os 5 melhores discos nacionais e os 5 melhores discos internacionais de 2016 na sua opinião?
Chuck: Não tenho condições de fazer uma lista dessa, ouvi música de um jeito bem peculiar esse ano. Curti muito o novo do Peter, Bjorn & John, tava esperando esse disco bastante. O novo dos Chili Peppers curti, umas músicas do Drake, Rae Sremmurd… adorei quando saiu “Malandramente”, aquela versão da Rihanna pro Tame Impala (chapei nessa). O disco mais legal que ouvi esse ano saiu bem no meio de 2016 e conheci recentemente: é o Wildflower do The Avalanches [que está em nossa lista com os 50 melhores discos internacionais de 2016]. Que disco. Dei uma mergulhada forte no Nirvana esse ano, e ouvi bastante Caetano por tabela na casa da minha namorada. Tem também o Sleaford Mods, tá ligado? Nesses eu pirei muito. Certeza que eu tô esquecendo de muita coisa.
Podcast
Em tempo, Chuck está com um novo podcast no Spotify onde comenta três de suas descobertas da semana e convida um amigo para falar de mais uma canção.
Você pode ouvir logo abaixo e seguir a playlist do programa na plataforma para receber atualizações de cada episódio.