Batemos um papo com o ótimo Marcelo Yuka, que está de disco novo!

Ex-baterista d'O Rappa lançou 'Canções Para Depois do Ódio' em janeiro e falou com a gente sobre suas inspirações, parcerias, política e mais. Leia!

Marcelo Yuka
Foto de Daniela Dacorso

Em 2012, Marcelo Yuka saiu como candidato à vice-prefeitura do Rio de Janeiro na chapa de Marcelo Freixo, do PSOL.

Com histórico na política e autor de lemas como “paz sem voz não é paz, é medo”, não é de se espantar que seu novo disco, Canções Para Depois do Ódio, carregue consigo uma mensagem de louvor ao “movimento da massa”. No entanto, os carros-chefe da obra são recados de amor e tolerância.

O compositor, baleado em um assalto há dezessete anos, se uniu a nomes como Céu, Black Alien, Seu Jorge, Cibelle, Bukassa Kabengele e mais para criar uma mistura melódica de rock, bossa nova, samba e MPB que aborda o caos e a desesperança em que o Brasil e o mundo se encontram – e você pode ouvir o resultado ao final desta matéria.

O disco foi lançado em janeiro e aproveitamos a ocasião para conversar com Yuka. Leia abaixo!

TMDQA!: Pra começar, elabore um pouco o conceito por trás do Canções Para Depois do Ódio – quais acontecimentos, pessoas, sentimentos te inspiraram na composição desse disco?
Marcelo: Primeiro uma crescente intolerância social, que não é uma coisa só do Brasil, é mundial. Você vê o Trump nos Estados Unidos, as fronteiras fechadas para os imigrantes fugindo das guerras no norte da África, o Bolsonaro aqui, o golpe, pois foi golpe mesmo. Isso tudo aliado a um processo inevitável de uma descoberta pessoal.

TMDQA!: Como foi o processo de gravação? O que diferiu em relação aos outros discos do qual você fez parte?
Marcelo: Esse disco realmente levou mais tempo, eu tenho uma coisa de procura de timbres, gosto de ficar no estúdio processando sons. Queria dar o meu máximo nessa procura, e os sintetizadores antigos trouxeram uma textura que eu não tinha usado ainda. E junto com os ritmos afro-brasileiros, acabei conceituando o disco.

TMDQA!: Como surgiram as parcerias com a Céu, o Seu Jorge, o produtor Apollo 9 e os outros?
Marcelo: Eu sempre quis trabalhar com o Apollo 9 como produtor, e com esse disco pensei que era a chance. Gosto muito do que ele fez produzindo o primeiro disco do Otto. Sabia que ele podia me dar outros elementos para que o disco não fosse caricatura de mim mesmo. Claro que vou ter sempre uma base do que sou como artista, mas há músicas no disco que eu não me enxergaria fazendo se não fosse pelo Apollo. Ele me encorajou. O Seu Jorge, nós já éramos parceiros antes, nossa carreira se mistura, temos a mesma procedência, eu, ele, o D2, o BNegão. Então procurei ele para fazer o samba, que acabou ficando diferente mas em sua essência ainda é um samba, que é o “Cortejo Milenar”. A Céu e a Cibelle também vêm desse encontro que o Apollo me proporcionou.

TMDQA!: Como você tem equilibrado a música e a política em sua carreira após esta última ter se tornado um aspecto importante da sua vida profissional nesta década, com sua filiação ao PSOL e candidatura à vice-prefeitura do Rio em 2012?
Marcelo: A minha filiação ao PSOL e minha candidatura a vice não têm o peso de uma carreira política, eu não quero e não vou ter uma carreira política. A música não, a música é inevitavelmente o que eu sou.



TMDQA!: Com esse disco você aparentemente busca isolar a música de mensagens ideológicas, partidárias. Mas ao glorificar o “Movimento da Massa”, mesmo sem nenhuma segunda intenção, você não abre espaço para direita interpretar a canção como populista, ou para a esquerda enxergar nela um ‘hino’ em potencial? Ou seja, a partir do momento em que sua música deixa de ser só sua e alcança o público geral, ela não ganha conotações políticas a partir da interpretação desse público?
Marcelo: Ganha, sim. E eu não posso fazer nada. É bom que ganhe, pois quem dá isso é o público, não sou eu. Eu fiz a composição.

TMDQA!: Ao longo de sua carreira, como acha que evoluiu e amadureceu? Há alguma grande lição que tenha aprendido nesse tempo, ou aprendeu a lidar com elementos da indústria e da cultura musical em si que antes te causavam problemas?
Marcelo: O mercado de música só te causa problemas se você espera muita coisa dele. Eu nunca esperei muita coisa dele. Tudo o que tive foi como consequência. Se tive sucesso, foi consequência, não prioridade.

TMDQA!: O que podemos esperar para este ano? Você sairá em turnê, lançará mais singles?
Marcelo: Agora em fevereiro sai mais um single, com a Cibelle cantando. E saímos em turnê no mesmo mês, começando pelo Circo Voador, no Rio.