190 mil pessoas. O público oficial do festival Lollapalooza Brasil 2017 foi o recorde de todas as edições brasileiras do evento que se originou nos Estados Unidos e chegou à sexta edição em nosso país.
Não há nenhuma dúvida de que o evento que em 2012 começou no Brasil com três dias de festa e um nome estranho, tornou-se uma marca poderosa e facilmente reconhecível, conquistando o posto de um dos maiores eventos da cidade mais movimentada do país, São Paulo.
Andando pelo Autódromo de Interlagos era possível perceber que muita gente estava ali por conta da “grife”. Não era difícil cruzar com alguém que tirava fotos à frente dos logotipos do Lolla, dos pôsteres e dos palcos, mesmo não fazendo ideia de quem se apresentava ali.
Isso tem um efeito muito bom, que também pôde ser visto na prática, que é o de fomentar e propagar música boa para novos públicos. O que se viu em 2017 foram multidões enormes procurando conhecer os artistas e bandas que estavam ali se apresentando, já que se estavam escalados pelo Lollapalooza, muito provavelmente seriam de qualidade.
E, na prática, o que tivemos na edição brasileira do festival em 2017 foram shows grandiosos realmente. As bandas escaladas fizeram bonito, os artistas nacionais também, e mesmo em horários ruins, como aqueles perto do meio dia, já havia muita gente perto da grade para acompanhar tudo de pertinho.
A receptividade com o novo foi o que marcou essa edição do evento. Muita gente foi pra lá ver sua banda favorita, mas muita gente também foi pra lá aproveitar o evento e curtir novos sons.
A estrutura dos palcos era impecável e permitia que os shows fossem vistos de praticamente qualquer lugar próximo a eles, com uma “ladeira” próxima de cada um, e a possibilidade de que, como em uma sala de cinema, ninguém atrapalhasse quem estava atrás.
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Os problemas com som foram poucos, principalmente no Palco Skol, onde por exemplo perdemos um trecho da icônica “Radio” com o Rancid logo na primeira música, mas nada atrapalhou o espetáculo.
Espetáculo, aliás, que foi proporcionado pela apresentação renovada e matadora do Metallica, o saudosismo e a energia do Rancid, as loucuras do ótimo Cage The Elephant, a beleza única do The XX, a primeira vez do Jimmy Eat World, a festa brega (e deliciosa) do Duran Duran, a grandeza pop do The Weeknd e a chuva de hits com o The Strokes.
E no lado brasileiro, que show fez o BaianaSystem, maior banda do país ao vivo na atualidade, a Céu, que encantou em seu show solo e deu canja em “Ordinary World” com o Duran Duran, o Bratislava, que saiu do circuito independente para fazer bonito, como assim fizeram Jaloo, The Outs e Criolo.
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Acontece que com o crescimento vieram também os problemas, e nessa edição eles ficaram concentrados principalmente no sistema Lolla Cashless.
Na teoria, ele facilitaria a compra de quaisquer itens dentro do Autódromo, mas na prática acabou dando dor de cabeça. Nós mesmos tivemos problemas na hora da compra de cervejas, e se quiséssemos ir atrás de itens oficiais de bandas ou qualquer outro produto lá dentro, teríamos que recarregar as pulseiras antes de fazê-lo, em novas filas.
Vi de perto alguns desses episódios, como um amigo que passou duas horas resolvendo um problema na pulseira ao invés de aproveitar o festival, mesmo tendo feito o dever de casa e ativado sua pulseira no site.
Os chopps não foram vendidos por ambulantes, os problemas com a pulseira foram acumulando e as filas dos vários bares espalhados pelo Autódromo eram surreais.
Até entendo que, no futuro, o sistema se consolide como uma solução viável, prática e necessária, que é tendência nos festivais mundo afora, mas ela deve amadurecer e, principalmente, todas as partes envolvidas devem ser bem treinadas para sanar os problemas, já que o que também se viu no Lolla desse ano foi uma série de desinformações entre as partes envolvidas, principalmente por parte de empresas terceirizadas, que pareciam não saber do que estava acontecendo no local e respondiam com a clássica “não posso fazer nada”.
O Lollapalooza Brasil tornou-se grande. O recorde de público não veio à toa, a produção do evento trabalha bem nesse sentido e sem dúvida nenhuma a cada ano que se passa, mais gente vai querer dizer que foi ao Lolla. Mas será necessário, cada vez mais, acompanhar esse crescimento e ser grande em todos os aspectos, para não passar a impressão de que cresceu sem perceber que isso estava acontecendo.
Que venha o Lollapalooza Brasil 2018, já confirmado, e mais grandes shows, com experiências renovadas.
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