No final de semana dos dias 07 e 08 de Outubro aconteceu a terceira edição do Festival Radioca, evento que nasceu em Salvador a partir de um programa de rádio do mesmo nome que vai ao ar na Rádio Educadora da Bahia.
Em 2017 o evento contou com dois dias de festa que tiveram cinco bandas em cada um deles, além de feira de vinil, opções de gastronomia, lojas de artesanato local e mais, tudo isso no charmoso Trapiche Barnabé.
O TMDQA! foi convidado pela organização do Radioca para cobrir o festival e assim que chegamos por lá, estávamos curiosos para saber como o público reagiria à escalação do evento, já que teríamos nome tão diversos como Far From Alaska e Rincon Sapiência em um dia e outros mais conceituais no outro, como Quartabê, Curumin e Metá Metá.
Spoiler: foi incrível.
Primeiro Dia
No primeiro dia de evento o Radioca começou com Lívia Nery, representante da Bahia que mostrou seu vozeirão em um show de abertura feito já para bastante gente que estava ali para conhecer novas músicas.
Com uma banda de apoio consistente e uma pitada de batidas eletrônicas, a cantora prendeu a atenção do público e fez uma apresentação que casou bem demais com o final de tarde em Salvador. Foi muito bacana ver a performance de Lívia, bem como de sua banda, com destaque pra tecladista do grupo que também tinha uma presença de palco incrível.
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A sequência veio com Pio Lobato, do Pará, que resolveu convidar o conterrâneo Lucas Estrela para uma performance repleta de guitarradas que teve momentos distintos.
Na maior parte do tempo, quando Lucas estava no palco, o show teve um ar mais conceitual e muitas vezes com instrumental daqueles “cabeçudos”, voltados ao rock alternativo e progressivo, para prestar atenção no que os dois instrumentistas estavam fazendo e nos “duelos” que travavam entre si.
Pio tocou sem o convidado em algumas canções e transformou tudo em uma festa para dançar, o que continuou na sequência quando Lucas voltou e o clima das guitarradas mais acessíveis continuou.
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Foi bem interessante ver os dois lados da moeda e oscilar, em um mesmo show, entre o “téncico” e a diversão.
Pio Lobato, inclusive, irá lançar um novo disco chamado Brinquedo, onde volta às origens do rock progressivo e mostra trabalhos como a nova “Casa Velha”.
O baiano Raymundo Sodré veio na sequência com um show divertido que botou todo mundo pra dançar e suas letras inteligentes foram acompanhadas de um dos poucos protestos políticos contundentes que vimos nos shows, quando o cantor citou nominalmente partidos brasileiros e falou sobre o momento em que vivemos.
Artista dos mais influentes no Nordeste, o músico mostrou a sua visão do samba, misturado a elementos africanos e baseado em raízes de quem já tem muitos anos de estrada.
Após Raymundo deixar o palco, o local seria tomado de assalto pelo Far From Alaska, única atração do evento a cantar em Inglês e também a que tinha o pé mais presente no rock pesado, e foi incrível ver como o local reagiu ao show.
A banda do Rio Grande do Norte está excursionando pelo país para divulgar seu ótimo novo disco, Unlikely, e cada show dessa turnê tem sido bastante especial, com recepção incrível do público.
Em Salvador o gostinho ainda era diferente porque tratava-se do aguardado primeiro show do grupo na cidade em toda sua carreira. O que se viu por ali foram desde os fãs mais fervorosos colados na grade cantando tudo, até gente que descobria a banda naquele momento.
Misturando músicas do seu primeiro disco, modeHuman, com as mais novas, o grupo logo conquistou o local e se apresentou com jogo ganho. A química entre os integrantes ao vivo cresce a cada dia e tanto Emmily Barreto quanto Cris Botarelli lideram a performance com seus pulos, danças e vocais. A segunda, inclusive, se jogou na plateia em momento de empolgação e surpreendeu até os colegas de banda.
Eu, pessoalmente, acho incrível essa mistura de elementos dos mais diversos em festivais que visitamos Brasil afora. No nosso, em Abril, uma das premissas para montar o line-up foi justamente essa, e foi incrível ver como o público respondeu tão bem a artistas tão diferentes em um espaço curto de tempo.
Tudo isso é música brasileira de qualidade, e tão incrível quanto a resposta do público foi ver nos bastidores músicos locais como integrantes do BaianaSystem claramente empolgados celebrando o show do Far From Alaska e sugerindo uma parceria no futuro. Já pensou?
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A noite ainda não havia acabado e quem pisou no palco para encerrar o primeiro dia do Radioca 2017 foi o rapper Rincon Sapiência.
Esse ano o cara lançou um disco incrível com Galanga Livre e está divulgando o álbum através das apresentações, que misturam hip hop com muita música brasileira.
Assim como a sua carreira, a apresentação de Rincon ainda está amadurecendo, e ele parece estar se descobrindo como performer a cada show que faz.
Embalado por uma boa parte da plateia que cantava junto, ele apresentava suas rimas e parecia ir ganhando confiança a cada música que passava, e assim como ele ia se descobrindo, quem não conhecia seu trabalho também passava a fazê-lo, em uma relação público-artista das mais honestas.
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Segundo Dia
O segundo dia de Radioca 2017 começou com a cantora baiana Jadsa Castro, que teve a árdua tarefa de abrir as atividades em pleno Domingão de Sol, quando muita gente deve ter ido à praia e se programado para chegar mais tarde ao festival.
Com uma voz bastante impactante, Jadsa lembrou nomes como Cássia Eller e Maria Gadú, passando confiança com a música que faz e se impondo em diversos momentos onde alternou a calmaria com a tempestade. Mais uma vez, tivemos um ótimo show de abertura.
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O Mopho, de Alagoas, veio na sequência e apresentou seu pop/rock que já está na estrada desde o final dos anos 90 e entoa canções em Português baseadas em guitarras e teclados que lembram nomes como The Beatles e Bob Dylan até Arnaldo Baptista e Raul Seixas.
A banda que conta com o produtor Dinho Zampier (Figueroas) nos teclados apresentou as canções de sua longa trajetória, contou com fãs na plateia que cantaram tudo do início ao final e trouxe mais uma vez o choque ao palco do Radioca, já que abriu caminho para a experimentação que viria a seguir.
Quem subiu ao palco do Trapiche Barnabé depois do Mopho foi a banda Quartabê, de São Paulo, e foi ótimo ver a performance do quarteto ao vivo.
Com sua temática escolar e a participação especial do baterista Sérgio Machado (Metá Metá) que participou de todo show, o grupo mostrou suas interpretações instrumentais do “professor” do grupo, o multi-instrumentista brasileiro Moacir Santos.
Com os pés no jazz, experimentalismo e muito talento, as meninas e os meninos fazem de seu show uma verdadeira obra de arte, daquelas para se contemplar prestando muita atenção até entender todas as nuances que envolvem seus criadores.
O público fez isso durante boa parte do show, e só quando houve as primeiras pausas mais longas com os integrantes falando ao microfone sobre o trabalho é que houve algum tipo de dispersão por parte de quem estava ali vendo de perto. Não é fácil digerir tanta informação ao mesmo tempo, mas definitivamente valeu a pena.
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Quando Curumin subiu ao palco, foi muito festejado pelo público local, que sabia diversas das suas canções e as cantava com sorrisos nos rostos.
O músico está divulgando seu novo disco de estúdio, Boca, e representa uma ponte interessante entre o que há de experimental e o popular. Ao mesmo tempo em que fãs de música interessados pelos lados mais técnicos da coisa apreciam seu show, o público em geral também se diverte com canções que flertam com o pop, o alternativo e a música tipicamente brasileira.
Orgânico, o show transcorreu com canções como “Bora Passear” (que abre o novo álbum), “Selvage” e “Passarinho”, até que contou com a participação mais que especial de Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem que se divertiu no palco e até citou o trecho que ajudou a compor em “Vigia”, música do disco solo de Paulo Miklos, com “Falou demais no brejo o sapo cururu / Tocaia de urubu”.
Russo participa de “Boca Pequena No.1” no novo disco de Curumin, e ao final do show contribuiu com backing vocals para finalizar a festa, que teve hits como “Magrela Fever”, o público cantando e pulando com “Caixa Preta” e mais uma do novo álbum, “Terrível”.
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Ainda teve tempo para um “Fora Temer” e uma pequena pausa até o próximo show que tomaria conta do Radioca 2017 e encerraria o festival em grande estilo.
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A banda paulistana Metá Metá é uma força da natureza, e logo após uma pancada rápida de chuva que caiu no show anterior, o grupo mostrou por que é um dos mais inventivos no país.
Com uma discografia elogiada, a banda sabe dosar muito bem nos seus shows as partes experimentais com as mais frenéticas, onde tem peso e precisão como os grupos de rock mais cultuados mundo afora.
Presenciar o show da banda em um local onde você fica tão próximo dela é uma experiência incrível e músicas como “Três Amigos”, “Oyá”, e “Odara Elegbara” mostraram a versatilidade de cada um dos instrumentistas que, juntos, formam uma unidade potente.
“Mano Légua” levou os músicos à explosão, com o baterista Sérgio Machado castigando seu instrumento, e também teve o mesmo efeito sobre o público, que teve uma demonstração clara e transparente do que Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França são capazes de fazer.
O final com “São Jorge” fez todo mundo lavar a alma e deixar o Radioca cantando “Guerreio é no lombo do meu cavalo” a plenos pulmões mesmo após os instrumentos todos se calarem no palco.
Foi um grande encerramento para um grande final de semana.
O Radioca aposta em um formato de festival que gostamos muito, que tem menos público e espaço para apresentar tanto as bandas novas que já estão com uma base de fãs considerável quanto os artistas que estão dando seus primeiros passos e serão introduzidos a possíveis seguidores.
Com 5 bandas em cada dia, teve uma programação recheada de coisa boa, não pesou nas costas de quem queria acompanhar tudo de perto e ainda contou com áreas de descanso, lazer, tabuleiro de acarajé, vinil e banheiros que estavam sempre à disposição, sem filas.
Vida longa!