Colaborou: Lais Ribeiro
Se você tá acompanhando direitinho o nosso site (olha só que a gente cobra, hein?) já reparou que neste ano, o Sugar Kane voltará aos palcos, depois de um hiato de quase 3 anos. O que talvez não tenha chegado até os seus olhos e ouvidos é que durante um ano, o André Dea, baterista da banda desde 2007, nos deu o prazer de fazer parte do seleto time de colaboradores desse site maravilhoso (dá uma olhada no trabalho do cara por aqui).
E qual não foi a nossa surpresa quando, após agendarmos a entrevista, descobrirmos que iríamos falar justamente com o nosso pupilo? Bom, bastidores à parte, Dea bateu um papo super legal com a gente sobre o retorno do Sugar Kane aos palcos, como a turnê está sendo desenhada, as ideias para o início dos ensaios e shows, os projetos com outras bandas, indicações de gente pra galera renovar as playlists, enfim… continue lendo pra descobrir!
TMDQA!: Não é qualquer banda brasileira que completa 20 anos de carreira, nem qualquer uma que aceita a empreitada de fazer 30 shows em 44 dias. Fala um pouco pra gente sobre essa decisão pela turnê!
André Dea: Pois é, desses 20 anos de carreira do Sugar Kane eu estou na banda há 10, eu entrei em 2007. A gente tinha parado em 2015, porque eu estava tocando no Vespas Mandarinas, o Capilé montou o Water Rats, o Rick entrou no Dead Fish, aí a gente começou a perceber que o Sugar Kane estava ficando em segundo plano nas nossas vidas. Aí a gente pensou: “Bom, se a gente não for parar essa banda agora, a gente vai ter que trocar de integrantes, ou vai começar a perder um pouco a identidade, não vai ser bom para a banda fazer isso”. Pelo Sugar Kane significar muito pra gente, nós decidimos parar e voltar quando todo mundo tivesse mais tempo para se dedicar. A gente já tinha essa ideia do retorno e agora a gente conseguiu casar todo mundo, vão rolar esses 30 shows, já estamos com a espinha dorsal das rotas bem traçada e agora é ir para a estrada!
TMDQA!: E como está o clima nos ensaios?
André Dea: Bom, na verdade a gente fez um pocket-show no Costella, um estúdio em que eu, Capilé e o Arnilha (também produtor do Sugar Kane) somos sócios com o Chuck (Hipólitho, do Vespas), decidimos fazer essa festa com o pocket show e ensaiamos algumas horas antes, passando algumas das músicas. A gente vai começar a rotina de ensaios de verdade um pouco mais perto da turnê, que começa em Julho. Por enquanto, a gente só está concentrado em marcar os shows e deixar a rota bem certinha, então os ensaios vão ficar para bem perto mesmo da hora de a gente cair na estrada.
TMDQA!: E já dá para adiantar o que a gente vai ter do repertório do Sugar Kane nos shows? Vai rolar “Lado B”?
André Dea: a ideia é abranger várias músicas de todas as épocas do Sugar. Não vai ter como não tocar algumas músicas que a galera conhece mais, que o público pede muito, mas estamos com a ideia de ter um repertório bem grande ensaiado, com muitas músicas sobrando, para fazer shows diferentes em cada cidade. Por exemplo, em cidades em que a gente tocava muito, como São Paulo, Curitiba, até no Nordeste mesmo, em Fortaleza e tal, queremos fazer alguns sets com músicas que a gente toca pouco e aí, nas cidades em que a gente acaba indo menos, o set vai ser mais com aquelas que a galera está afim de ouvir mesmo. A ideia é explorar tudo o que a banda fez nesses 20 anos. Vai ser muito divertido!
TMDQA!: E esse DVD, finalmente gravado em Curitiba, terra natal da Sugar Kane…
André Dea: A gente não tem nenhum DVD gravado em casa. Temos um que foi gravado em São Paulo, no Hangar 110, que foi em 2004, com a formação clássica do Sugar Kane, o primeiro DVD independente do Brasil, e depois foi em Fortaleza, 2012, comemorativo de 15 anos da banda. E Curitiba nunca tinha rolado, e a galera sempre falava “poxa, vocês têm algo contra Curitiba? A gente não merece um DVD?”, então agora a gente vai fazer um DVD em casa, com a galera do Gravando Bandas, o Derick Borba. Vai ser uma doideira.
TMDQA!: Podemos esperar desse DVD algo diferente em relação aos outros trabalhos em vídeo de vocês?
André Dea: A gente tá querendo fazer um show como a gente sempre faz, nada muito cheio de floreios ou especial não. Queremos ser mais do que nunca o Sugar Kane tocando em casa para a galera de casa, da maneira mais crua possível. E provavelmente essa vai ser a coisa mais legal, porque vamos ter esse friozinho na barriga de estar tocando em casa, essa responsa de estar ali, e a galera será só um monte de amigos, fãs, a turma que acompanhou a gente desde o comecinho mesmo, a família, então, isso tudo é algo que já deixa tudo mais especial. Essas vão ser as coisas mais legais de gravar esse DVD em casa.
TMDQA! – Aproveitando que você falou do Hangar 110, uma casa que sempre abriu muito espaço para bandas independentes mostrarem seus trabalhos, assim como outras casas ameaça fechar. Como vocês enxergam esse momento do Hangar e de outras casas paulistas e como tem afetado as bandas independentes?
André Dea: Eu acho que as bandas acabam sendo os segundos grandes impactados com esse tipo de situação, porque logicamente os donos dessas casas e as pessoas que trabalham nelas são as principais impactadas. Mas as bandas sofrem muito com tudo isso, porque São Paulo sempre foi uma cidade que teve muito lugar para as bandas tocarem e sempre foi muito aberta para todos os artistas que quisessem fazer um show aqui, e ainda é até hoje. Mas a diminuição dessas casas, que tem afetado essas casas icônicas tipo o Hangar, que… poxa, meu sonho era tocar no Hangar 110, a primeira vez que eu entrei no lugar foi emocionante… Eu só tinha visto imagem do Hangar no DVD do Sugar Kane, ou no DVD do Dead Fish, então quando eu era moleque tinha esse objetivo de querer vir pra São Paulo, querer vir pra cá fazer som, tocar no Hangar. Com essas casas fechando, eu acho que… o mercado é pequeno, o nicho é magrinho, então se você perde casas tão importantes como essas, eu acho que é um dano muito grande para os artistas independentes, para os artistas de rock, então isso é muito chato. Infelizmente, não temos muito como fugir, a galera tá comprando os lugares para construir mais prédio para ter mais gente morando, mais carro, é tudo um caos… e é uma pena que a gente tem que ver isso pendendo para esse lado.
TMDQA!: Já falamos um pouco dos projetos do Sugar Kane fora da banda, que em determinado momento fizeram com que a banda parasse. Como é que esses projetos ficam durante a turnê?
André Dea: Bom, eu não estou tocando com banda hoje em dia, eu saí do Vespas há pouco mais de seis meses… Eu tô tocando com o Nevilton direto, eu gravei o disco dele e a gente tá tocando junto, mas ele ainda não tá em turnê porque o disco novo ainda vai sair e aí é que ele vai fazer um monte de show, então, é um período de entressafra entre o Sacode e o disco novo dele, que vai sair esse ano, muito em breve. Eu também tenho feito shows pontuais com outras bandas como o próprio Water Rats substituindo o baterista oficial deles, vou tocar também com o Medulla, mas pra mim vai ser tranquilo pegar esse mês para tocar com o Sugar. O Water Rats também está entrando em estúdio agora pra gravar um novo disco e também estarão sem turnê e sem shows marcados então. O Vini tem uma banda em Curitiba, o Colaterall, que também lançou um disco e já fez uma turnê então tá no período em que não vai ter tantos shows. Ele é dentista também, então ele vai conseguir pegar férias para essa turnê. O Moderno, que é o baixista, toca no Cueio Limão, mas o Cueio também está parado e ele também tem um trabalho de segunda a sexta, mas também vai pegar férias para a turnê, e o Rick é o único que não vai parar com o Dead Fish, a banda está a todo vapor, também vai lançar DVD daqui a pouco, mas esse é um dos motivos também pelos quais a gente chamou o Rick de volta, porque o Vini não vai conseguir fazer todos os shows, algumas datas vão bater com as gigs do Dead Fish, então ele estará em alguns shows pontuais em que ele não tenha compromisso com o Dead Fish. Essa é a nossa ideia, mas para os outros 4 é férias e é isso. Entra na van e só volta daqui a um mês e meio.
TMDQA!: Agora me conta: como é essa vida dupla, tendo um outro trabalho de segunda a sexta e pegar as noites e os fins de semana para tocar e fazer de fato o que eu acredito que seja a grande paixão de todo mundo?
André Dea: O meu trabalho fora tocar bateria é cuidar do Costella que é o nosso estúdio, então é um trabalho mais flexível e é ligado à música, eu administro o estúdio com os outros meninos lá e tal… Mas por exemplo, o Vini que é dentista… o cara tá lá fazendo uma obturação, até às seis da tarde, depois pega um busão para São Paulo e chega aqui de manhã, entra na van e vai para BH tocar… é muito doido! O Vini é um cara que sempre viveu o rock intensamente, então com certeza é uma das coisas que ele mais pira em fazer, então eu sei que ele fica lá nas obturações dele contando os minutos para viajar e partir, e fazer o rolê. É engraçado porque quando você é mais novo, tem menos responsabilidades e consegue levar as coisas de uma outra maneira, mas aí você envelhece, a responsabilidade bate na porta, você tem outras prioridades na vida e tal… mas no caso do Sugar Kane eu acho que a música sempre foi o principal ponto da vida de cada um e a gente sempre prezou por isso, fazendo isso ser a vontade maior de todo mundo.
TMDQA!: Além da gravação do DVD em Curitiba e essa maratona de shows, o Sugar Kane continua? Podemos esperar algum material inédito?
André Dea: Então, a gente não pensa mais em ter o Sugar Kane como algo full time. Vamos fazer essa turnê e parar de novo, e talvez a gente grave algumas coisas novas mas isso ainda está muito no começo. Nós já conversamos, trocamos algumas ideias, mas não sentamos juntos com algum riff de guitarra ou algo novo. Essa possibilidade existe, mas no momento não estamos preocupados com isso. Queremos fazer essa tour, esse DVD, lançar, e ai vamos ver o que vai acontecer. A principio é uma tour de reunião e depois disso cada um volta para os seus projetos e deixa o Sugar Kane ali no canto, com carinho, esperando o momento de fazer alguma outra coisa bacana.
TMDQA!: Que bandas novas vocês estão ouvindo e podem indicar pros nossos leitores?
André Dea: Eu tenho ouvido muita coisa que eu tô precisando tirar para tocar… Tô ouvindo Nevilton, tô ouvindo Medulla e tá muito legal eu fazer esses shows com eles por que as músicas dos caras são muito boas, tô pirando em tocar aqui . Mas de nacionais novas eu tô ouvindo Ego Kill Talent, Far From Alaska, os caras estão com um disco animal para vir por aí, eles fizeram a pré desse disco que eles estão gravando na gringa lá no Costella e tá brutal demais! Voltei a ouvir um disco do Skank, O Samba Poconé, eu ouvi bastante esse disco esse mês. Tem uma banda de meninas que é muito legal, o Bully, é uma banda muito massa, nova, elas têm um som que chama “Trying”, que eu tô pirando e o disco delas é muito passa, se chama Feels Like, e o Capilé que me apresentou até, justiça seja feita, e eu tô ouvindo bastante, então, essa é uma dica.
TMDQA!: Agora aquela pergunta que você já sabe que eu vou fazer: vocês mais discos que amigos?
André Dea: Com certeza sim! Agora há pouco eu tava lá embaixo dando uma olhada nos discos. Aqui em casa a gente mora em 5 caras, então tem muito mais discos que amigos. A gente tem muitos amigos também, essa casa vive cheia de gente, mas com certeza temos muito mais discos que amigos, não dá nem para comparar!