A variedade das bandas dessa lista mostra que não é possível apertar o punk e o hardcore em determinadas características pré-estabelecidas. E que tais gêneros sempre tiveram a ver, acima de tudo, com uma paixão primitiva e selvagem por fazer as coisas sem necessitar de alguém dizendo qual o jeito certo. Como critério usado para a filtragem, selecionamos apenas aquelas bandas que nasceram a partir de 2010. Provavelmente esses grupos não irão lotar grandes estádios, mas pela energia e entrega conseguem estabelecer uma conexão intensa com quem ouve, seja em casa ou em seus shows. Essa lista modesta da coluna Amplifica tem o intuito de destacar alguns nomes de destaque do punk e do hardcore atual e de incentivar a busca de novas bandas no estilo, sendo que existem uma infinidade delas por aí que não receberam a menção aqui (a maior dificuldade acabou sendo de escolher somente dez delas).
Pears (Estados Unidos)
Disco: Green Star
Ano: 2016
Fat Wreck Chords
O Pears consegue reunir em um único grupo a melhor parte das principais bandas ligadas (ou que já estiveram relacionadas) ao selo Fat Wreck Chords, como NOFX, Propagandhi, Descendents, entre outras. Não por acaso, o grupo é um dos pupilos atuais da gravadora, uma aposta certeira e bastante justa. Green Star parece uma trilha encomendada para jogos de skate do início dos anos 2000, como a série Tony Hawk’s. Não há muito tempo de sobra para respirar, pois o andamento das músicas muda de forma hiperativa, sempre em alta velocidade, acompanhada por uma pegada thrash. Para ouvir cozinhando com muita fome.
Para quem gosta de: Gorilla Biscuits, NOFX, Lagwagon
Deb And The Mentals (Brasil)
Disco: Mess
Ano: 2017
Independente
Após o EP Feel The Mantra de 2015, Mess é o primeiro álbum do grupo paulistano Deb and The Mentals. Entre esse intervalo de dois anos, o grupo conquistou uma boa turma de fãs em seus shows pelo país, devido à energia vibrante ao vivo e à qualidade das músicas. De tal maneira que o disco é merecido, tanto para um dos grupos mais talentosos e promissores do punk nacional, como para o público ávido por novas bandas com guitarras altas do punk rock de garagem. A ótima voz de Deborah Babilônia lembra as principais vocalistas ligadas ao punk, como Joan Jett, mas também cantoras grunge, como Courtney Love, adquirindo, apesar das influências, a sua própria assinatura. Se o público mais jovem tem preferido sonoridades mais eletrônicas, o Deb and The Mentals é uma espécie de resistência do punk, incorporando ainda influências de hard rock. Para ouvir de madrugada.
Para quem gosta de: Ramones, Against Me!, The Distillers
Gouge Away (Estados Unidos)
Disco: , Dies
Ano: 2017
Independente
O Gouge Away, da Flórida, faz parte de um estilo mais feroz de punk e hardcore moderno, que é definido por alguns como powerviolence. Linhas carregadas carregadas de intensidade, preenchidas por uma pegada crust que dá um aspecto esmagador à sonoridade. Os gritos furiosos da vocalista Christina Stijy parece nos lembrar o motivo de gêneros como o punk e o hardcore terem sido criados, afinal de contas. Gouge Away é ainda o nome de uma música do Pixies, o que pode não passar de uma simples coincidência. Uma ótima sugestão para aqueles que ouviam punk há anos e hoje reclamam que não tem mais o que escutar. Para ouvir fugindo de uma avalanche.
Para quem gosta de: Makiladoras, Punch, Divorce
PUP (Canadá)
Disco: The Dream Is Over
Ano: 2016
SideOneDummy Records
As músicas da banda canadense PUP, mais especificamente da cidade de Toronto, orbitam em uma urgência carregada e frenética. The Dream Is Over, o segundo disco do grupo, é um clássico que aponta para o futuro. Faixas extremamente agitadas, inquietas e explosivas. Ouvindo o álbum é possível imaginar bem a energia do grupo ao vivo. Os gritos de várias vozes juntas estilo gangues, um dos aspectos que mais chamam atenção na banda, funcionam muito bem, reforçando a proposta sagaz e viva do PUP. Dois clipes do grupo (aqui e aqui, para quem quiser assistir) possuem a participação de Finn Wolfhard, ator da série Stranger Things. Para ouvir correndo de um perigo.
Para quem gosta de: Black Flag, Green Day, Titus Andronicus
Retox (Estados Unidos)
Disco: Beneath California
Ano: 2015
Epitaph
Beneath California é o último álbum lançado pela banda Retox, sucedendo YPLL de 2013, também lançado pela Epitaph Records. Trata-se de uma das bandas mais inovadoras no punk e no hardcore que apareceu nesses últimos anos. A lista de antecedentes dos membros do grupo nesse quesito é comprida, indo de The Locust a Head Wound City, entre outros sons bem caóticos. Pode não parecer, mas o Retox é um dos trabalhos mais acessíveis dos integrantes, juntando agressividade em blocos de menos ou pouco mais que dois minutos. O disco é pesado e agressivo mesmo para outras propostas de música extrema, em razão da energia que a banda consegue colocar nas faixas. Excelentes músicos atravessando um lago sujo de noise, hardcore oldschool, powerviolence e grind. Para ouvir caindo da bicicleta.
Para quem gosta de: Head Wound City, Converge, Ed Gein
Youth Avoiders (França)
Disco: Youth Avoiders
Ano: 2013
Gordon Dufresne
O Youth Avoiders consegue acelerar quando não parece ser possível ficar mais rápido que aquilo. A banda é como um corredor que vence um percurso de 100 metros rasos mesmo deixando os outros participantes partirem depois. A sonoridade do grupo francês traz muitas referências a bandas dos anos 80, a exemplo do The Germs e Circle Jerks. Se o punk rock tivesse nascido em 2013, com certeza esse álbum seria o começo ideal. O disco contém 11 faixas e apenas 19 minutos, com poucas músicas passando de 2 minutos e, nesse caso, a pressa se tornou amiga da perfeição. Para ouvir fugindo de uma avalanche.
Para quem gosta de: Devo, Renegades Of Punk, The Estranged
Futuro (Brasil)
Disco: Hábitos Ruins
Ano: 2014
Trainofdoomsday
De São Paulo, a banda Futuro lembra grandes bandas do punk nacional, como Inocentes e Mercenárias. Entretanto, as influências do grupo são variadas, desde o garage-rock dos anos 60/70 e o post-punk dos anos 70/80. Pode-se dizer, assim, que em Hábitos Ruins não há nenhuma preocupação em se encaixar em determinados gêneros, mas sim em fazer uma música autêntica, verdadeira e apaixonada. O resultado disso é um punk rock incendiário, gravado em 2014 no Estúdio El Rocha, um dos mais importantes do país. O Futuro não está sozinho, entretanto, sendo um dos frutos de uma intensa produção independente, que continua fazendo música apesar de todos os reveses (e às vezes até se alimentando deles). Para ouvir conspirando.
Para quem gosta de: Husker Dü, O Inimigo, The Wire
Super Unison (Estados Unidos)
Disco: Auto
Ano: 2016
Deathwish
Trio californiano formado em 2014, o Super Unison apresenta em Auto seus riffs demolidores e a voz marcante e intensa da vocalista Meghan O’Neil Pennie, que tocava anteriormente no Punch. O nome da banda vem de uma música do Drive Like Jehu, o que provavelmente não é nenhuma coincidência e explica muito as fontes de combustível do grupo. A agressividade embutida nas músicas é dosada de forma dinâmica e cada faixa parece ser uma luta entre vida e morte. O instrumental cortante lembra grandes bandas do rock independente dos anos 90, principalmente da gravadora Dischord de Washington, explorando o que o post-hardcore tem de melhor a oferecer. Para ouvir tentando sair de um lugar apertado.
Para quem gosta de: Jawbox, Drive Like Jehu, Punch
Dead Cross (Estados Unidos)
Disco: Dead Cross
Ano: 2017
Ipecac Recordings
Não é incomum que supergrupos nos desapontem. Às vezes, quanto mais “super”, parece que mais é o caso de nos prepararmos para a decepção. Felizmente, o Dead Cros não faz parte dessa triste lista. A banda é formada pelo desejo de inovação do Mike Patton (Faith No More, Fantômas, Tomahawk, entre outros milhões de projetos), a bateria torturante de Dave Lombardo (ex-Slayer, Fantômas, Suicidal Tendencies), a indelicadeza experimental de Justin Pearson (Retox, The Locust, Head Wound City, entre outras) e os incontroláveis riffs de guitarra de Michael Crain (Retox). No seu disco de estreia, o grupo conseguiu reunir o melhor de cada integrante. Para ouvir dentro de um pesadelo.
Para quem gosta de: Dead Kennedys, OFF!, Slayer
Bullet Bane (Brasil)
Disco: New World Broadcast
Ano: 2015
Hearts Bleed Blue Records
Com referências de bandas dos Estados Unidos, como NOFX e Bad Religion, grupos de outros países começaram a surgir no final dos anos 90 e início dos anos 2000, como Belvedere do Canadá e Beer Bong da Itália . A energia do hardcore se mantinha, trazendo dessa vez muito mais velocidade e dinâmica. O Bullet Bane segue essa orientação, tornando-se tão competente quanto as bandas que influenciaram o grupo. A história da banda começa por volta de 2010, após abandonarem o antigo nome Take Off The Halter. O disco possui uma produção bastante cuidadosa, que soube captar a essência e a proposta da banda, principalmente dando ênfase nos trabalhos de guitarra extremamente criativos e o restante do instrumental pesado e preciso. Um dos grandes méritos do disco é manter a qualidade ao longo das faixas. Não há momentos desnecessários ou interlúdios desencaixados. É como se cada música tivesse redondinha para a devida apreciação. Para ouvir jogando dominó.
Para quem gosta de: Satanic Surfers, Reffer, Dead Fish