Histórico: chegamos aos 50 anos de The Velvet Underground & Nico

Há exatos 50 anos, um dos álbuns mais importantes do rock foi lançado. Saiba tudo sobre está obra-prima que é o disco The Velvet Underground & Nico.

The Velvet Underground & Nico

Há exatos 50 anos, um dos álbuns mais importantes do rock foi lançado. The Velvet Underground & Nico, conhecido como o disco da banana, foi o primeiro da curtíssima carreira da banda. Apesar da baixa vendagem e de ser deixado de lado pela crítica, seu impacto foi gigantesco. Nas palavras de Brian Eno, “o disco vendeu cerca de 30 mil unidades e todo mundo que comprou uma dessas cópias, com certeza começou uma banda”.

O disco foi precursor do rock experimental e do art rock. Muitos ainda o consideram como antecessor do punk, shoegaze, indie e outras estilos da música alternativa. Mas além disso, o disco rompe a barreira de temas abordados. É preciso lembrar que em 1969, o movimento hippie estava no seu auge, com a paz e o amor sendo divulgados por muitas bandas. Mas Lou Reed enxergava o mundo de outra forma. Na época, escrevia canções sobre o caos e Nova Iorque, sadomasoquismo, uso de drogas e condutas morais e sexuais diferentes do habitual. E por causa desses temas, foi proibido em vários estabelecimentos e rádios.

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A banda era formada por Lou Reed, o multi-instrumentista John Cale, a baterista Maureen Tucker (inspiração pra Meg White), o guitarrista Sterling Morrison e a cantora alemã Nico. O nome Velvet Underground veio de uma revista homônima dos anos 60 que falava sobre a subcultura sexual secreta. A banda começou a ser apadrinhada e produzida por ninguém menos do que Andy Warhol, criador da icônica capa da banana. A partir daí, o grupo foi tocar em um show experimental e artístico de Andy chamado Exploding Plastic Inevitable, misturando música, filmes, dança e pop art. Por sinal, tem uma gravação bem legal dessa época que saiu em comemoração aos 45 anos deste disco, e que você pode ver abaixo. É um filme chamado A Simphony Of Sound, gravado em 1966 por Warhol.

https://youtu.be/yPT1CojA7no?list=WL

E foi em 1967 que a banda conseguiu um contrato com Tom Wilson, produtor de Bob Dylan, graças à influência de Warhol. O artista plástico também pediu que a banda deixasse sua musa na época, Nico, cantar em três faixas, além de alguns backing vocals. E assim foi feito. E apesar de Andy Warhol assinar a produção do disco, Reed e Cale afirmam que quem colocou a mão na massa na hora de gravar foi Wilson. Warhol segurava a bronca da gravadora Verve e deixava a banda tocar como bem entendesse. E desta forma, começa a nascer The Velvet Underground & Nico.

No decorrer das 11 músicas, temos vários gêneros musicais presentes, além de níveis impressionantes de experimentação. Desde o uso da viola por John Cale, até a chamada Ostrich Guitar (guitarra avestruz), de Lou Reed, onde todas as cordas são afinadas com a mesma nota. Pode-se ouvir muito bem esse som diferente na música “Venus In Furs”, por exemplo. Aliás, grande parte das inovações de gravação e testes sonoros vem de John Cale, que transferiu seu conhecimento de música clássica para o rock.

O disco inicia com “Sunday Morning”, uma balada que possui um xilofone e vocais cheios de eco, mantendo a atmosfera onírica e preguiçosa de uma manhã de domingo. Uma curiosidade é que esta canção foi prometida para Nico cantar. Mas Lou Reed insistiu, gravou e a cantora ficou só nos backing vocals. Além disso, foi a última canção a ser gravada, tanto que seu registro aconteceu em um estúdio diferente do resto do álbum.

Seguimos com “Waiting For The Man” e sua bateria frenética e constante. Na canção, temos a ansiedade do personagem para encontrar seu fornecedor de drogas. E com a bateria pulsante e riffs de guitarra constantes, sentimos na pele – e nos ouvidos – essa inquietação e ânsia de conseguir a dose e já começar a esperar pela próxima. Depois, em “Femme Fatale”, Nico canta de maneira sensual sobre a mulher que vai partir seu coração e por isso, deve ser evitada.

A quarta faixa é “Venus In Furs”, uma canção que fala sobre sadomasoquismo e foi inspirada no livro homônimo de Leopold Von Sacher-Masoch. Como dito anteriormente, temos a presença da Ostrich Guitar, que junto com a viola de Cale, criam um efeito hipnotizante e que te joga naquele mundo. Ouvimos a psicodelia e luxúria transbordando por todos os lados ao longo dos 5 minutos da música. Depois vivemos a adrenalina de correr na estrada com “Run Run Run”. Os solos de guitarra tem estilo bem garage/noise e vão aumentando e diminuindo de velocidade e volume, te colocando dentro de uma verdadeira corrida.

Em “All Tomorow’s Parties”, temos uma batalha confusa e bela entre a viola de Cale e Ostrich Guitar, o que tornou esta faixa a favorita de Warhol. O lado B começa com “Heroin”, onde temos a experiência de um usuário da droga. Na hora em que o protagonista injeta a droga, a música acelera e desacelera repetidas vezes, até atingir o êxtase. Depois, a pessoa vai deixando a vida de lado e torna a substância sua esposa, sua vida e morte, terminando com um caos sonoro e na existência. Muitos consideraram a faixa como uma apologia, mas Lou Reed retratou apenas o dia a dia de quem se envolve com a droga.

A faixa seguinte, “There She Goes Again”, é um R&B cru sobre um homem que é abandonado mais uma vez pela mesma mulher. Na penúltima faixa do disco, “The Black Angel Death’s Song”, podemos ouvir melodias e sons dissonantes que causam no ouvinte um certo desconforto. Afinal, temos a própria figura da Morte nos falando do fim dos tempos e da vida. E nessa canção, a viola de John Cale faz um trabalho visceral e apocalíptico. A última canção, “European Son”, é a mais experimental de todas. Seus sons de vidros sendo quebrados é como uma demolição de nosso interior, de tudo que estávamos acostumados a ouvir.

Desta forma destrutiva, o disco de estreia do Velvet Underground nos apresentou a novos sons, possibilidades e experimentos. Rejeitado por suas temáticas e influência niilista, o disco teve e tem papel fundamental na inspiração de muitas bandas e estilos de música que viriam nos anos seguintes. Se você nunca ouviu esta obra-prima, dê uma chance ao álbum mais profético de todos os tempos. Mas não se esqueça das instruções da capa: descasque devagar e veja.

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