Música

Leia o discurso do Rush ao apresentar o Yes no Hall da Fama do Rock

A dupla Geddy Lee e Alex Lifeson, do Rush, participou da cerimônia do Hall da Fama do Rock para apresentar uma de suas maiores influências.

Rush em 2012

Foto do Rush via Shutterstock

A cerimônia do Hall da Fama do Rock & Roll aconteceu no último dia 07, e várias coisas interessantíssimas rolaram por lá.

Além de apresentações sensacionais e até mesmo um silencioso protesto do baixista do Pearl Jam, outro destaque da noite foram os lindos discursos de Geddy Lee e Alex Lifeson, do Rush, ao apresentarem a banda de rock progressivo Yes no Hall da Fama.

Você pode conferir a transcrição do discurso e também o vídeo do ocorrido logo abaixo.

Alex Lifeson:

Nós estamos honrados de estar aqui essa noite fazendo isso. É muito, muito bom. Todos nós começamos em algum lugar. Para mim, minha jornada com o Yes começou quando eu era um adolescente retirando gentilmente o álbum Yes [homônimo] de sua caixa me sentindo um pouco assustado pela cabeça decapitada em sua capa, colocando a agulha no disco, me sentando e deixando a música me levar. Eu talvez tenha fumado um cigarro ou algo do tipo, mas o Yes foi a minha ‘porta’ de tantas maneiras. Não existe nada tão fugaz como também duradouro sobre a maneira em que você escuta música quando se tem 17 anos de idade.

Enquanto o Yes tocava no meu quarto, eu tocava também. Eu passei horas aprendendo canções como ‘Starship Trooper’ e “Yours Is No Disgrace”. O quão maravilhoso é aquele outro em ‘Starship Trooper’? Eu devo ter tocado aquilo um milhão de vezes. Mas eu amava a música deles. Ainda mais quando eu comecei a tocá-las… Mas eu nunca realmente consegui. Eu nunca fiz justiça à elas. Mas eu as amava ainda assim. Yes me deu o presente da música, o que é tudo, como vocês sabem. Eles me fizeram querer ser um músico melhor, e isso me deu um pouco da determinação de, um dia, estar em cima desse palco fazendo um tributo a essa banda incrível.

Eu vou deixar vocês com isso: as escolhas musicais que fazemos na nossa juventude ajudam a moldar quem nos tornamos. Escolha a intro de guitarra para ‘Going for the One’. Escolha aprender como tocar ‘Starship Trooper’ em uma guitarra barata de segunda mão. Escolha o tom de baixo incrível de Chris Squire. Escolha os vocais etéreos de Jon Anderson. Escolha Fragile. Escolha vestir uma capa antes de Rick Wakeman. Escolha ficar fora durante a noite inteira para assistir à sua banda favorita. Escolha ‘Roundabout’. Escolha o trabalho glorioso de guitarra em ‘Owner of a Lonely Heart’. Tão lindo. Escolha o Hall da Fama do Rock & Roll. E, definitivamente, escolha o Yes.

Geddy Lee:

Eu gostaria de pedir ao Hall da Fama do Rock & Roll para me dar alguns minutos para compartilhar experiências pessoais do Yes, a banda. Então imaginem isso: no começo dos anos 70, eu passei de um a três anos na décima série no ensino médio sentado no fundo da minha sala com meu novo amigo Oscar. Ele sentava bem do meu lado, e as palavras do professor passavam despercebidamente por nós enquanto Oscar encenava por algumas das nossas cenas favoritas de Monty Python. Ele me fazia rir com a piada do papagaio morto. Como que não poderíamos nos tornar amigos? Não era somente no Ministry of Silly Walks em que nós nos conectávamos.

Eu ainda lembro de um dos dias em que nós saímos da escola e estávamos sentados no chão da sala de Oscar enquanto ele me mostrava um álbum chamado Time and a Word por uma banda chamada Yes. Eu ainda me animo com a parte do baixo em ‘No Opportunity Necessary, No Experience Needed’ do mesmo jeito que me animava quando eu ouvi ela pela primeira vez naquele dia. Por anos as pessoas me perguntavam por que eu tocava um baixo Rickenbacker, e tudo o que eu preciso fazer é apontar para aquele álbum, aquela música. Daí o Oscar colocou ‘Yours Is No Disgrace’ para tocar e então ‘I’ve Seen All Good People’. Nós dois sentávamos lá de boca aberta enquanto as músicas cresciam ao nosso redor e nossos mundos musicais mudavam e caíam de seus eixos. Eu posso ter sido um jovem músico fazendo jams em porões de Toronto, mas com o Yes, eu estava me sintonizando num mundo maior de possibilidades onde a música parecia não ter limites.

Foi uma noite de 1972 quando Oscar, eu e esse cara, Alex Lifeson, ficamos acordados de noite perto da quadra onde era o Maple Leaf Gardens de Toronto para finalmente ver o Yes ao vivo. A noite era um grande domo de estrelas, e do jeito que eu me lembro, Alex nos fazia continuar indo até a loja e nos trazendo drinks. Eu consigo fechar meus olhos agora e lembrar daquela noite. Intelectualmente, visualmente, visceralmente sentado na fila 10. Não era como nada que eu já havia presenciado antes. Era realmente profundo. Não é exagerar dizer que eu mudei o jeito que eu toco e escuto música para sempre. Então estamos aqui, décadas depois, e a música do Yes ainda me mostra que música realmente é um continuum. Em nome de Oscar, meu grande amigo, e Leo, amigo de Alex que não está aqui essa noite, e de mim e Alex, eu digo ‘obrigado’, Yes. É nosso grande, grande privilégio e nossa grande honra de acertar um erro total e finalmente dar boas vindas ao Yes no Hall da Fama do Rock & Roll.