Varney é uma banda do estado do Rio de Janeiro, mais precisamente localizada na cidade de Campos dos Goytacazes, que há algum tempo vinha ensaiando sua estreia com apresentações ao vivo e um registro em estúdio e o fez em 2016.
Fantasma é o nome do primeiro disco do grupo e fomos surpreendidos com a qualidade das composições tanto instrumentais quanto das letras, em Português, que resgatam o rock and roll direto e inteligente cantado em nossa língua.
Conversamos com o grupo a respeito das influências que levaram até a finalização do disco e a banda em si, e você pode conhecer tudo isso logo abaixo.
Quem é Varney?
TMDQA!: Como, quando e quem? Conte um pouco sobre a Varney para a gente
Varney: A banda iniciou em 2013 apenas como um duo. Fizemos alguns shows dessa forma e percebemos que para o tipo de música que estávamos criando, uma banda seria necessária. Realmente era muita loucura ir para o palco com computador, milhões de cabos, mesa de som, interfaces… além da guitarra e bateria. Hoje a Varney é um quarteto e isso foi um dos pontos mais importantes para que Fantasma soasse mais orgânico ainda que o nosso EP de 2013.
Tocar assim, em quarteto, é também muito mais caótico. Pudemos aproveitar bem esse caos em todos os shows onde já vínhamos tocando as novas músicas, ao lado de grandes bandas como Muddy Brothers e Montenegro e em vários palcos totalmente diferentes.
TMDQA!: Para alguém que nunca ouviu a banda, como você descreveria o som?
Varney: Gostamos de dizer que somos algo como Rock Alternativo e Art Rock. Nossas músicas têm as guitarras sujas do grunge e do stoner, bateria e baixo fortes e pesados, mas temos toda a melodia das linhas de voz e todo o nosso trabalho com as letras em português.
TMDQA!: Vocês acabaram de lançar um grande disco de estreia, “Fantasma”, que impressiona pela qualidade das canções. Que tipo de cuidado vocês tiveram desde que começaram a imaginar o álbum até gravá-lo, para que o resultado final fosse o melhor possível?
Varney: O trabalho começou realmente com uma pré-produção muito rigorosa. Definimos a estética de composição de cada instrumento, a estética de sonoridade de cada parte e, em conjunto com isso, toda a parte conceitual.
Desde o primeiro acorde já estávamos voltados para o trabalho baseado em letras com uma abordagem filosófica, mas também com um significado simples. Ou seja, nosso objetivo era mesmo produzir um álbum que pudesse ser penetrado, se o ouvinte quisesse, mas que não fosse denso a ponto de soar desconexo caso as músicas estivessem em outras playlists. Pensamos o tempo todo também no impacto das músicas nos shows e isso foi nos guiando.
Hoje acho que temos um disco que faz um sentido se for ouvido da primeira à ultima música, mas que continua legal caso o cara queira ouvir só uma música ou outra por vez.
TMDQA!: Além disso o cuidado com a parte visual também é bastante presente desde a bela arte de capa até o primeiro clipe. Como vocês lidam com a parte “não-musical” da banda?
Varney: Sabe aquela sensação de pegar um disco na mão, olhar pra capa e já ficar empolgado pra botar pra tocar? Já passamos tantas vezes por isso que temos sempre a vontade de causar isso também. E sim, somos muito cuidadosos com tudo o que fazemos porque temos puro amor pela Varney. Desde que saiu o álbum, trabalhamos todos os dias para a banda e isso nos tem deixado muito felizes.
Tivemos também a sorte de encontrar as pessoas certas. Felipe Fernandes conseguiu pegar uma simples ideia para o clipe de “Nada” e transformar naquele clipe que nos enche de orgulho, passando a parte conceitual de uma forma muito mais bonita do que pensamos. O clipe tem 3 filtros de cores diferentes, só para se ter uma ideia. E isso foi pensado antes mesmo de apertarmos o primeiro “rec”, com o objetivo de causar 3 sensações diferentes para quem estivesse assistindo, ao longo do vídeo. A capa, do norte americano Christopher McKenney, foi realmente um trabalho primoroso, que deu rosto a tudo o que já vínhamos compondo.
TMDQA!: Vocês têm mais discos que amigos?
Varney: Nós temos muitos discos, mas coloca muitos nisso! Somos meio que colecionadores, então temos CDs e LPs pra todos os lados, mesmo com toda a música digital rolando, o que achamos ótimo também.
E amigos, nós temos o orgulho de dizer que também temos muitos, e graças a muitos deles a Varney tem caminhado com passos mais firmes a cada dia.
Então, sim, temos mais discos que amigos, mas temos muito dos dois, e só os melhores.
5 Influências
Queens Of The Stone Age
Os poucos acordes, as texturas, todo aquele minimalismo na hora de compor do Queens tem muito a ver com a Varney. Ainda usamos basicamente Fuzz em nossas guitarras e baixo e isso tudo tem a ver com a busca de uma sonoridade própria.
Nine Inch Nails
Esteticamente, uma grande influencia para a Varney é o Nine Inch Nails. Toda a forma como Trent Reznor trata artisticamente tudo o que rodeia a NIN é uma influência muito grande. Por isso a Varney amarra conceitualmente tudo o que a rodeia. Desde as letras das músicas que se conectam à capa dos singles e discos, ao clipe. Tudo segue um caminho que está interligado.
Joy Division
O pós punk, a simplicidade e a profundidade das músicas… o gótico. Joy Division é uma das bandas que mais ouvimos, entre outras tantas, em nossa pesquisa musical para compor o universo de FANTASMA.
David Bowie
Tratar o seu próprio trabalho como o seu mundo, o reflexo do que você é, e expor a sua realidade independente das regras morais que regem a sociedade, Bowie, pra nós, é isso e muito mais. “Lazarus” foi publicada e no dia seguinte compusemos “Corpo”. Não há nada que musicalmente possa servir de comparação entre essas duas músicas, somente a inspiração e o significado de Bowie para tudo o que resolvemos dizer.
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) e Augusto dos Anjos
Nós escrevemos em Português porque é a forma em que melhor conseguimos nos expressar. E a expressão poética é um dos pontos mais importantes em nosso trabalho. “Fantasma” é um álbum que fala de um conceito. Ele aborda o nada, mas não de uma forma depressiva, e sim como uma libertação. Se tudo significa nada, então você pode ser o que você realmente é, independente de filtros morais. “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, não nos fez só escrever um álbum, nos fez olhar para o todo de uma forma diferente.