É muito provável que muitas das suas bandas preferidas já voltaram a tocar após terem anunciado o fim das atividades, seja em shows de reunião, turnês nostálgicas ou com lançamentos. Isso é comum em todo o mundo e também no Brasil.
Neste ano, duas bandas de hardcore, Sugar Kane e Rancore, estarão em turnês comemorativas após terem entrado em hiato em 2014.
A principal motivação do Sugar Kane é celebrar os 20 anos da banda. “Todo mundo se dá super bem, a gente só precisava de um bom motivo pra se reunir”, conta Capilé, que tem viajado o por toda a América e Europa com o Water Rats nos últimos anos.
Ainda que pareça controverso, dar um tempo de um projeto pode ser uma estratégia interessante para seguir na memória dos fãs. “Ajuda nos shows de uma tour com essa. Acredito que seja esse o futuro do Sugar Kane e de muitas bandas quando começam a ficar mais velhas”, projeta Capilé, que fará 30 shows com o Sugar Kane a partir de julho deste ano. “As pessoas valorizam mais porque sentem falta, então só existem bons motivos pra fazer uma reunião”, argumenta.
Teco Martins, vocalista do Rancore, segue na mesma linha sobre a ideia de que um hiato pode ajudar os fãs a se empolgarem com a turnê. “Talvez (dê mais valor a banda). Saudade faz bem, ainda mais quando chega a hora do reencontro!”, comemora ele, que está quase no fim da turnê de 17 shows (últimos shows em São José dos Campos, São Paulo e Santos).
Novidades ainda podem acontecer, mas nada está garantido para o futuro.
E o motivo importa?
Não é segredo que o interesse financeiro às vezes toma o lugar principal da música. O quanto isso é um problema?
“Para quem toca ou fez parte de alguma banda que conseguiu deixar um legado, independente ou mainstream, existe a magia de tocar aquelas músicas de novo”, analisa Capilé. Ele acredita que o lado financeiro também é importante: “No nosso caso a tour é muito mais pelo nosso amor do que pela grana. Ela faz parte, mas não é o objetivo principal, até porque a nossa realidade é peculiar”, analisa. A banda não tem planos de lançar novas músicas no momento.
Seja qual o motivo, a volta de um grupo é vista com bons olhos por Capilé. “Já fui a reencontros como o The Police, e não fazia a menor diferença se eles estavam ali pela grana ou pela magia. Como fã, eu estava simplesmente feliz em poder presenciar esses caras ao vivo”, relembra.
Já Teco prefere não julgar quais as razões de uma banda para voltar aos palcos. “Cada um sabe da sua vida e tem o direito de fazer o que quiser (a única lei que existe pra mim é o respeito, sempre). Não sei se rolou com alguma banda que eu curto, mas acredito que nada se esconde demais”, diz. “A nossa motivação sempre foi a música, nem tem como não ser isso, é a única maneira que sabemos fazer”, garante.
Voltar aos palcos não é tão simples
Há também grupos que nunca retornaram após terem anunciado o fim.
É o caso do Fullheart, que deixou a estrada há quase 10 anos, mas ocasionalmente ainda escuta pedidos de fãs para a banda volte. Ainda que considere “ao menos mais um show” do Fullheart, o ex-vocalista Rodrigo “Chinho” Moreno sabe que não se trata de um processo simples.
“Ninguém saiu brigado ou virou um daqueles malucos isolados. Só que, para fazer isso acontecer, teríamos de resgatar gente sumida e mexer em bagunça de gaveta mental”, explica. “E para depois tocar para 10 pessoas”, completa. Chinho também lembra que, apesar de vocalista e compositor, não representa sozinho a banda. “Eu posso cantar algumas músicas com gente disposta a tocar, mas não posso chamar isso de show do Fullheart”. Atualmente ele canta no Chuva Negra.
Sobre bandas que voltaram por dinheiro, ele se lembra do Sex Pistols e de que o motivo da volta não deveria ser tão relevante. “Eles foram os únicos a admitirem. Estranho quem tem esse conflito, tipo ‘melhor não comprar esse ingresso não, tô sentindo um clima financeiro no ar’, é no mínimo demagogo”, finaliza.