Em Julho de 1993, a jovem jornalista e escritora americana Darcey Steinke foi convidada pela revista Spin para realizar o sonho de qualquer pessoa envolvida com música naquela época: entrevistar Kurt Cobain.
O Nirvana ainda colhia os frutos do estrondoso sucesso de Nevermind, de 1991, e preparava o lançamento de In Utero. Kurt (para sua própria infelicidade) era um dos caras mais famosos do planeta.
Na época, a entrevista rendeu uma reportagem de capa intitulada “As confissões de Kurt Cobain”. Mas recentemente, Darcey, já na casa dos 50 anos de idade, escreveu um relato muito mais pessoal daquela noite.
No artigo, ela fala bastante sobre a própria juventude e como ela foi influenciada por aquela figura “infantil, mas responsável” do ídolo grunge. Segundo a jornalista, Kurt não tinha “nem um pingo do glamour que a gente espera de uma pessoa que alterou o cenário da música”:
Quando o encontrei pela primeira vez, ele estava na porta de um restaurante de frutos do mar de Seattle, usando um chapéu de quem caça patos, com as orelhas pra baixo, um jeans todo remendado, um all star preto e uma camisa de pijama de flanela. Ele vetou o restaurante dizendo ‘yuppie’, então nós fomos a uma casa de cachorro quente. Enquanto comíamos os lanches, ele lamentou não ter feito o suficiente pra quebrar o estereótipo de rockstar.
Pesadelos apocalípticos
Kurt e a escritora passaram a madrugada juntos no apartamento do líder do Nirvana, de Courtney Love e da filha, Frances Bean, que estavam fora.
Mais tarde naquela noite, Kurt fez a revelação mais íntima: a de que tinha pesadelos apocalípticos quase todas as noites:
É sempre um cenário de total destruição. Pessoas implorando por dinheiro, senhoras tentando vender suas riquezas. Eu estou sempre segurando Frances em um braço e lutando contra zumbis com o outro para proteger Courtney. Nem sempre são zumbis. Mas sempre é uma guerra entre a direita e a esquerda. Quando eu acordo, me sinto exausto, como se tivesse corrido uma maratona. Eu preciso conversar com um psicólogo pra entender isso melhor.
Nós recomendamos muito a leitura do artigo inteiro de Darcey Steinke, que pode ser encontrado neste link, em inglês.
Abaixo você pode ouvir um trecho da gravação que a jornalista fez naquela noite, justamente na parte em que Kurt fala sobre os pesadelos, com legendas em Português.
No dia 08 de Abril de 1994, menos de um ano após a entrevista, Kurt foi encontrado morto em sua casa após ter cometido suicídio.