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Resenha: The XX se reinventa com maestria no excelente "I See You"

Em I See You, o The XX demonstra toda a sua versatilidade e suas conhecidas qualidades, mas ao mesmo tempo não tem medo de testar novas técnicas e ideias.

the xx - i see you

Ao lançar o álbum Coexist, em 2012, o The XX se viu numa encruzilhada. Embora o estilo inovador e único de seu disco de estreia, em 2009, tenha conquistado fortes elogios da crítica e do público, o segundo disco da banda não teve, nem de longe, o mesmo impacto. Coexist teve uma recepção morna, principalmente porque a banda tentou apenas refinar um som que não precisava de retoques — mas sim de uma mudança.

E essa mudança acabou vindo do membro “menos utilizado” do grupo: o produtor Jamie XX, responsável pelas batidas e percussão minimalista das canções da banda. Ao lançar seu primeiro — propriamente dito — álbum solo em 2015, o excelente In Colour, Jamie mostrou ao mundo todo seu alcance musical, criando uma série de composições instrumentais ricas e interessantes.

Utilizando muito de samples e influências dos mais diversos estilos musicais, como UK Garage, house e dance, In Colour conseguiu ainda esboçar todo o potencial de um futuro álbum do The XX, contando com três colaborações com seus colegas de banda em ritmos e batidas nunca antes vistos pelos fãs.

O que ninguém especulava era que In Colour era apenas o primeiro passo na nova direção do grupo. Em I See You, o trio leva ainda adiante o seu lado mais “festivo”, porém alternando bem o clima dance com baladas emocionais.

Isso é muito evidente logo na faixa de abertura, “Dangerous”, que começa com sirenes dançantes até então inexistentes no catálogo do grupo. As letras nessa canção, assim como ao longo do disco, beiram à sensualidade, focando nos temas amorosos e nos jogos sedutores. A química entre Romy e Oliver continua presente e mais forte que nunca, e os vocais alternados que ajudaram a banda a alcançar o sucesso há oito (!) anos são ainda mais explorados.

Já em “Say Something Loving”, a banda pisa um pouco no freio, mas as melodias continuam perfeitamente elaboradas. Aqui, Jamie brinca com um sample de Alessi Brothers, que embora soe um pouco fora de lugar no começo da faixa, rapidamente se adapta às melodias do grupo.

E essa adaptação é um dos pontos fortes do XX, conseguindo tomar riscos aqui e ali sem sacrificar a harmonia geral do trabalho. De muitas formas, I See You soa como um álbum coeso, que flui naturalmente entre faixas e não parece forçado em nenhum ponto, e a banda consegue mesclar com facilidade batidas rápidas e baladas mais calmas.

Outro detalhe que merece destaque é que o trio conseguiu buscar influências em sua própria discografia sem parecer repetitivo, como é o caso de “Performance”, um grande destaque do disco. Abusando do minimalismo marcante e dos arranjos discretos do grupo, a balada é carregada pelas letras incrivelmente emocionais de Romy e mostra uma maturidade inédita no som do trio.

Embora o álbum não seja perfeito, uma de suas grandes vantagens é que mesmo quando a banda erra, o resultado ainda é bom. O problema em faixas como “Brave For You” e “Replica” é que elas podem até serem boas de se ouvir, mas não trazem nada de especial ou novo para a mesa; pela falta de características especiais, elas acabam se tornando um tanto genéricas e dispensáveis.

Mas até mesmo os defeitos não conseguem desviar a atenção do grande encerramento do disco com três grandes obras: as dançantes “On Hold” e “I Dare You”, e a sensacional “Test Me”: uma faixa completamente atípica para a banda, que após a metade se transforma em um trabalho impecável de música ambiente que faria Brian Eno sentir orgulho.

I See You é um álbum de contrastes. Nele, The XX tem um olho no passado e um no futuro, demonstrando toda a sua versatilidade e suas conhecidas qualidades, mas ao mesmo tempo não tendo medo de testar novas técnicas e ideias. Foi um risco altíssimo, mas a recompensa com certeza valeu a pena.