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Lavamos a alma na primeira edição do Läjä Festival em Vila Velha

Veja como foi o festival que celebrou 20 anos da Läjä Records, uma das gravadoras mais influentes do país, com Merda, Facada, Deb and the Mentals e mais.

Os Estudantes no Laja Festival
Foto via TMDQA!

20 anos é coisa pra caramba. 20 anos fazendo o que você ama é uma marca ainda mais incrível.

No último Sábado, 17 de Junho, Fabio Mozine resolveu celebrar as duas décadas da gravadora Läjä Records e o fez em grande estilo: com a primeira edição de um festival completamente voltado às bandas que ele lança.

Quem conhece a Läjä sabe que o selo é um dos mais importantes do underground brasileiro praticamente desde que nasceu. Especializado em punk, hardcore e heavy metal, a gravadora de Mozine tem um currículo invejável e títulos de nomes que vão de Mukeka di Rato a Ratos de Porão, passando por CDs, LPs, DVDs e livros.

Na primeira edição do seu festival, a Läjä fez bonito: Mozine gosta de brincar dizendo que a gravadora é tosca, que tudo é simples, que ele aplica “golpes” em seus clientes, mas o que se viu no Correria Music Bar foi um retrato fiel da dedicação que ele tem às músicas que ama.

Com entrada franca em troca de 2 kg de alimento, o Läjä Festival levou cerca de 700 pessoas à casa de shows que o abrigou e contou com 12 bandas, sendo que duas delas foram escolhidas após um concurso que recebeu material de algumas dezenas.

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Além da Blackslug e Whatever Happened To Baby Jane, bandas que têm uma ligação íntima com a gravadora subiram ao palco e fizeram, literalmente, muito barulho.

Tem gente nesse mundo e nesse Brasilzão que diz que o rock morreu. Mesmo o rock acessível, cheio de refrães grudentos e imagens bonitinhas, teria sucumbido, e eu não me canso de repetir: pobre de quem é preguiçoso o suficiente para acreditar nessa bobeira e não ir atrás do que rola por aí.

No Sábado, bandas de punk rock, do peso do hardcore e de influências do heavy metal mostraram que mesmo o rock que anda pelos caminhos mais difíceis ainda luta, firme e forte, e atrai multidões desde que seja bem feito e apresentado com honestidade.

 

Uma das primeiras bandas da noite foi a Lomba Raivosa, de São Paulo, que subiu ao palco e mandou ver em seu som que alterna momentos de fúria com traços do pop/punk, e logo foi seguida da Lo Fi, que mistura rock and roll clássico com passagens mais pesadas.

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Por falar em peso, a sequência veio com o Leptospirose e um show absurdo que alia técnica a canções curtíssimas e diretas. É sempre impressionante ver o que o trio pode fazer no palco, cheio de passagens brutais, letras ácidas e uma performance ao vivo que marca o ouvinte. Isso tudo ainda contando que o baterista estava com uma das mãos parcialmente imobilizada e comemorava ao final: “das 40 músicas consegui tocar 39!”

Para dar um respiro após o soco na cara do Leptos veio a sempre ótima Deb and the Mentals, que fez um dos melhores shows da noite.

Com seu punk rock classicão aliado à new wave e ao pós-punk, Deborah e seus comparsas dominaram o palco com uma habilidade ímpar, e a gente via desde gente que conhecia e celebrava o som ali, até gente que cantava todas as canções, uma por uma. Vibrante e marcante, como um bom show de rock and roll deve ser.

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A nota negativa ficou por conta de um cidadão que resolveu causar na plateia e bancar o idiota batendo em outras pessoas com a justificativa de que estava no mosh. Rapidamente foi confrontado pela banda e por pessoas ao seu redor e o show teve prosseguimento, como deve sempre ser.

A sequência absurda do Läjä Festival continuou com os cariocas d’Os Estudantes e uma verdadeira aula de Punk. Músicas incríveis, grandes performances e uma energia que poucas vezes se vê em shows por aí. Era claro que a banda colocava tudo e mais um pouco do que sentia no que estava fazendo e o público comprou a ideia rapidinho. Que show, que banda.

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O Merda veio depois, e o organizador do evento, Fabio Mozine, assumiu seu papel de músico com os vocais, a guitarra e uma série de petardos celebrados pelo público da banda local. Divertido, rápido, furioso e mais uma grande passagem do festival que teve o Water Rats na sequência.

A banda é mais uma que mistura diversos elementos do rock and roll mas prioriza o punk e o hardcore, e faz bonito ao vivo. É difícil ficar parado no show dos caras e nove bandas após o início do festival, todo mundo ainda tinha fôlego para seguir acompanhando as apresentações do palco.

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A estrutura do local, aliás, facilitava demais: quando os shows acabavam, as pessoas podiam sair dali para ir ao bar, tomar um ar, ir ao banheiro e bater um papo. Quando a próxima apresentação começava, era só voltar para o ambiente com ar condicionado e fazer parte da festa.

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Perto da 1 da manhã veio o Facada, e poucas bandas representam tão bem seu nome com seu som. O trio pesadíssimo faz crossover de forma hipnotizante, com vocais berrados destruidores e uma técnica impecável. Foi impossível sair dali antes do show acabar, e a apresentação mais barulhenta da noite foi também uma das mais interessantes. Veio uma cover de Bad Brains com o baixista do Leptospirose e, cara, uma aula de música pesada ali, ao vivo. Nota 10 foi pouco.

Ao final da pauleira e nos encaminhando para o final da noite, a banda uruguaia Motosierra subiu ao palco e foi mais uma que tomou conta do local como se Vila Velha fosse sua casa.

Vestidos ao melhor estilo glam rock, os caras fizeram muito barulho com um vocalista que é um verdadeiro showman e domina a arte dos palcos como poucos. Bandão com “B” maiúsculo, diversão, cerveja arremessada pro ar e músicas que eram facilmente acompanháveis. Foi bom demais ver o show do Motosierra de perto e nos preparar para o final da noite.

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E o encerramento veio com o Muddy Brothers. Fugindo da característica principal do evento, a banda subiu ao palco para fazer blues/rock e os riffs de guitarra eram tão bons quanto o vocal que preencheu o local com maestria e uma técnica absurda.

A escalação toda foi pensada com muito carinho, bem como sua ordem, e encerrar a noite com o Muddy Brothers foi uma jogada de mestre que nos presenteou com momentos incríveis. Ficou a satisfação de mais de 8 horas de evento e, ainda assim, o gosto de quero mais.

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A primeira edição do Läjä Festival foi um sucesso. Do jeito “tosco” que o Mozine gosta tanto de fazer propaganda, ele fez um evento que respeitou os envolvidos muito mais do que muito festival grande que acontece por aí. Uma noite memorável, uma declaração de amor à música e, pela centésima vez, uma prova de que o Rock And Roll é incrível e está por aí, em todos os lugares, chutando muitas bundas.

Já estamos esperando pelo próximo Läjä Festival. Se demorar mais 20 anos, iremos até Vila Velha para dar um pescotapa no Mozine. Espero que isso não seja necessário.

O TMDQA! foi convidado pela organização do evento para cobrir o festival

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