A campanha de marketing do Everything Now, o mais recente álbum de estúdio do Arcade Fire, não foi recebida com bons olhos por boa parte do público da banda.
A promoção do disco consistia na divulgação de uma série de “notícias falsas” (as chamadas fake news), onde a banda brincava com várias ideias malucas sobre merch, shows e aparições públicas.
Porém, após sofrerem críticas com uma dessas notícias sobre uma “barba jihad removível”, o grupo pediu desculpas e decidiu acabar com a campanha do disco.
Agora, em uma entrevista com a Vulture, o frontman Win Butler entrou em detalhes sobre as decisões por trás da campanha — e também suas opiniões sobre as críticas que o Arcade Fire recebeu. Ele disse:
Uma grande questão para nós era ‘Como você lança um álbum pós-Donald Trump?’. Como estávamos fazendo um disco chamado ‘Everything Now’, e como ele seria lançado após as eleições, parecia ser um momento bom para tentar falar sobre assuntos como as ‘notícias falsas’ e como a mídia funciona.
Mas a outra parte disso é que quando você faz um disco nesse contexto moderno, ele automaticamente será refletido na mídia. Existe todo esse conteúdo à parte, essa trilha que segue tudo. Então achamos que talvez nós fizéssemos toda essa parte [também], ao invés de só criar as músicas. Isso seria feito de qualquer forma, então por que não fazermos nós mesmos?
Nós só queríamos ver onde essas notícias falsas iriam parar. A mídia é feita para conseguir cliques agora, e nós estávamos tentando vivenciar isso por conta própria. Eu sinto como se eu entendesse muito mais como o Trump se elegeu. Negatividade é o que flui.
Em seguida, Butler comentou sobre o que aprendeu com a campanha:
Nós aprendemos mais sobre como a internet funciona, e como é um loop insano… Foi muito interessante ver o que as pessoas acharam do Arcade Fire. Essa ideia entre no que estávamos fazendo também: nós estávamos dando a munição para as pessoas que queriam escrever coisas negativas sobre a banda. ‘Lá vai! Vamos te dar algo para sentir raiva!’
No entanto, o frontman reconhece as críticas — tanto da campanha como do próprio álbum, que não foi muito bem recebido após seu lançamento. No entanto, ele acha que a banda acabou sendo “mal interpretada”:
Eu acho que algumas coisas foram mal interpretadas. Da minha perspectiva, o álbum é musicalmente uma das melhores coisas que já fizemos. É também uma das mais sinceras. As pessoas estão dizendo que é um disco cínico, mas eu não acho que qualquer tentativa de honestamente ouvir a música realmente apoia esse ponto de vista. Então é difícil para mim entender essa recepção negativa — o que não foi o que aconteceu na Europa, onde a campanha foi feita de um jeito muito diferente.
Obviamente, os franceses não terão tanto problema em entender uma campanha de notícias falsas; você não precisa explicar nada disso para um jornalista francês. Tudo o que fizemos é muito óbvio se você leu além das manchetes das histórias, o que é algo que aprendemos que as pessoas não fazem. A outra realidade disso, para mim, é que fãs estão aproveitando o álbum e ouvindo ele. Então novamente, é difícil entender o que foi escrito sobre ‘Everything Now’ com a minha experiência sobre o ‘Everything Now’.
Por fim, Butler conclui:
Talvez tenha ocorrido um certo nível de inocência da nossa parte sobre como as coisas seriam recebidas. Eu acho que no final das contas, nós estávamos pensando que, ao menos entre nossos fãs, que nós estaríamos contribuindo para uma conversa sobre pensar no que você lê, e não levar as coisas pra um lado literal — um pensamento crítico. Talvez partes disso acabaram não sendo muito bem feitas.
Qualquer crítica que qualquer outra pessoa tenha da banda — eu já me critiquei de forma muito, muito mais pesada. Honestamente, nós estamos falando sobre duas semanas desde o lançamento do disco… E se no final das contas, o maior arrependimento da minha carreira é pensar que algumas pessoas pensem que talvez nós tenhamos pisado na bola com uma campanha de marketing para um álbum, eu com certeza estarei feliz.