Existe algo na dança que sempre me comoveu. Existe algo na música que não só comove como me toma de assalto. Em alguns momentos captura e desarma. Em outros, fortalece e liberta. É esse o poder de formas de arte tão físicas, corporais, onde se produz um fluxo de afeições que domina o corpo e faz dele instrumento do teu prazer e de tua glória.
É assim o último filme de Damien Chazelle (Whiplash), premiado em tudo que se propôs, alcançando status e arrecadações que raramente vemos um musical alcançar. O filme carrega por durante seu segundo ato problemas pra sair de um dos temas que coloca, de que querendo ou não, nem todo mundo alcança o que quer da forma que quer. Há de se fazer concessões, adiar sonhos e eventualmente amadurecê-los, e que o fracasso faz parte da vida. Em todo um terceiro ato profundamente emocional, aparece aqui o final mais clichê possível. Não clichê por repetir finais comuns, mas por fazer algo raro e reproduzir o final mais real possível, emulando a vida em sua distância fria com a qual lida com seus personagens.
Diferente do que parece ser corriqueiro, este filme não tenta vender o sonho americano. Tenta vender uma ideia muito mais realística. De que os sonhos são frustrantes. É preciso atentar para o que o crítico Jonathan Rosenbaum chamou de “potencial maníaco depressivo” que o filme traz consigo. Sua euforia e a dificuldade de lidar com os fracassos, gerando então na mente um número musical como um escape da realidade. Os números musicais surgem como interrupções de momentos e estados de miséria e desconsolo, e como os números são então interrompidos por coisas do dia a dia das quais somos desesperados para nos livrar, como o celular, o congestionamento, a pessoa com quem não queríamos estar.
O último número é mais contundente nisso, por que ser um falso final feliz, e por isso sua histeria efêmera, pra substituir uma realidade insuportável. La La Land é sobre fracasso em lidar com a realidade e conceber escolhas que não nos façam querer voltar no tempo. La la Land é a terra para onde os ingênuos vão para sonhar.
Direção: Damien Chazelle
Elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, J.K. Simmons