Música

Amplifica #1: Metz, Single Parents e If These Trees Could Talk

O Amplifica reúne indicações semanais de discos variados. A edição de estreia conta com álbuns do Metz, Single Parents e If These Trees Could Talk.

Amplifica #1 - Metz, Single Parents e If These Trees Could Talk

O Amplifica nasce da admiração pela capacidade que a música possui de nos transformar, provocando sentimentos e afetos sempre diversos, mesmo que seja por alguns poucos minutos. Dessa forma, (re)descobrir bandas e discos é como avistar, pela primeira vez, uma paisagem que nos surpreende por suas formas, recuperar algo que estava perdido em algum lugar esquecido, conhecer e conversar com alguém que está na mesma sintonia que a nossa.

Tendo sempre esses aspectos em mente, a coluna Amplifica, que estreia a partir de hoje no Tenho Mais Discos Que Amigos!, irá trazer dicas e sugestões musicais semanais. Serão sempre três discos de bandas de diversos lugares do mundo e de gêneros distintos, a cada publicação. A primeira edição da coluna aposta na barulheira do álbum II, da banda canadense Metz; o talento e a competência do Single Parents, banda brasileira que lançou o disco Unrest em 2012 e na beleza do Red Forest, trabalho do grupo If These Trees Could Talk dos Estados Unidos. Sejam todos bem vindos e nos vemos em breve!

Metz (Canadá)
Disco: II
Ano: 2015
Gravadora: Sub Pop Records

29 minutos é o tempo necessário para o Metz produzir o seu segundo disco, chamado II: poderoso, barulhento e bastante tenso, transbordando energia e dissonância. A maior parte das faixas são obcecadas por certos riffs, lembrando uma forma específica do Gang of Four de compor suas músicas. Em meio aos destroços e ruínas deixadas pela bateria firme e enfurecida, um dos destaques do álbum, além de guitarra e baixo trabalhando quase sempre em intensa sintonia, ainda há algum espaço deixado para a dança. A excelente produção do disco conseguiu dar conta do cruzamento barulhento entre bandas dos anos 90 como The Jesus Lizard e Nirvana, bem presentes no DNA do grupo. Para ouvir correndo de um perigo.

Para quem gosta de: Mudhoney, The Jesus Lizard, Hot Snakes

Single Parents (Brasil)
Disco: Unrest
Ano: 2012
Gravadora: Balaclava Records

Fruto da cena independente paulista, o Single Parents expressa em seu primeiro disco Unrest um cuidado e carinho especial, demonstrando a dedicação dos músicos em gravar um material de qualidade, sem transformar preocupação em assepsia. Parte do álbum foi gravado pelo produtor Roger Paul Mason, que já trabalhou com Dirty Projectors, Mike Patton, Holger, entre outros, no estúdio nova-iorquino The Seaside Lounge. Ainda em um primeiro contato descompromissado, fica difícil não lembrar quase instantaneamente de bandas dos anos 90 de rock alternativo como Pavement, Sonic Youth e Dinosaur Jr. – com esse último, chegaram a dividir shows no Brasil. A atmosfera suja do disco lembra a audição de fitas cassete, misturada a uma certa ternura constante nas faixas. Já nos momentos mais enérgicos, o Single Parents é quase punk, convidando continuamente o ouvinte a aumentar o volume sempre um pouco mais. Para ouvir esperando alguém atrasado chegar.

Para quem gosta de: Wry, Dinosaur Jr., Sonic Youth

If These Trees Could Talk (Estados Unidos)
Disco: Red Forest
Ano: 2012
Gravadora: Independente

O post-rock tem uma boa fama em explorar a riqueza e a diversidade dos instrumentos tradicionais do rock, principalmente em termos de ambientação e criação de camadas e atmosferas sonoras. Em Red Forest, disco da banda If These Trees Could Talk, isso é feito de forma precisa e bastante talentosa. Mesmo não possuindo letra, o instrumental garante narratividade ao longo de todo o álbum, absorvendo sensibilidade, força e emoção em medidas similares. O disco evoca sensações de fascínio com o que não conhecemos e com o que não conseguimos dominar. E se as passagens mais calmas conduzem à ausência de gravidade, o peso de repente nos traz de volta ao chão. Vale destacar ainda que o grupo conta com três guitarristas na sua formação, conseguindo manter versatilidade e dinamismo, uma das principais reclamações de quem costuma se incomodar com o gênero. Para ouvir vendo uma montanha desmoronando.

Para quem gosta de: Russian Circles, Explosions In The Sky, God Is An Astronaut