Lançamentos

Resenha: a humanidade tragicômica de Father John Misty em "Pure Comedy"

Father John Misty critica o futuro da humanidade em seu novo disco, "Pure Comedy", que tem de tudo para ser um dos melhores lançamentos do ano. Confira.

capa do disco "pure comedy" do father john misty
capa do disco “pure comedy” do father john misty

Em 2015, Josh Tillman gravou seu segundo disco como Father John Misty. Em I Love You Honeybear, o músico explora, de jeito irônico e engraçado, o ideal de romance e as maluquices da mente masculina. Depois de dois anos, temos o lançamento de Pure Comedy, muito mais sombrio e triste. É como se o amor presente em I Love You Honeybear começasse a acabar nas últimas músicas e, a partir da faixa “Bored In The USA”, um sarcasmo amargurante surgisse. Assim, parece que Pure Comedy se inicia no fim de seu trabalho anterior, tanto na questão poética quanto sonora.

Neste álbum, Father John Misty aborda com pessimismo o futuro da humanidade. Temas como uso abusivo da tecnologia, mídias sociais, o peso da fama, idolatria às celebridades caminham com reflexões filosóficas e existencialistas sobre o ser humano. Além disso, Josh coloca em conflito seu eu verdadeiro com a persona Father John Misty. Todas as canções possuem algum tipo de reflexão que realmente te fazem pensar (e também com certo pessimismo). A acidez e amargura do cantor sobre o mundo geram o interessante título do disco. Para ele, o caminho que a humanidade está seguindo é tão sombrio que rimos de desespero, de desesperança. É uma graça trágica por saber que é impossível reverter essa situação.

Outro ponto positivo do disco, além da poética crítica, é a sonoridade. O cuidado minucioso nas composições e camadas da música engrandecem a mensagem e sua importância. Father John Misty usa coros de igreja para dar a sensação de divino em “Ballad Of The Dying Man” e metais bem encaixados em “Total Entertainment Forever” para “enaltecer” o entretenimento até o fim da vida.

Um possível problema de Pure Comedy é sua extensa duração e tamanho de algumas faixas, que pode soar arrastado para algumas pessoas. A dimensão das músicas é proposital, pois a intenção de Josh é esmiuçar e analisar cada aspecto possível das mensagens que quer transmitir. Um exemplo é a fantástica “Leaving LA”, que tem mais de 13 minutos e é necessário ouvi-la muitas vezes para compreender e absorver todas as críticas a sociedade de Los Angeles e a auto análise depreciativa que Father John Misty faz.

Apesar disso, Pure Comedy é um trabalho fantástico. A poética de Josh Tillman nunca antes fora tão bem exercitada e costurada em arranjos e composições minuciosas. São faixas que carregam o peso da incerteza, melancolia e incerteza de um futuro sombrio, mas com a visão ácida e tragicômica de uma mente quase insana quanto nosso presente.

Escute o disco na íntegra abaixo.