A música brasileira é algo espetacular.
Bebendo de diversas fontes, as bandas e artistas daqui têm cada vez mais explorado novas sonoridades e derrubado barreiras quando começam a escrever suas canções e discos, permitindo que o resultado final seja baseado em diferentes traços que transformam composições retas e diretas em linhas curvas e cheias de inspiração.
A gente já falou por aqui e vai repetir: se você não está prestando atenção na música brasileira, deveria. Do Punk Rock à MPB, do Hip Hop à música eletrônica e na mistura de tudo isso, estamos passando por uma das melhores fases culturais do país em décadas, e tem de tudo um pouco para satisfazer o seu gosto.
Separamos os 50 discos que entendemos que sejam os mais competentes do Brasil no ano, mas poderíamos facilmente criar uma lista com 100, 150, 200 ou mais, com tudo que falamos sobre música nacional em 2016.
Veja a lista logo abaixo e divirta-se!
Textos por Matheus Anderle, Guilherme Guedes e Tony Aiex
50 – Tiregrito – Laço Forte
A banda paranaense surgiu com um bom EP de estreia antes de lançar em 2016 seu primeiro disco cheio, Laço Forte.
Aqui, o Tiregrito mistura country, música regional e muito rock and roll de forma bastante interessante, lembrando até mesmo uma trilha de filme em alguns momentos.
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49 – Zumbis do Espaço – Em Uma Missão de Satanás
Para o povo que gosta de uma pegada mais pesada, o Zumbis do Espaço toca um punk extremamente enérgico. Com claras influências do horror punk dos Estados Unidos em bandas como Misfits, diversos pontos de Em Uma Missão de Satanás lembram grandes bandas do estilo e de outros mais abrangentes, como o Social Distortion.
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48 – Mayam – Oito
8 é o segundo trabalho do cantor carioca Mayam. Enraizado no espírito da nova MPB e com toques do rock alternativo, o disco conta com oito grandes faixas e uma participação especial da cantora Maria Gadú.
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47 – Hateen – Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui
O Hateen lançou esse ano o disco Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui, seu primeiro álbum em cinco anos. Sem perder a mão, o grupo transmitiu diversos sentimentos através de doze faixas sólidas, todas muito bem compostas com lindas melodias e arranjos.
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46 – Trampa – ¡Viva La Evolución!
Trampa é mais uma boa banda de rock que vem de Brasília e em seu novo disco de estúdio o grupo mostra 10 porradas orientadas a grandes riffs de guitarra e letras em Português.
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45 – Barro – Miocardio
Miocardio, o primeiro álbum de estúdio do projeto Barro, é uma grande afirmação de Filipe Barros como músico. Passeando pelo indie, pelo pop e pela eletrônica, o disco contém lindas melodias – e letras ainda melhores.
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44 – RATS – Por Terra, Céu e Mar
Por Terra, Céu e Mar é mais uma prova da grande diversidade sonora presente na nova geração da música brasileira. Por fora, o disco pode ser reduzido a um simples álbum punk. Por dentro, as influências buscadas da música irlandesa fazem do RATS um grupo extremamente gratificante de se ouvir. É um som renovador e divertido.
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43 – Same Flann Choice – Saber o Caminho é Diferente de Percorrer
Santos é provavelmente a maior fonte de grandes bandas de hardcore no país atualmente. O Same Flann Choice não é exceção: para seu novo álbum, o grupo compôs onze faixas muito honestas e cheias de energia.
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42 – Blind For Giant – Plants & Fishes
O Blind For Giant demorou quatro anos para lançar seu primeiro álbum, mas a espera valeu a pena. Com influências (declaradas) de bandas como Queens of the Stone Age e Rage Against the Machine, o disco Plants & Fishes é uma ótima pedida para aqueles que buscam o rock cru, bruto e implacável.
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41 – Liniker e os Caramelows – Remonta
Remonta é o disco de estreia de Liniker, fenômeno da internet que se tornou um dos símbolos do debate sobre gênero no Brasil. As canções de raiz pop, cercadas por timbres e estruturas da MPB radiofônica, foram tingidas de soul music em Remonta, que traz canções inéditas ao lado de regravações de sucessos como “Zero”.
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40 – Autoramas – O Futuro dos Autoramas
O Autoramas, em seu sétimo álbum, demonstra tudo de bom que o rock nacional tem a oferecer. Soando muito polido e direto, O Futuro dos Autoramas é um novo passo para o grupo, marcado pela sua nova formação e, de certa forma, identidade.
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39 – Bayside Kings – Resistance
O novo disco do Bayside Kings pode ser curto, mas seus 20 minutos não faltam com energia por um segundo. Todas as músicas em Resistance têm arranjos bem diversificados, com estruturas muito bem trabalhadas e sempre agitadíssimas, tornando o disco um dos destaques do hardcore nacional em 2016.
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38 – Zander – Flamboyant
Se você conhece o Zander, já deve saber do estilo dos caras. E apesar de não estarem muito preocupados em se reinventar, o novo álbum do grupo mostra que eles ainda têm muito gás pra queimar, apresentando uma série de faixas para os amantes de rock and roll e hardcore melódico.
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37 – Vitor Araújo – Levaguiã Terê
Em um disco extremamente denso, o músico Vitor Araújo recompensa os ouvintes pacientes, minuciosos. Levaguiã Terê apresenta uma composição sonora cuidadosa, sutil e altamente gratificante, afirmando sua posição como um dos destaques da música experimental nacional.
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36 – Fetuttines – Impossível Só
O Fetuttines, grupo formado por Anderson Foca (Camarones Orquestra Guitarrística) e Luiz Gadelha (Talma & Gadelha), mergulhou nas influências eletrônicas com seu novo álbum, mas sem perder a identidade brasileira. Impossível Só é um registro muito agradável, daqueles para relaxar, apreciar e entender com o tempo.
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35 – Godasadog – Escorpião
Em Escorpião, seu segundo álbum de estúdio, o duo Godasadog demonstra um estilo eletrônico minimalista, que aliado a algumas das melhores letras do ano tornam o resultado final um álbum quieto, calculado – mas notável.
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34 – Sarina – Ela
Em seu segundo álbum de estúdio, o Sarina mostra um trabalho polido, muito bem montado. Apesar da predominância do rock, algumas faixas contam com influências da música nordestina, terra natal de alguns membros do grupo.
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33 – Supercombo – Rogério
Com Rogério, o Supercombo flerta com várias vertentes sonoras, utilizando elementos de gêneros como o rock, o pop e até mesmo o rap para compor um conjunto de faixas gratificantes. Para compor seu novo disco, o grupo se aliou a vários destaques do novo cenário do rock brasileiro, como Emmily Barreto (Far From Alaska), Gustavo Bertoni (Scalene), Medulla e muitos outros.
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32 – Rico Dalasam – Orgunga
Poucas pessoas no Brasil fazem o que Rico Dalasam faz. Em Orgunga, seu primeiro álbum de estúdio, o rapper trafega pelos temas característicos do hip-hop, mas também abraça sua identidade de forma ousada, sendo um dos pioneiros do queer rap no Brasil.
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31 – Vinyl Laranja – Unchangeable Past, Fleeting Future
O novo disco da banda paraense Vinyl Laranja é resultado de um trabalho como uma banda que morava junto, dormia junto, se ferrava junto e resolveu gravar nos Estados Unidos.
Unchangeable Past, Fleeting Future surpreende com seu rockão e tem mixagem e produção parcial de Kevin Szymanski, que já trabalhou com nomes como Queens Of The Stone Age e Foo Fighters.
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30 – Muñoz – Smokestack
Com muitas guitarras, canções originais e versões para Black Sabbath e Deep Purple, o duo Muñoz voltou a impressionar mais uma vez com sua mistura de blues/rock, metal e hard rock bastante própria.
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29 – Xóõ – Xóõ
O Xóõ é uma espécie de supergrupo da cena alternativa nacional. Larissa Conforto, Gabriel Ventura e Hugo Noguchi (Ventre) se uniram a Bruno Schulz (Cícero), Felipe Ventura e Cairê Rego (Baleia) para musicar as composições verborrágicas de Vitor Brauer (Lupe de Lupe). Em seu primeiro álbum, os universos distintos dos integrantes se chocam em canções tensas e refinadas.
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28 – Hover – Never Trust The Weather
Conhecido há até pouco tempo apenas por quem acompanhava a cena independente do Rio de Janeiro com mais atenção, o Hover reuniu influências de várias vertentes do rock alternativo em Never Trust the Weather, disco de estreia do quinteto que passeia com maestria entre o post-hardcore e vertentes mais modernas e melódicas do metal.
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27 – Mahmundi – Mahmundi
Depois de anos e anos de espera, Mahmundi finalmente lançou seu álbum homônimo de estreia, uma verdadeira pérola do pop alternativo tão quente e interessante quanto a sua bela capa. Os timbres oitentistas ainda prevalecem, agora refinados por arranjos mais cuidadosos e melhor executados que nos EPs que conhecíamos até aqui.
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26 – Chapa Mamba – Remoto
Ainda um segredo bem guardado da cena alternativa (infelizmente), o Chapa Mamba decidiu explorar as possibilidades instrumentais do eclético rock lo-fi do projeto em Remoto, quarto álbum da carreira. A ausência de vocais na maioria das faixas permite que se dê mais atenção à criatividade de Stêvz, centro criativo do grupo, como arranjador.
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25 – Negro Léo – Água Batizada
Em Água Batizada, Negro Léo oferece um casamento sólido entre a experimentação e a canção, realizando um trabalho ousado e criativo como seus últimos álbuns – Ilhas de Calor (2014) e Niños Heroes (2015) – mas capaz de criar conexões mais profundas com o ouvinte, e por caminhos mais simples.
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24 – MC Carol – Bandida
Bandida é o disco de estreia da ótima e direta funkeira MC Carol, que contou com nomes como Leo Justi, Karol Conka e Tropkillaz para mandar ver em canções explícitas sobre os mais variados temas, desde feminismo até política.
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23 – Fresno – A Sinfonia de Tudo que Há
O novo disco do Fresno é sensacional. Extremamente bem composto, com arranjos e melodias cuidadosamente planejadas, A Sinfonia de Tudo Que Há faz jus ao nome: são orquestras intercaladas, ritmos triunfais e até mesmo uma ótima colaboração com o incrível Caetano Veloso.
Em seu novo trabalho, a banda apresentou uma boa dose do seu som característico, mas ao mesmo tempo demonstra uma maturidade que até então parecia adormecida.
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22 – Trem Fantasma – Lapso
Na onda psicodélica que varre o mundo todo, os curitibanos da banda Trem Fantasma souberam fazer, em Lapso, um disco conciso de nove canções, 34 minutos, viagens na medida e muita inspiração em Paulo Leminski.
O álbum foi co-produzido por Beto Bruno, da Cachorro Grande, que também emprestou Pedro Pelotas para uma das canções.
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21 – Beto Mejía – Wahyoob
Beto Mejía, ex-integrante da banda Móveis Coloniais de Acajú, lançou em 2016 um novo disco de estúdio chamado Wahyoob e nele trouxe 12 canções cheias de grandes arranjos, belos vocais, temas divertidos e participações de André Whoong e Victor Meira.
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20 – Varney – Fantasma
A banda fluminense Varney já havia dado bons sinais de que lançaria material interessante com um EP, e em seu disco de estreia, Fantasma, confirmou as expectativas.
Com rock em Português, caminha por diversas influências que vão do Queens Of The Stone Age ao Nine Inch Nails em canções bastante próprias, acessíveis e conceituais ao mesmo tempo.
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19 – Labirinto – Gehenna
Gehenna é um dos grandes álbuns de música pesada do ano, criado no embalo do crescente prestígio internacional do Labirinto. Se a estreia com Anathema (2010) expunha com clareza as influências do grupo, Gehenna dá vigor e identidade ao som da banda.
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18 – Colaterall – Rinha
Em Rinha, a banda paranaense de hardcore Colaterall soube tanto falar de política quanto homenagear e brincar com as suas origens através de canções rápidas e uma versão da divertida “Ted Holiday Club”, eternizada pelo grupo curitibano Pelebrói Não Sei?
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17 – INKY – Animania
O aguardado novo disco da banda paulistana INKY tem 8 faixas, 33 minutos, participação do Bixiga 70 e algumas das canções mais inspiradas do rock alternativo nacional em 2016.
Com Animania, a banda se aventurou pelo caos e se mostrou mais madura, mais disposta a tomar riscos e a permitir que cada membro pudesse ter seu próprio espaço, a sua chance de brilhar.
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16 – Carne Doce – Princesa
O disco de estreia do Carne Doce, de 2014, apresentou ao Brasil mais uma revelação surpreendente de Goiânia, a capital mais prolífica do indie nacional. Em Princesa, o Carne Doce ressurge mais suave e auto-consciente, mais ainda capaz de incomodar como em “Artemísia”, que aborda a discussão sobre aborto com versos de emocionar.
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15 – Medulla – Deus e o Átomo
Deus e o Átomo, novo disco de estúdio do Medulla, consolidou a banda como uma das mais importantes do país.
Com participações de Síntese, Marcelo D2, Martin, Teco Martins e mais, o álbum mescla grandes arranjos com letras que já estão sendo cantadas do começo ao fim pelos fãs do grupo nos shows.
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14 – BRAZA – BRAZA
O BRAZA nasceu das cinzas do ForFun e já surgiu grande: com um baita disco de estreia, belas artes e clipes contundentes, os cariocas continuaram de onde pararam misturando reggae, rock, ska e letras provocativas.
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13 – Rakta – III
O segundo disco do RAKTA consolida a formação da banda como um trio, que aposta em uma atmosfera de transe ritualístico para criar o disco nacional mais provocante e hipnótico do ano.
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12 – Baleia – Atlas
O segundo álbum de estúdio da banda Baleia é uma progressão natural do disco anterior do grupo, Quebra Azul. Em Atlas, o grupo se tornou ainda mais ambicioso em seu som, utilizando de uma verdadeira coletânea de instrumentos e criando uma grande “barreira sonora”.
Cada canção do disco é cuidadosamente elaborada, com um propósito e um objetivo. É inevitável a comparação com o Radiohead, que também é uma banda altamente minuciosa, uma espécie de arquitetos do som. Apesar dos estilos das duas bandas não se interligarem, a composição em Atlas é uma de altíssima qualidade, comparável à muitas das melhores bandas da história da música brasileira.
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11 – Francisco, El Hombre – Soltasbruxa
Vários artistas da música nacional evitam levantar bandeiras para evitar desagradar fãs em potencial. Não é o caso da Francisco, el Hombre, que em Soltasbruxa deixa claro a que veio, em composições tocantes que atiram em vários alvos, como o machismo (“Triste, Louca ou Má”) e os absurdos de Jair Bolsonaro (“Bolso Nada”).
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10 – Hierofante Púrpura – Disco Demência
Disco Demência surge 10 anos após o primeiro lançamento do Hierofante Púrpura, o EP Asucar Çugar. Nesse intervalo, o grupo se tornou referência da neo-psicodelia no Brasil, e Disco Demência explica o porquê: são cinco canções longas e caóticas, onde a abstração anda de mãos dadas com excelentes composições.
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09 – Hurtmold & Paulo Santos – Curado
Curado é a primeira parceria em estúdio entre Paulo Santos, multi-instrumentista conhecido pelo trabalho com o extinto Uakti, e o Hurtmold, banda conhecida por derrubar com primor as fronteiras entre o rock, o jazz e a música brasileira. A percussão experimental de Santos, que usa tubos de PVC, pedaços de espuma e outros não-instrumentos para colorir o som do Hurtmold, faz de Curado uma adição essencial à já excelente discografia da banda.
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08 – The Baggios – Brutown
Brutown é o resultado da inspiração da dupla de blues/rock The Baggios em eventos recentes tanto de sua carreira quanto do Brasil e do mundo, da tragédia em Mariana aos ataques no Bataclan.
Para contar isso tudo, a banda adicionou um terceiro elemento à sua formação e contou com a ajuda de Emmily Barreto, Gabriel Thomaz, Érika Martins, Jorge Du Peixe, Fernando Catatau e mais.
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07 – Sabotage – Sabotage
No dia 24 de Janeiro de 2003, o rapper Sabotage foi assassinado perto de sua casa na Zona Sul de São Paulo. A sua morte reverberou fortemente no cenário do hip-hop nacional, especialmente pela enorme inspiração que o músico foi para vários outros artistas. Em suas canções, Sabotage tratava principalmente de questões sociais, retratando as várias injustiças do mundo.
Nos meses que antecederam a sua morte, o músico vinha compondo novas músicas para um novo disco que acabou nunca sendo lançado. Recentemente, porém, essas letras acabaram sendo resgatadas para finalmente ser construído o último álbum do rapper, uma espécie de “despedida oficial”.
E foi assim que o álbum homônimo Sabotage acabou tomando forma. Contando com colaborações de nomes como Tropkillaz, BNegão, Céu, Dexter, Daniel Ganjaman e Shyheim (Wu-Tang Clan), o disco é uma verdadeira joia, um adeus à altura de um artista que viveu uma vida breve, mas completa.
As letras podem ter sido escritas e gravadas há mais de dez anos, mas (infelizmente) ainda soam atuais. A consciência social e honestidade do rapper aliados à ótimas batidas feitas com cuidado por grandes nomes nacionais fazem desse um dos discos mais icônicos dos últimos anos.
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06 – Céu – Tropix
Inspirado em estética sonora vintage mas distante do saudosismo, Tropix garante o lugar de Céu entre as grandes cantoras da música brasileira em todos os tempos. As influências de reggae e trip-hop do início da carreira de Céu dão lugar a canções dançantes, como se os melhores momentos da Tropicália fossem reimaginados a partir do espírito das discotecas com produção contemporânea.
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05 – Séculos Apaixonados – O Ministério da Colocação
A música nos últimos anos, em geral, está sendo marcada por uma “homenagem ao passado”, com várias bandas resgatando sonoridades antigas, com ideias resgatadas dos anos 60, 70 e 80. Isso não é necessariamente uma coisa ruim: vários grupos e artistas sabem fazer isso com maestria, pegando essas influências e adicionando suas próprias características.
Em muitos casos, isso é feito de maneira disfarçada, delicada. Mas em O Ministério da Colocação, as influências são tão sutis quanto receber uma tijolada na cabeça. Desde o modo como os vocais são gravados, os teclados eufóricos e as estruturas das canções são feitas de maneira ousada, sem medo de cair de cabeça em um estilo tão nostálgico que é o dance rock dos anos 80.
E esse é o grande trunfo do Séculos Apaixonados. A ambição é palpável, e cada faixa parece ter sido cuidadosamente produzida para ser um hit – e são. São várias canções compostas de uma forma tão empolgante que é quase impossível não sentir vontade de ir para a discoteca mais próxima.
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04 – Clarice Falcão – Problema Meu
Em seu segundo disco de estúdio, a cantora Clarice Falcão resolveu deixar os violões em segundo plano e se aprofundou em produções ainda mais cheias e interessantes. Produzido por Kassin com colaboração de Diogo Strausz, Problema Meu tem influências no rock, no eletrônico e, sobretudo, nas várias vertentes da música indie.
Apesar da drástica mudança sonora, as notáveis letras da cantora ainda estão presentes – e melhores que nunca. Clarice disserta sobre os assuntos mais diversos de uma forma tão suave que, em um primeiro momento, faz parecer que tudo é muito simples – mesmo quando resolve falar sério, como em “Eu Sou Problema Meu” e “Vagabunda”.
Ao longo de todo o álbum, cada canção tem particularidades especiais, camadas e camadas de instrumentalização e até uma cover inesperada e soturna do hit dance “L’amour Toujours (I’ll Fly With You)”, que tornam cada detalhe do álbum algo único.
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03 – Metá Metá – MM3
O impacto da proficiência do Metá Metá, ou melhor, do trio que compõe o grupo – Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França – ainda há de ser explicado, sentido, reverberado. Com MetaL MetaL (2011), a banda se colocou como centro de uma revolução na música brasileira de vanguarda, sentida em incontáveis frentes, com ápice no A Mulher do Fim do Mundo, disco que ressignificou a carreira de Elza Soares. Depois de turnês nacionais e internacionais e lançamentos envolvendo inúmeros projetos diferentes, Juçara, Kiko e Thiago uniram-se outra vez em MM3, terceiro álbum do Metá Metá.
Motivado por essas explorações e pelo contexto social caótico do país, MM3 é o trabalho mais rasgante e desafiador do Metá Metá até aqui. A mistura singular de jazz, ritmos africanos e veia punk dos discos anteriores ressurge ainda mais agressiva, furiosa e enraivecida, sempre com o cuidado de contrapor a angústia com breves e arejadas calmarias melódicas. Em MM3, o Metá Metá deixa de ser um fator ou outro, mas a conjunção de todos em um, uma avalanche criativa cujos rastros dificilmente se apagarão.
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02 – O Terno – Melhor Do Que Parece
O Terno se tornou um dos principais grupos da nova geração do rock nacional ao redor de clipes bem-humorados e extremamente bem feitos. Mas mesmo com elogios constantes e um justificável hype ao redor do trio, o grupo parecia não corresponder – em conteúdo e essência – às expectativas alimentadas pelos admiradores e questionadas pelos críticos. Até aqui.
Em Melhor Do Que Parece, o terceiro álbum da carreira, O Terno se transformou na banda que sempre prometeu ser. Os arranjos rebuscados dão ao rock retrô da banda uma cara mais próxima da soul music e da era dourada da MPB, e funcionam como o pano de fundo perfeito para as letras de Tim Bernardes, cada vez melhores.
No fim das coisas, eles só precisavam de tempo. Se antes o charme era um humor volátil, despretensioso, O Terno demonstra sinais evidentes de amadurecimento com Melhor Do Que Parece, e justifica, enfim, a admiração fervorosa de quem os admirava desde o começo.
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01 – BaianaSystem – Duas Cidades
O BaianaSystem é uma banda como poucas.
E isso não é colocado como desrespeito às outras bandas nacionais. Afinal, o cenário atual da nossa música, como prova esta lista, é um dos melhores que o Brasil já teve na história. Existem diversas bandas talentosíssimas para saciar todos os gostos, da MPB até o Metal, do Axé até o Eletrônico, o Punk ou todas as misturas possíveis entre os estilos que conhecemos.
Mas essa realidade parece não chegar a muitos, principalmente pelo fato de que a grande mídia parece não se importar com esses novos talentos. Não tocam na rádio. Não aparecem no Faustão. E ‘malemal’ ganham reconhecimento nos maiores festivais de música – e quando são percebidos, são somente convocados pra tocar nos piores horários, quando o público ainda não está presente.
Você pode nunca ter ouvido falar do BaianaSystem, mas a banda é um fenômeno. Pouco a pouco, eles arrastam multidões cada vez maiores ao redor do país. Multidões que cantam todas as músicas, dançam e reagem de um jeito inacreditável.
Não acredita? Pois então veja um vídeo do grupo tocando “Playsom” em Salvador, antes do Duas Cidades ser lançado:
O BaianaSystem é um dos grandes retratos da linda miscigenação que é a música brasileira. É misturar o hip-hop e o dub com axé e reggae, é abraçar o mainstream, o underground e também não ter medo de abraçar as nossas raízes de todas as formas possíveis. Em Duas Cidades, o grupo provoca debates sociais, um senso de revolta e, ao mesmo tempo, um desejo pela festa e pela celebração da cultura nacional.
Composto de forma absolutamente impecável, é difícil encontrar arranjos tão interessantes em qualquer outro disco, principalmente pelo fator que diferencia o Baiana da maioria: a banda não tem medo de soar brasileira. Em tempos onde o rock e o indie preferem reciclar influências lá de fora, o grupo olha para o que está acontecendo por aqui, misturando tudo o que existe de bom, mas também dando sua própria identidade à cada faixa.
O cenário da música brasileira está cheio de bandas interessantes como essa, mas ninguém dá bola. Aliás, corrigindo: ninguém no poder dá bola — pois as multidões ainda estão lá, pulando e cantando.
Se a grande mídia não abraça bandas como o Baiana, não tem problema, estamos todos, em multidões, fazendo isso. Nós queremos fazer parte dessa revolução.
Entrevista
Leia entrevista exclusiva e inédita com Russo Passapusso e Roberto Barreto, vocalista e guitarrista do BaianaSystem, no blog Faixa Título.
É só clicar aqui.
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