Você já ouviu falar na Act Up?
Pois ela é o tema central de 120 Batimentos por Minuto, filme vencedor do grande prêmio do júri e do prêmio da crítica no Festival de Cannes, em maio, e que foi exibido na mais recente edição do Festival do Rio, realizado entre 5 e 15 de outubro. Para quem não sabe, a Act Up é uma organização sem fins lucrativos (e de caráter não-violento) que surgiu na França no início da década de 1990 para lutar contra o Estado e a indústria farmacêutica, que cerceavam o direito à vida de portadores do vírus HIV em tempos de epidemia de Aids, ao não liberarem medicamentos que poderiam garantir tratamento digno aos doentes.
Dirigido pelo cineasta marroquino Robin Campillo, homossexual e militante da Act Up justo no período em que se passa a trama, 120 Batimentos por Minuto começa mostrando a chegada de novos voluntários ao grupo. Entre eles está Nathan (Arnaud Valois), um jovem gay aparentemente tímido que, apesar de ter tido relações sexuais com portadores do HIV, não foi infectado pelo vírus. Mas ele quer defender a causa tanto quanto os outros membros. Logo Nathan desperta o interesse de Sean (Nahuel Pérez Biscayart), um dos integrantes mais importantes da organização.
Não demora muito e os dois começam a viver um tórrido romance, que o diretor fez questão de mostrar na tela, em takes para lá de provocantes e ousados. Polêmicas à parte, o filme, em meio à história de amor de Nathan e Sean, mostra diversas ações da Act Up na tentativa de abrir os olhos de empresas e também da sociedade em geral para a necessidade de criar medidas efetivas para que os portadores do HIV tivessem alguma chance de combater o vírus.
As pessoas infectadas estavam morrendo aos montes, enquanto o governo do socialista François Mittérrand se recusava a desenvolver políticas públicas a fim de resolver o problema da saúde. E nesta luta humanitária, 120 Batimentos por Minuto prende a atenção do espectador com cenas fortes de combate ideológico, além do enfrentamento físico, entre os ativistas da Act Up e seus opositores, que eram muitos.
Na reta final do longa, os debates, ideias e manifestações perdem um pouco de força, para valorizar a relação entre o casal protagonista. Há quem possa considerar que Campillo tira o foco da questão principal durante a última meia hora de 120 Batimentos por Minuto. Tenha pecado o diretor neste ponto ou não, fato é que o cineasta cativa e comove o espectador, fazendo-o sair do cinema cheio de reflexões acerca da condição humana. Pode ter sobrado excesso em alguns trechos, mas em nenhum momento faltou sensibilidade artística.