O título deste post veio de um tweet-realidade do Davi Rocha, em meio à loucura febril de ontem, quinta-feira (01):
Todo dia uma música nova da @Anitta !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
— Davi Rocha (@davirocha) June 1, 2017
“Loucura” porque foi ontem que Anitta surgiu em “Sua Cara”, nova música do Major Lazer, de Diplo, onde ela divide vocais em português com outra musa recente do nosso pop, Pabllo Vittar.
O tweet parece piada, mas não é. Na trajetória de uma já real carreira internacional, Anitta não nos deixa esquecê-la. E se apresenta e se reapresenta pro mercado gringo, para quem ela ainda é uma novidade exótica.
Antes de “Sua Cara”, ontem, teve “Paradinha”, anteontem. “Paradinha” é a primeira música lançada originalmente em espanhol pela Anitta. Pouco antes disso, na semana passada, conhecemos “Switch”, single de Iggy Azalea com refrão cantado em inglês pela ex-MC. Rolou música, clipe e uma comemorada performance no programa do Jimmy Fallon, onde Anitta ofuscou Iggy até quando saiu do palco.
Semanas antes, teve “Loka”, parceria de Anitta com Simone e Simaria, onde diferentes galáxias da música verdadeiramente popular brasileira, o funk e o pós-sertanejo (!), colidiram em sotaque de pop latino. E meses atrás, “Sim ou Não”, com o colombiano Maluma, que também saiu em espanhol.
E no meio de tudo isso, outros feat.’s, duetos e participações, de Sorriso Maroto a Nego do Borel, além dos hits próprios de “Show das Poderosas” pra cá.
Notamos um padrão aqui?
Muito fala-se da habilidade de Anitta em gerenciar a própria carreira, de entender, ao lado de uma grande equipe de produção, as tendências musicais e mercadológicas dos nossos tempos. O que é verdade.
Anitta entendeu os caminhos do pop como poucos artistas conseguem, especialmente no Brasil. Está sempre visível à beira da saturação, prestes a encher o saco de quem gosta e de quem não gosta dela. E aí… Bang.
Outro “tiro”. Outro “hino”. Outro “lacre”. De viral em viral.
De todos os méritos com que Anitta e equipe têm gerido a própria carreira, destaco um em especial: a de pensar a longo prazo, a de plantar enquanto colhe.
O pop nacional, instável como nossa economia e nosso sistema político, sempre viveu de rápidas tendências, de modas passageiras. Algumas duraram mais e foram sugadas à exaustão, como o axé nos anos 90 do plano Real ou o sertanejo universitário na estabilidade econômica dos 2000 e poucos.
Anitta foi além disso. Desde “Show das Poderosas” dissociou-se da conexão direta com o funk não por por renegar as origens, como muitos acusam. Mas por interesse artístico e de mercado, mesmo. Para conversar musicalmente com as infinitas possibilidades do pop, de um som mais universal que consegue passear pelas tendências que vêm e vão.
É, de certa forma, o mesmo movimento que a nova geração do sertanejo tem feito por aqui. O mesmo movimento que, nos Estados Unidos, Taylor Swift ensaiava desde Red, em 2012, e fez em 1989, dois anos depois, ao se afastar dos clichês da country music para abraçar o pop de rádio.
Ainda falta corpo à obra de Anitta, que costuma acertar em singles grudentos, mas ainda oscila entre uma identidade artística variável e o pop genérico. “Paradinha”, “Sua Cara” e “Switch” são mais-do-mesmo, canções inéditas que parecem estar nas rádios há meses.
Mas até isso parece bem pensado, mercadologicamente; afinal, Anitta se apresenta a um público novo, e gigantesco: o mundo todo. Não é hora de arriscar. É hora de agradar.
Por aqui, a história é um pouco diferente. Nas participações que fez em “Loka” e “Você Partiu Meu Coração”, por exemplo, Anitta soube aliar diferentes vertentes do pop nacional pra criar algo novo, com a linguagem simples do pop brasileiro, mas com produção mais encorpada. “Gringa”, por assim dizer.
Aqui, pode-se dizer que ela ajuda a ditar tendências. Lá fora, ainda as segue. Mas pode se tornar uma força global, se o sucesso dos últimos movimentos se repetir nos seguintes.
De qualquer forma, o Brasil e o mundo parecem longe de esquecer Anitta, que já dizem ser a Shakira dessa geração. Uma carismática artista sul-americana que ultrapassa o cinismo norte-americano e se firma como estrela pop internacional.
Quem viver, certamente verá. Até porque os feeds, algoritmos e timelines não nos deixarão esquecer.