O nu-metal está bem vivo. Embora o estilo esteja sendo cada vez mais abandonado por algumas bandas, outras estão se livrando de influências sonoras externas e buscando criar discos fiéis às suas raízes.
Uma dessas bandas é o KoRn, que lançou em outubro do ano passado seu décimo segundo álbum de estúdio, The Serenity of Suffering. O disco recebeu boas críticas tanto do público quando da mídia, sendo exaltado por sua fidelidade ao som característico pelo qual a banda ficou conhecida – o quinteto vinha de flertes com a música eletrônica nos álbuns anteriores.
Conhecida por turnês constantes, a banda californiana aterrissa no Brasil em abril para shows em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre – clique nos nomes das cidades para comprar seu ingresso e adquirir mais informações.
Conversamos com o baterista Ray Luzier a respeito do novo disco, os shows no Brasil, o governo de Donald Trump, a arte como refúgio em momentos difíceis e muito mais. Leia abaixo!
TMDQA!: Antes de tudo, parabéns pelo lançamento de The Serenity of Suffering! Ele foi um dos nossos 50 álbuns internacionais preferidos do ano passado.
Ray: Oh, legal! Muito obrigado pelo reconhecimento.
TMDQA!: Muitas pessoas viram esse disco como uma espécie de retorno às raízes para vocês, após alguns experimentos com a música eletrônica. Essa era a intenção inicial da banda ou foi apenas o resultado que alcançaram no final das contas?
Ray: Esse disco é fruto de muitas inspirações e vontades diferentes, e é por isso que tenho tanto orgulho dele. Antes do The Paradigm Shift (2013) o Brian (guitarrista) voltou, e alguns da banda estavam passando por problemas com abuso de substâncias, mas agora sinto que somos uma unidade. É ótimo, não existe drama, ninguém está envolvido com drogas, é tudo pela música e por nossa família. Fazer isso depois dos 40 anos é incrível, a maioria das bandas não chega até aqui.
TMDQA!: Como foi trabalhar com o produtor Nick Raskulinecz, que já produziu bandas como Foo Fighters, Ghost e Deftones? Qual a influência que ele teve na criação do disco?
Ray: Sempre que tínhamos tempo livre entre nossas turnês, nos reuníamos no estúdio para compor riffs, e precisávamos de um produtor. O que Nick fez com o Foo Fighters e essa galera toda é demais, ele é um cara sensacional, sabe como fazer uma banda se sentir bem. Sem desrespeito aos nossos outros discos mas eles não tinham esse ‘fogo’. No meio da gravação Nick pegava uma vassoura e começava a fingir que estava mandando um solo brutal, parecia o Jack Black! Gravamos metade do álbum aqui em Nashville e metade na Califórnia. Há alguns riffs que não entraram no disco e eu queria que tivessem entrado, mas estou satisfeito pois o álbum é uma parte de todos nós. Ele soa como nós mas também soa atual. Quero tocá-lo daqui a dez anos e ele provavelmente ainda vai parecer atual.
TMDQA!: A capa do disco faz referência a vários momentos do passado do grupo. Quando vocês pensarem na arte do álbum, como pensaram em ligá-la ao conceito todo e cada uma das canções do disco?
Ray: Ela realmente tem elementos de tudo, e traz aquela juventude interior dentro de nós à tona. Ron English colocou a boneca que aparece na capa do Issues (1999) ali e criou seu próprio mundo.
TMDQA!: A participação de Corey Taylor em “A Different World” dá uma cara muito interessante à canção, e ele chegou a cantá-la ao vivo com vocês. Como surgiu a ideia da parceria? A canção já foi imaginada com alguém em mente?
Ray: O KoRn sempre colaborou com todos os tipos de artistas. Fizemos uma turnê com o Slipknot alguns anos atrás e Corey sempre falava de fazermos algo juntos. Estávamos aqui em Nashville compondo o novo disco e pensamos em chamar alguém para colaborar. Mandamos uma mensagem para ele, que estava em Las Vegas e topou na hora. Veio para cá correndo e começou a ouvir o que tínhamos gravado. Quando “A Different World” começou a tocar ele ficava parando em alguns trechos e comentando. Ele ajuda Jonathan (vocalista) no refrão e depois manda ver sozinho. Ficamos impressionados, extasiados com a performance dele. Foi ele quem escolheu a música.
TMDQA!: Falando em “A Different World”, desde que vocês lançaram o disco pra cá, mesmo se tratando de poucos meses, o mundo mudou muito, principalmente nos EUA. Como você enxerga esse processo político e social turbulento pelo qual estamos todos passando? O que acha dos primeiros dias de governo Trump?
Ray: Está sendo meio maluco. Tenho coisas a favor e coisas contra o atual governo. O que você pode fazer numa hora dessas é saber que a eleição de um presidente vai mudar sua vida e você tem que torcer para dar certo. Nós não somos muito políticos. Eu tento me manter positivo sobre isso. O atual presidente não é político de carreira e eu consigo enxergar algo de belo nisso. No final das contas só quero paz. Somos todos humanos e devemos nos ajudar, independente de cor ou língua. Sempre fui um entusiasta da igualdade. Vamos tocar nossa música e esperar que as pessoas encontrem algum conforto nela se estiverem passando por problemas pessoais.
TMDQA!: Ia lhe perguntar justamente sobre isso: a arte se torna um refúgio, uma forma de escapismo para muitas pessoas em tempos difíceis. Isso já aconteceu com vocês? Já encontraram paz em meio ao caos ouvindo seus artistas preferidos?
Ray: Com certeza. Ainda somos fãs de tudo o que nos moldou quando jovens. Eu cresci numa fazenda no meio do nada na Pensilvânia e não tinha nenhuma exposição à mídia tradicional, só revistas e esse tipo de coisa. Não tive uma infância exatamente ruim, mas sei o que a música faz com a gente. E acho que esse é o nosso trabalho, nosso alimento e nossa bênção. Para mim, somos todos iguais perante a música. Fomos nomeados ao Grammy esse ano, voltamos de Los Angeles ontem e vimos todas essas estrelas: Adele, Lady Gaga, Beyoncé… foram uns vinte artistas tocando juntos independentes de cor, credo ou nacionalidade. A música funciona acima de tudo isso.
TMDQA!: Como está o 2017 do KoRn e o que podemos esperar dos shows no Brasil?
Ray: Vai ser um ano muito ocupado, 2018 também. Estaremos promovendo o Serenity of Suffering ao longo desse tempo. E mal podemos esperar para ir ao Brasil, que é um dos nossos lugares preferidos. Nosso setlist será o mais balanceado possível, com algumas músicas diferentes e muitos hits. O James (guitarrista) olha o nosso catálogo e diz “faz tempo que não tocamos essa”, e é verdade. Muitos fãs querem ouvir músicas antigas e pouco conhecidas, mas tem muita gente que vai para ouvir os hits. É difícil agradar a todos, mas tentaremos fazer nosso melhor e criar uma atmosfera muito enérgica nos shows no Brasil.
TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
Ray: (risos) Com certeza. Não sou um cara tão sociável.