Falar com o lendário Kim Bendix Petersen, o King Diamond, é como falar com um jovem alegre e ambicioso. Apesar dos seus 60 anos, o dinamarquês de voz inconfundível que fez sua fama nos anos 80 e 90 com o Mercyful Fate e com sua banda homônima não esconde a empolgação com a vida de músico.
Após uma cirurgia emergencial devido a seus maus hábitos de fumante em 2010, o “rei” voltou com tudo e se disse mais disposto do que nunca. Ao conversar com o TMDQA!, Petersen afirmou repetidamente e com todas as letras: este, mais do que nunca, é o melhor momento para assistir a um show de sua banda.
Os fãs brasileiros poderão tirar a prova disso em breve: em turnê comemorativa pelos 30 anos de seu icônico álbum Abigail, King Diamond realizará apresentação única no Brasil como headliner do Liberation Festival, no dia 25 de junho, em São Paulo. Os ingressos podem ser adquiridos aqui.
Leia abaixo nossa entrevista com King Diamond!
TMDQA!: Você está em turnê comemorando os 30 anos do seu segundo álbum de estúdio, Abigail. Como esse disco “envelheceu” para você ao longo do tempo? Seu significado mudou? Ele se tornou mais importante?
King Diamond: Se tornou muito mais importante do que era. É um disco que nos influencia muito. Agora que estamos o apresentando na íntegra, tantas coisas surgiram dele… é um sentimento diferente. Parece que, dentro de nossos corações, voltamos para 1987.
TMDQA!: Conte um pouco mais sobre como está sendo tocá-lo do começo ao fim. Você sente o conceito do álbum ganhar vida ao vivo?
King Diamond: Sim, sentimos isso, e tenho certeza que se tocássemos a mesma cidade por duas semanas seguidas poderíamos fazer uma encenação inteira. Já temos muitas coisas acontecendo no palco só comigo e com a banda. Trocamos entre três cortinas, o cenário muda, temos luzes que fazem parecer estar raiando um novo dia. Então há muitas sensações surgindo nesses shows, e eu me envolvi muito nisso: trouxe muitas coisas para o palco, como espelhos góticos onde o público pode se ver, lanternas, crucifixos, luzes extras na produção pra criar mais sensações.
TMDQA!: E a respeito de um novo álbum, o que podemos esperar?
King Diamond: Não temos datas previstas, porque queremos fazê-lo direito. Vamos terminar um DVD antes, mas todo mundo quer trabalhar no álbum novo. É diferente agora em relação a antigamente porque podemos ir embora pra casa depois do show, e temos nosso estúdio, não temos que alugar nada. Um estúdio próprio é um investimento essencial. Voltando à pergunta, vamos escrever um novo álbum agora em 2017. Estou com mais facilidade para cantar agora do que tinha antes, pois tive uma operação em 2010 e agora me alimento melhor, me exercito… tudo está melhor comigo. O Abigail nos faz querer usar a voz, porque antigamente o vocal era muito importante e intenso. Queremos colocar essa intensidade no próximo álbum e, como eu disse, agora podemos gravar vocais em casa quando quisermos. Gosto de trabalhar às 4 da manhã. Podemos fazer nosso melhor disco da carreira, unindo a atmosfera de Abigail e a tecnologia que temos à disposição agora. Vamos trazer aquele estilo antigo. Andy [LaRocque, guitarrista] falou com o engenheiro de som dos álbuns antigos e ele ofereceu anotações sobre como tratava meus vocais naquela época.
TMDQA!: Se somarmos a sua discografia com a do Mercyful Fate, são vinte álbuns de estúdio. A vasta maioria dos músicos não chega perto disso! De onde vem tanta inspiração, ainda mais se levarmos em conta que todos esses álbuns têm conceitos bastante elaborados?
King Diamond: O problema é que não fazemos nada novo há dez anos. Tenho pelo menos três histórias para o novo álbum. E claro que os conceitos são influenciados pelas coisas que passo, visitas a hospitais e coisas assim, mas incluo elementos literários para enriquecer a narrativa.
TMDQA!: Além da música, você é conhecido por suas visões a respeito da religião. Muitos dos conflitos entre povos, que causam o sofrimento de milhares no mundo todo, se resumem a guerras de credos – cristãos, muçulmanos, judeus e outros que não conseguem conviver em paz. Como você enxerga o papel que a religião exerce na sociedade hoje?
King Diamond: Eu não entendo por que as pessoas não podem ser mais respeitosas umas com as outras, independentemente da religião. As coisas podem ser do jeito que uma crença diz, mas no final das contas você não tem prova de nada. Há uma canção no nosso álbum House of God onde questionamos: “Se há um Deus, por que ele não se revela, nos faz crer e nos une?”. Os extremistas farão qualquer coisa contra os que não acreditam na mesma coisa. Eu nunca disse que não haviam deuses, porque eu também não posso provar isso, e nem me importa. Alguém pode dizer “Eu vi a luz!” e eu vou responder “Hm, sério? Eu vi um girassol no meu quarto, ele me disse que era Deus e agora eu preciso matar todo mundo!” e as duas afirmações vão ter o mesmo peso. Mas ter fé é da natureza humana, não podemos mudar isso.
TMDQA!: A última vez que vocês tocaram aqui foi há cerca de vinte anos, em um festival. Se lembra daquele show? E o que podemos esperar de sua apresentação em São Paulo daqui a algumas semanas?
King Diamond: Sei que sempre vai haver um público incrível no Brasil que nos proporcionará experiências pra levar pra casa. Da última vez que fui aí, me lembro de estar sentado na praia de Copacabana, e sempre vou me recordar de um cara tirando a casca de um coco e bebendo naquela praia paradisíaca. Aquela cena teve um significado especial, de alguma forma. Posso dizer que quem for ao show em São Paulo NUNCA vai se esquecer da experiência. Como eu disse, esta é a melhor época de todas para ver o King Diamond.
TMDQA!: Você tem mais discos que amigos? É o tipo de pessoa que gosta de curtir com várias pessoas ou prefere ficar em casa ouvindo seus artistas preferidos?
King Diamond: Eu não sou de fazer muita festa. Às vezes recebo alguns amigos, mas tenho muito trabalho a fazer, muitos shows e divulgação. Mas com certeza tenho mais discos. Inclusive estou sem um toca-discos agora, mas vou atrás de um em breve já que achei uma caixa cheia de LPs do Wishbone Ash, Queen, Black Sabbath, Uriah Heep, Deep Purple… inclusive um Abigail que nunca saiu do plástico!