Com mais de 20 anos de carreira, o CPM 22 se prepara para o lançamento do seu sétimo disco de estúdio. A banda possui ainda três trabalhos ao vivo, incluindo um acústico, e não divulga material apenas de inéditas desde 2011.
Durante esse período, o grupo voltou a ser um quinteto, com a entrada do guitarrista Phil Fargnoli (ex-Dead Fish), além de contar com o retorno do baixista Fernando Sanches, substituindo Heitor Gomes. Da formação original que iniciou os trabalhos em 1995, resta apenas o vocalista Badauí – o guitarrista Luciano Garcia e o baterista Ricardo Japinha estão no CPM desde 1999.
Batemos um papo com Luciano a respeito do que podemos esperar desse novo trabalho, suas principais influências e processo de produção. Falamos também sobre a apresentação histórica no Rock In Rio, a carreira da banda e o rock nacional.
A entrevista teve ainda a participação de Ricardo Galano, compositor de algumas músicas do CPM 22, inclusive o sucesso “Dias Atrás”. Atualmente o músico integra a banda Não Há Mais Volta.
TMDQA!: Primeiramente, o que você pode adiantar sobre o novo disco?
Luciano: Então, a gente tava esperando o single chegar. Ele foi pra masterização, a gente tava ouvindo agora e ele deve sair no próximo dia 24. Serão 14 faixas no CD físico e 16 faixas na versão digital. Uma das 16 é uma música que a gente tá tocando desde o ano passado, chamada “Revolução”, que o pessoal já conhece.
TMDQA!: O CPM 22 não lança um registro de estúdio desde 2011. Como foi a produção desse disco com o Phil e a volta do Fernando? De que forma essa nova formação influencia na composição e sonoridade?
Luciano: Foi demais, né?! O Phil compôs música também, inclusive o primeiro single é uma composição dele. Ele é um puta guitarrista, produtor, engenheiro de som, tudo – isso fora a amizade. O Fernandinho é o baixista que nunca tinha que ter saído do CPM. Não teve briga, não teve nada, saiu porque não tinha tempo pra ver o filho e tinha o trabalho no estúdio da família. Pra gente foi lindo! Eu lembro do primeiro ensaio quando ele voltou, a gente falou “pô, parece que você não saiu da banda”. É um puta baixista também, a mesma coisa que falei do Phil, é engenheiro, produtor, mixa, masteriza. E tudo isso somou muito. Tanto que no disco eu devo ter feito um solo de guitarra ou dois, o resto foi tudo o Phil. Deixei muito arranjo pra ele fazer, até pra soar diferente das coisas que eu fazia. A captação tá demais, a gente mixou aqui, mas mandou pra masterizar lá fora com os caras que a gente gosta.
TMDQA!: E como foi o processo de composição? Você disse que o Galano participou de várias, foi um trabalho conjunto?
Luciano: Eu não fiz nada com ele, quem fez foi o Badauí. Uma das músicas que eles fizeram eu acabei criando o refrão, mas eu tava com o Badauí quando ele decidiu que tava faltando e a gente fez. Dentro do nosso processo, eu faço muito em casa sozinho. Hoje em dia é troca de Whatsapp, falar no grupo “grava aqui violão e voz e manda”. O Badauí faz muita coisa com o Ricardinho.
Ricardo Galano: Eu levo algumas ideias e aí a gente desenvolve junto a melodia e letra. Algumas vezes eu levei ideias de letra e ele terminou, o Lu mexeu na música também. A gente sempre se encontra, somos amigos, então sempre estamos juntos. Eu levo algumas ideias, a gente começa junto e desenvolve, é bem legal.
Luciano: O Badauí não faz muitas músicas, ele pega mais as bases dos caras. Tem uma música que desde que eu entrei na banda ele mostra a base. Agora ele se juntou com o Phil e conseguiu fazer e ficou mó legal. Acho que ele fez umas duas ou três junto com o Phil, fez três com o Ricardinho e uma com o Henrike, do Blind Pigs. Como eu toco e escrevo, muita coisa acabo fazendo sozinho mesmo. Mas é aquela coisa, hoje em dia é violão e voz, sem aquela coisa de “nossa vou gravar, vou ligar o Pro Tools em casa, fazer no computador”.
Ricardo Galano: Manda no gravador tosco do celular.
Luciano: “E aí, gostou? Vamos ensaiar”.
Ricardo Galano: Mas é a verdade também que tá ali, né?! Esse que é o ponto, você já mostra a música com a verdade dela.
Luciano: É aquela coisa que a gente sempre pensou, se a música soa bem no violão, soa bem em qualquer coisa, não tem o que esconder.
TMDQA!: Em comparação aos discos anteriores, quais as semelhanças e diferenças que esse novo trabalho traz?
Luciano: Não tem nenhum ska, nossa aventura pelo ska foi no Depois De Um Longo Inverno. A gente gosta, mas o CPM sempre foi muito verdadeiro nas letras e na música, então o que a gente tá ouvindo acaba espelhando. A gente não tá na fase de ouvir ska, então não vai influenciar. A gente tem ouvido muito No Use For a Name, muito street punk, Bouncing Souls. Tem muita influência disso, mas tá muito CPM. O disco tá bem punk rock e hardcore melódico, parece uma evolução do disco independente.
Ricardo: Do que eu pude ouvir, achei que voltou bem aos velhos tempos.
Luciano: É bem os velhos tempos, mas com todo mundo tocando melhor. A gravação ficou animal, estamos bem satisfeitos com o resultado. A gente compôs esse disco há muito tempo, na época em que a gente tocou no Rock In Rio, em 2015. Uma música ou outra que chegou nos 45 do segundo tempo. Mas aí a gente resolveu lançar o DVD e CD do RIR e empurrou pra agora. A gente já tava ansioso porque entraram 16 faixas, mas a gente fez 22 – e tudo música legal, porque a gente é chato. Já começa em casa: “mano, não vou nem mandar pros caras”. Então imagina, a gente tava numa ansiedade do caramba pra gravar. Agora foi.
TMDQA!: Você comentou que já estão tocando a música “Revolução” há algum tempo nos shows. Como tem sido o feedback? Ela tem a mesma pegada da maioria das novas faixas?
Luciano: A “Revolução” é mais street punk. Tem música parecidas com ela, mas acho que esse é o disco em que a gente conseguiu ir em todas as influências do CPM dentro do punk rock. Tem música meio Ramones, tem música meio No Use For a Name, meio Face To Face, que é nossa maior influência. O pessoal gostou, ela é uma letra mais política, uma coisa meio protesto, do nosso jeito.
TMDQA!: Vocês divulgaram recentemente o making of do DVD CPM 22 – Ao Vivo no Rock in Rio. No vídeo vocês falam sobre a ansiedade e nervosismo com a recepção do público. Como essa experiência impactou na carreira da banda?
Luciano: Primeiro que a gente nunca mais vai ficar nervoso num show. A adrenalina e ansiedade que a gente ficou naquele dia foi a maior da vida de todo mundo, tipo final de campeonato do seu time. Era a experiência que faltava pra gente se sentir adulto porque a gente sempre se sentiu meio “a banda dos moleques no meio dos festivais”. Paralamas, Capital, Jota Quest e a gente os caras de bermuda e boné punk rock. A gente sempre se sentiu meio novato, depois do Rock In Rio você ganha um outro nível, “tá bom, agora a gente é hominho”. Foi legal pra caramba, foi um puta show, tanto que quiseram fazer o CD e DVD. Foi uma resposta muito boa porque foi no Palco Mundo, a gente sabe que muita banda já teve experiência ruim e ainda foi num dia que não era muito favorável ao CPM. Era Queens Of The Stone Age, System Of A Down e Hollywood Vampires.
A gente tinha sido convidado em 2011 pra noite do Motörhead e Slipknot e falou “nem a pau”. A gente agradeceu muito, mas não ia rolar. Eu fiquei com os dois pés atrás, dessa última vez foi um só, mas aí o Badauí falou “vamo lá, vamo arrepiar e foda-se”. Se for pensar, esse ano vai ter Offspring no Palco Mundo, que é muito mais a nossa cara. Mas ao mesmo tempo em 2015 rolou e foi legal, o desafio foi maior. O público cantou tudo, foi demais.
TMDQA!: Apesar de ser uma banda que circula no mainstream e faz shows para milhares de pessoas, o CPM mantém o espírito underground, também toca em locais pequenos e mantém a proximidade com a cena. Como é lidar com esses diversos meios e públicos?
Luciano: A gente fala que o CPM é mainstream pro underground e underground pro mainstream. Pra gente é tudo a mesma coisa, a gente sabe, lógico, das diferenças, mas a gente tem amizade com o Dinho Ouro Preto, com o Ricardinho, os caras participam do mesmo disco. Por exemplo, no Acústico tem música dele e o Dinho tá lá. Nos outros discos já teve Koala, Carlos Dias, mas a nossa intenção não é trazer o underground, é porque os caras são bons, são nossos amigos, então por que não? A capa dos discos quem tá fazendo de novo é o Farofa, do Garage Fuzz, mas não é porque ele é o vocalista do Garage Fuzz, é porque ele faz um puta trampo foda. A nossa relação sempre foi de ir em show, frequentar o Hangar [110, casa de shows em SP], frequenta apresentações de bandas que a gente gosta. A gente nunca mudou, a gente tá aqui no mesmo prédio, no mesmo apartamento que eu moro desde criança, as amizades são as mesmas, os rolês são os mesmos.
TMDQA!: A banda já passou por várias mudanças na formação. De que maneira isso afeta? Vocês ainda têm uma relação próxima com algum dos ex-integrantes?
Luciano: A base tá aí, eu, Japinha e Badauí, desde 1999, então a banda não perde a essência. Por exemplo, o Phil mandou uma música nova e a música era mó legal, mas não era CPM. Era legal pra caralho, mas a gente sempre tem que trazer pro nosso jeito e foi isso que a gente fez. Musicalmente você perde e ganha né?! Quando o Wally saiu, perdeu muito porque era um puta compositor. O Phil toca muito mais guitarra do que ele, mas como composição é outra coisa. E ele também era a cara do CPM, fundou a banda com o Badauí e teve a falta de outra guitarra. Só que eu sempre falei isso pros caras: “só vai ter outra guitarra um dia se for o Phil, se não for o Phil eu vou continuar sozinho”. E isso durou sete anos, o Wally saiu em 2007, na época em que o Hóspede saiu do Dead Fish e a gente não ia fazer essa sacanagem. Sei lá, ele podia não aceitar na época, mas a gente podia falar com ele e ele topar. Às vezes os caras vinham, principalmente o Japinha, dar a ideia “pô, mas tem uns moleques aí”. Eu sempre falei “meu , desencana”. Tinha amizade e tinha muita afinidade musical, eu falava “tenho certeza que se um dia o Phil entrar no CPM vai fazer a diferença”. E tá fazendo.
O Fernandinho entrou no lugar do Portoga, que não teve treta, nem nada, só não tava rolando musicalmente. Quando o Fernandinho saiu a gente sentiu porque mesmo tendo entrado um puta baixista no lugar dele não é a mesma coisa, o Fernandinho é punk rock, é do nosso rolê. E, pessoalmente também, os dois são muitos amigos, tanto o Phil quanto o Fê. O Fê ficou seis anos fora da banda, quando voltou fomos ensaiar e o sistema continua o mesmo.
Relação próxima com ex-integrante a gente só manteve com o Fê quando ele saiu. O Portoga até mora aqui perto, mas depois que ele saiu não foi mais de rolê de banda, hoje em dia nem sei o que ele tá fazendo. O Wally a gente não tem contato nenhum, até porque não foi muito legal a saída dele. Com o Heitor foi de boa, ele que quis sair, a gente nem quis falar muita coisa sobre isso, ele chegou um dia e falou que não tava mais.
TMDQA!: Qual a sua visão sobre o underground atual? Casas fechando, bandas acabando ou entrando em hiato… A cena está enfraquecida?
Luciano: Não só o underground, o rock no Brasil tá fraco. Teve a morte do Chorão, a Pitty deu um tempo por causa da gravidez, isso enfraquece muito. A gente não considera essas bandas como rivais ou acha que é pra competir, a cena tem que tá forte.
Ricardo: As rádios e canais de televisão também não têm muito espaço.
Luciano: Tem muito pouco espaço na TV aberta pro rock, e isso falando de mainstream. No underground falta coisa original. Eu sinto falta disso, de chegar num show e falar “pô, meu, essa banda aí, caramba”. Teve uma fase que era assim, mas aí veio uma fase de muita coisa igual ao Raimundos, Charlie Brown, CPM e isso não é legal. A gente é dos anos 90, tinha um monte de banda, mas o Garage não parecia com o Againe, que não parecia com Forgotten Boys, que não parecia com CPM, que não parecia com Hateen, que não parecia com o Blind Pigs. Cada banda era uma coisa, todo mundo tocava junto, todo mundo ouvia meio que as mesmas bandas, mas os sons eram diferentes. Hoje em dia parece que não tem influência, não absorve e se monta banda querendo estourar. Mano, vai ensaiar, vai fazer o som que você gosta.
Ricardo: E se torna mais importante do que a qualidade musical, querer buscar os views. Acho que a molecada quer ser DJ hoje em dia.
Luciano: Faz o que você gosta, começa por aí. Pode ser que role, pode ser que não role, mas a preocupação não pode ser essa. E hoje a gente sabe, se edita tudo, qualquer um grava um disco, afina, edita. Na nossa época era o contrário, era fitinha. Para as pessoas ouvirem você, tinha que fazer show e vender na barraquinha, tinha que ir pra estrada. Não vejo muito isso hoje em dia. Eu continuo ouvindo os discos novos das bandas velhas.
TMDQA!: Mas tem alguma banda nova que vocês tem ouvido ultimamente e indicariam?
Luciano: Tem umas coisas que a gente começa a ouvir agora e eu não sei se tem muito tempo de banda ou não. Tem o Perkele, da Suécia, eu não sei a idade, acho que é nova pra gente, de conhecer há pouco tempo.
Ricardo: Tem o Downtown Struts, que já é uma banda mais nova.
Luciano: Uma banda nova que é muito legal. Foi uma grande influência pro disco novo do CPM, a gente ouviu bastante.
Ricardo: Hoje em dia tem muita banda que você descobre na internet, mas são bandas de caras velhos, que já tem até algum tempo, mas pra gente é novidade.
Luciano: Mas sinceramente eu nem me animo muito em ir atrás, a gente tá ficando velho e chato.
TMDQA!: Você faria alguma coisa diferente nesses anos de banda?
Luciano: Acho que não, isso de sai e entra integrante toda banda tem. Altos e baixos toda banda tem. Com certeza a gente errou pra caramba quando a gente era mais novo, mas faz parte, não tem como não errar. Quando a banda estourou eu tinha de 21 pra 22 anos, o mais velho era o Japinha que devia ter uns 26 ou 27, foi tudo novidade, tocando pelo Brasil inteiro, cheio de gente. Mas fazer diferente eu não faria, o melhor é pensar em como fazer para o próximo disco. Se a gente não tivesse acertado não estaria aqui há tanto tempo.
TMDQA!: Além do lançamento do novo CD, quais os planos do CPM 22 para o restante do ano?
Luciano: Focar no lançamento mesmo, faz tanto tempo que a gente não lança um disco novo. O disco é grande, são 16 faixas, o físico com 14 por uma questão burocrática de tamanho. O pessoal da gravadora falou pra gente não fazer um disco com muitas músicas, mas a gente não lança um full de inéditas há muito tempo, a gente não ia entregar dez faixas. Falaram que hoje em dia a galera não consome mais um CD longo, mas acredito que os fãs vão gostar de ter bastante música pra ouvir. É democrático, quem quer escuta tudo, quem não quer escuta só as que gosta. A gente tá louco pra tocar, era pra ter lançado antes, empurrou e só entrou agora. Não vemos a hora de entrar na turnê desse novo disco. A gente vai começar já pelo Nordeste a tocar as músicas novas.
TMDQA!: E com um repertório tão extenso criado ao longo dos anos, como dosar o setlist, equilibrando os hits com as faixas novas?
Luciano: O CPM tem feito shows de 1h40, quase 2h por causa dos 20 anos, mas é muito tempo pra um show de punk rock, fica cansativo. A gente com certeza não vai deixar os singles de fora e também vai incluir várias músicas novas. Aprendemos com os artistas grandes que a gente precisa ter vários tipos de shows de acordo com o lugar. A gente toca em festival grande, toca em casa de show fechada, não adianta chegar numa feira agropecuária e querer tocar coisas do A Alguns Quilômetros De Lugar Nenhum que ninguém vai conhecer.
O planejamento com o disco é lançar uma música nova toda sexta-feira até divulgar o álbum todo, no final de abril.
TMDQA!: Pra finalizar, você tem mais discos que amigos?
Luciano: Putz, é pau a pau. A gente tem uma galera muito grande que cresceu junto e sempre soma. Aqui tem alguns discos, mas a maioria tá tudo guardado porque tem tudo disponível nas plataformas online. Acho que a quantidade de amigos e discos é igual.