Conversamos com Deb And The Mentals sobre o novo disco da banda

Leia nossa entrevista exclusiva com a banda Deb And The Mentals e veja que discos influenciaram a gravação de Mess, novo álbum do grupo.

Foto por Pedro Margherito
Foto por Pedro Margherito

Deb And The Mentals é uma banda de São Paulo que há algum tempo chama a atenção por conta de sua sonoridade que mescla punk rock e new wave.

Em 2017 o grupo lançou um disco chamado Mess e nós conversamos com o baterista Giuliano Di Martino a respeito do trabalho, bem como das influências que os cercaram para gravá-lo.

Veja logo abaixo.

TMDQA!: Vocês têm um montão de referências aos anos 80 e 90, desde a sonoridade da banda até a identidade de discos e clipes, como por exemplo o logotipo da MTV estilizado com o nome da banda. Qual é o peso dessas épocas na vida de vocês, na descoberta de novas bandas quando eram mais novos e no Deb And The Mentals em si? Quais são suas bandas favoritas da época MTV?

GG: Acho que especificamente os 80 e 90 são as épocas que mais me influenciaram esteticamente. Lembro que foi crucial descobrir todas as bandas de hardcore e crust punk, thrash, death e black metal dos 80 e 90 (minha parte favorita dessas décadas). Apesar de não ter sido influenciado em “tempo real” por essas décadas (tenho só 25 anos), os 80 e os 90 influenciaram toda a minha estética musical e artística.
Talvez não reflita tanto esse lado pesado dessas décadas no Deb and The Mentals diretamente, mas foi crucial no meu jeito de aprender a tocar. Punk, hardcore e metal me “(des)formaram”, musicalmente e esteticamente.

Engraçado ter conhecido algumas coisas extremas pela MTV. Lembro dos programas de metal, ver uns clipes do Obituary, Death, Slayer, Cannibal Corpse, era o que eu mais gostava. Tinha também aquele programa da Penélope Nova, tocava muito punk. Até o GG Allin descobri pela MTV, num programa que passou uma matéria sobre ele. A MTV foi bem importante pra mim.

Detalhe: não tínhamos TV a cabo, e não sei pq a MTV só pegava no canal 32 e completamente chiada, não sei se era antena do meu prédio, ou a tv que era ruim, assisti muita MTV chiada-com-glitch. Minha estética de clipes se deve muito a isso, acho.

TMDQA!: O show de vocês é conhecido por ter muita energia, e no disco isso acaba ficando escondido por muitas vezes. Como vocês imaginaram o balanço ideal entre o que deveria ficar com cara de estúdio e o que deveria refletir os shows da banda?

GG: Acho que o disco soa um pouco mais “de garagem” que o show, algumas vezes até mais melódico. Não acho que perca energia no disco. Mas comparado com os nossos shows, que tocamos a 300km/h, acaba dando a impressão de ser menos enérgico mesmo. Acho que disco e show sempre vão ser diferentes. Show tem toda aquela energia do momento, né? Vibe, suor, galera… Disco é diferente. Fiquei contente com o balanço do disco. Não é disco de crust-punk, não necessariamente precisa ser rápido. Gostei do resultado.

TMDQA!: Há entre as músicas de vocês algumas rápidas e furiosas, voltadas ao punk, mas o novo disco tem mais a ver com o hard rock, a new wave e o rock alternativo do que outros gêneros. Isso foi algo imaginado ou surgiu durante as novas composições? Como vocês enxergam essa vasta gama de opções na sonoridade da banda dentro do rock and roll?

GG: É, ficou bem diversificado. Foi totalmente espontâneo. Nasceu assim, mas sem pretensão de ser assim, sabe? Sempre ouvimos de tudo. É uma coisa boa no Deb And The Mentals. Não tem aquela obrigação de ser “Rock and roll”. Aliás, acho que liberdade é uma das coisas mais legais dentro do rock. Flertar com a new wave, dance, pop, mesmo que sutilmente, fez parte desse disco, mesmo que indiretamente.
TMDQA!: Se fosse para descrever o som do Deb and the Mentals a alguém que nunca ouviu a banda, como o faria?

GG:  Papai do chão! Que pergunta difícil. Acho que um punk-rock-alternativo-com-influências-de-new-wave-hard-rock-sem-obrigação-de-ser-rock (risos) ou a típica resposta: “sabe o Nirvana? então, temos uma pequena influência.”


TMDQA!: Conte-nos um pouco sobre os bastidores de “Mess”, o novo disco da banda, e seu processo de gravação!

GG: Ah, gravação foi aquela coisa né: amigos no estúdio, festa, muita “falação de besteira…” A maioria das músicas foi a Deb quem fez. Capilé nos ajudou na estrutura delas e também nos deu uma música (“Invisible Twin”, que a Ale do Pin Ups Gravou os vocais com a Deb), Chuck nos deu outra (“Music Says to Me”), Foca (do DoSol) também (“Let You Down”, do The Sinks).

Alguns amigos participaram do disco: Ric Maestria do Dead Fish ajudou muito nos timbres de guitarras, Raffa do Far from Alaska participou junto com Rick em “Let You Down”; André Dea “Pindé” fez todas os arranjos de percussão do disco, alguns backing vocals e foi técnico de bateria. A produção e mixagem do disco todo foi feita pelo Capilé, na nossa segunda casa, o Estúdio Costella. O disco foi feito de um modo muito simples, sem pressão, foi nascendo aos poucos, no meio dos amigos, festa, sabe? Acho que foi o mais legal. Não foi uma gravação pesada e cansativa, foi super divertida.

TMDQA!: O EP “Feel The Mantra” foi lançado em 2015 e seu novo disco saiu em 2017. O que mudou na banda nesses dois últimos anos?

GG: Acho que amadurecemos bastante nesses dois últimos anos, musicalmente e tecnicamente. Tempo de estrada é crucial pra qualquer banda, né?

TMDQA!: O mundo também mudou (bastante) desde 2015 e passamos por uma das piores fases por aqui e lá fora em muito tempo. Como esse turbilhão político e social afetou as composições de vocês? Como vocês entendem que a arte e principalmente a música podem nos fazer passar por momentos difíceis como esse?

GG: Mesmo que nossas letras não reflitam um questionamento político direto, acho que o fato de tocar punk rock, com muita energia e vontade ao vivo, acaba sendo uma reação, sabe?
TMDQA!: Outra questão envolvendo a situação atual é que muita gente diz que tempos difíceis geram grandes bandas, principalmente no punk, como forma de uma resposta ao sistema. Vocês têm visto isso acontecendo por aqui? Acham que a gente pode viver um período fértil nos próximos anos por conta de tudo que estamos vivendo atualmente?

GG: Viajamos bastante pelo Brasil nesses últimos meses. Vimos e tocamos com muita gente boa, muitas bandas incríveis, acho que nos identificamos com a maioria delas, no jeito de pensar e de agir sobre todo esse cenário. A galera não se deixa abalar, sabe? Continuam fazendo sem esperar nada em troca, só querem diversão. Acho que no meio de um cenário com tanto ódio, você construir seu som, ser feliz e influenciar uma galera é uma saída, uma válvula de escape pra toda essa situação. Podem esperar que tem grandes bandas nascendo. Isso me deixa feliz.
TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
GG: Com toda certeza! Mas muitos deles conheci com alguns amigos.

 

7 discos que influenciaram a gravação de Mess

Além da entrevista, também pedimos para que cada integrante da banda citasse dois discos que influenciaram a gravação de Mess, e Transgender Dysphoria Blues, do Against Me!, aparece duas vezes na lista.

Você pode ver os sete títulos logo abaixo.

Bi Free:

  • The Wytches – All Uour Happy Life
  • Nothing – Guilty Of Everything

Guilherme:

  • Ramones – Ramones
  • Rocket From The Crypt – Live from camp X-ray

GG:

  • Transgender Dysphoria Blues – Against Me!
  • 23 Live Sex Acts – Against Me!

Deb:

  • Boatmans Call – Nick Cave
  • Transgender Dysphoria Blues – Against Me!