Enquanto nos vangloriamos dos avanços sociais e humanos, a barbárie e a violência ainda estão presentes no nosso cotidiano. Foi para não deixar esquecer de que há 20 anos aconteceu a tragédia do índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos, que a banda Overdrive Saravá lança seu novo clipe. Ressuscita Pataxó, um dos singles do disco homônimo lançado em 2016, ganha forte vídeo traz o sangue como principal elemento da narrativa do horror.
A frase marcante do refrão “Foi tudo uma brincadeira”, remete ao ano de 1997, quando assassinos sádicos incendiaram o corpo de Galdino. A inquietude foi o que levou o grupo a trazer o assunto à tona. O guitarrista Thiago Henud apresentou a ideia e toda a densidade do tema, e foi a partir de recortes de jornais que a letra surgiu, de forma obtusa e delirante.
“A ideia veio por meio de um senso coletivo do que estávamos produzindo e compondo, com um discurso militante e de posicionamento. A música transita nesses espectros, na densidade do tema, na sociedade doentia e a busca constante da afirmação de seus privilégios”, explica o vocalista Gregory Combat.
Protagonizado pelos próprios integrantes da banda, o vídeo traz personas artísticas que representam a visão de cada músico em relação à letra. A ideia foi de desenvolver performances que dessem a dimensão e a complexidade que a canção explora, usando do experimentalismo que foi da direção de câmera, até a maquiagem, passando por fotografia e edição. Toda a equipe se envolveu na construção da narrativa empregada no clipe.
“A energia e a inquietude da música sempre nos passou essa dimensão simbólica. Não à toa, muitas pessoas depois dos nossos shows comentam sobre essa música, que se sentiram muito tocados, às vezes de forma positiva ou negativa, e talvez eles se reconheçam nessa sociedade tão enferma,” conta Gregory.
A ideia de causar reflexão é comum aos músicos da Overdrive Saravá. A banda surgiu no cenário independente com o clipe para “Atabaques e D’jembes”, primeiro single do disco, que falava sobre o preconceito em relação às minorias, levantando a bandeira da vivência LGBT, e do repúdio à intolerância religiosa, à população de rua e à população negra:
Para nós a arte também funciona como plataforma de luta, está a serviço disso. Há quem diga que a arte ou os artistas de forma geral não devem se posicionar e eu acho isso de uma grande burrice. Arte não é mera ferramenta de subjetividade e contemplação, a arte é um desdobramento da nossa vida em coletivo e ela se atribui a diversos fins. Creio que um dos principais é essa exaltação das culturas tão plurais que nos cercam, afirmação dos direitos e da diversidade, e de denunciar todo discurso opressor e fascista que ainda tentam de todas as formas mascarar e romantizar na nossa sociedade.
O novo vídeo conta com direção do Estúdio Cru, produção de Sabixona e direção de arte de Aranha. A maquiagem é de Raíssa Tavares, enquanto a edição ficou com Vic Esteves, os stills são de João Paca. A performance final é de Thaís Pinheiro, que contracena com os então integrantes da Overdrive Saravá: Gregory Combat (voz), Thiago Henud (guitarra), Matheus Freire (baixo) e Frederico Cardin (bateria). Além deles, a banda conta o com o guitarrista Lucas Botti e o atual baterista, Renan Carriço (Facção Caipira).