A Árvore da Vida (Terrence Malick – 2011)
E no início havia duas árvores. A Árvore do Conhecimento do bem e do mau, aquela a qual Adão e Eva comeram e iniciaram a discórdia do mundo, expulsos do paraíso. E havia a Árvore da Vida, anedota que aparece não apenas na mitologia judaico-cristã, mas também em diversas outras ao redor do mundo, nas quais a religião é matriarcal. Onde a mulher é aquele ser ao qual se reserva a vida, que cuida da vida e o sustento de toda a comunidade. De certo modo este tipo de cultura se espalha, pois vê-se a mulher como aquela encarregada de alimentar, cuidar dos ferimentos, tratar as dores da vida e curar e representadas pela divindade Deusa, Gaia e demais nomes. Infelizmente, porém, tal incumbência não vem rodeada dos louros que uma divindade mereceria.
A ideia do Deus/Mundo-pai (Brad Pitt) todo poderoso e da Mãe Natureza (Jessica Chastain) é tratada mutuamente, mostrando a comparação entre o tipo de vida provinda do conceito de pecado e o patriarcalismo que a originou, e a vida que vem do amor, fruto do matriarcalismo.
A Deusa é carinhosa e alheia, quase etérea em sua divindade que só proporciona aconchego e segurança. Já o Mundo-Pai, rígido e injusto como quem não ama, mas exige amor. Sendo um filme que faz emergir tantas sensações, me vi naquelas figuras o tempo todo, desde o modo como o pai carinhoso à sua maneira, conduz os filhos segurando-os pelo pescoço, assim como meu pai faz e meu avô fazia, até na forma de encarar a melancolia da vida.
Não tão bem recebido pela crítica, o filme ganhou diversas comparações a 2001- Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. E elas fazem sentido no momento em que, assim como Kubrick, Mallick buscou soterrar falas e explicações em imagens e sensações, levando seu cinema a um estado onde faz, talvez, tanto sentido de estar em um museu quanto em uma sala de projeções.
O filme é longo, e uma indicação para poucos em momentos de serenidade, para quem pretende ver algo de modo a se entregar para a experiência proposta e não para aqueles momentos de tédio. O início é pesado, mas é necessário. Depois do Gênesis (mostrando nossa efemeridade diante de tanta história onde o próprio universo era protagonista) o filme engrena em seu ritmo, que ainda é moroso, mas contemplativo.
Só poesia em um filme quase espiritual.