Faixa Título: Kiko Dinucci rasga a carne na pluralidade de "Cortes Curtos"

Guitarrista de grupos como Metá Metá e Passo Torto, Kiko Dinucci descarrega acidez e violência - mas não só isso - em primeiro álbum solo da carreira.

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Kiko Dinucci é um dos músicos mais talentosos do país na atualidade. Empunhando as guitarras do Metá Metá, Kiko se consolidou como artista inquieto e criativo ao somar influências de punk e noise ao afrojazz do trio, responsável por uma das melhores e mais imponentes discografias da música brasileira na atualidade.

Há alguns dias, depois de anos produzindo álbuns virulentos e provocantes em parceria com outros artistas, Kiko lançou Cortes Curtos, seu primeiro álbum solo. Disponível para download gratuito no site oficial dele (com outros 17 trabalhos), Cortes Curtos também está no YouTube de Kiko, e dá pra ouvi-lo clicando no play abaixo:

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Com exceção de “Chorei”, de Beto Villares, Cortes Curtos é um apanhado de várias composições de Kiko sozinho ou em dupla. O disco conta com participações de Juçara Marçal e Thiago França, o núcleo do Metá Metá ao lado de Kiko, além de colaboradores recorrentes na carreira do guitarrista, como o baixista Marcelo Cabral, o baterista Sérgio Machado, e as vozes de Tulipa Ruiz, Ná Ozzetti e Suzana Salles.

Cortes Curtos é violento, angustiante, e tem como essência as influências roqueiras do músico, que antes das incursões pela música brasileira dedicava-se a explorar as pontas cegas do hardcore em grupos como o Personal Choice, lenda do punk nacional dos anos 90.

Mas a maturidade e a experiência deram versatilidade ao repertório de Kiko como compositor, e mesmo quando não é musicalmente agressivo, ele consegue ousar e incomodar de maneiras menos óbvias, como no suingue ansioso de “O Inferno Tem Sede”, a melô torta de “A Gente Se Fode Bem Pra Caramba” ou o sarcasmo de “A Morena do Facebook”.

A própria capa do disco, uma foto de Kiko tomando um enquadro da polícia manipulada em tons de rosa, branco e azul claro, é exemplo disso.

Do lado raivoso do ringue, destacam-se a cólera de “Uma Hora da Manhã” – com letra espetacular – e a porrada instrumental “Fear of Pop”, provável referência a Kiko Dinucci e o Medo do Pop, artigo de Bruno Natal escrito em 2014 que na época gerou uma resposta pouco simpática do guitarrista.

Ironicamente ou não, Cortes Curtos tem lá seu apelo pop. Mesmo entre toda a sujeira, dá pra cantar junto um ou outro refrão, e até arriscar uma dança. De qualquer forma, valeu a espera; o álbum é certamente uma das boas surpresas da MPB em 2017, e firma Kiko Dinucci como um dos ícones dessa geração da nossa música.

No dia 09/03 tem lançamento do disco no SESC Pompeia, em São Paulo.

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