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John Mayer encerra turnê brasileira com show versátil no Rio de Janeiro

Em noite com forte participação do público, John Mayer entrega hits, raridades e uma performance explosiva de seu trio de blues.

John Mayer no Rio de Janeiro
Foto por Daniel Corrêa

Texto por Nathália Pandeló Corrêa

Fotos por Daniel Pandeló Corrêa

John Mayer acaba de completar 40 anos, o que é bem surpreendente considerando que o público o acompanha há quase metade disso. 18 anos após Inside Wants Out, o EP de estreia onde mostrou canções como “Neon” e “No Such Thing”, Mayer não parece perto de parar e retornou ao Brasil com a turnê de seu mais recente trabalho: The Search for Everything. Após passar por São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, o giro acabou no palco da Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro.

A noite de casa quase lotada, com ingressos que variavam entre R$145 e R$590, começou com o duo mexicano Rodrigo y Gabriela. Nesse momento, enquanto o público ainda chegava na arena, o virtuosismo dos músicos pegava de surpresa a maioria das pessoas, pouco ou nada familiarizadas com a sonoridade da dupla. Rodrigo y Gabriela não se importaram com isso. Subiram ao palco pra se divertir, e mostraram isso em cada sorriso, cada virada rítmica. Os músicos pareciam disputar quem conseguia tocar mais acordes por segundo, impressionando não apenas pela habilidade melódica, mas também percussiva, conseguindo a façanha de dar a impressão de estarem acompanhados por mais instrumentistas no palco. Não era o caso, e isso não passou despercebido por parte do público.

Mas o amor, os gritos e suspiros, os fãs guardaram mesmo para a atração principal, como era de se esperar. O impacto dos hits de John Mayer ficou claro desde a primeira nota do músico no palco – acompanhado de grande banda, com dois backing vocals, outras duas guitarras, e a monstruosidade do baixo de Pino Palladino e as três baterias de Steve Jordan, as duas outras partes do John Mayer Trio.

Foram duas horas divididas em quatro atos, além do bis. Se tem algo que não falta a John Mayer é sucesso pra montar setlists. Prova disso são as variações que criou entre os repertórios apresentados nas capitais brasileiras e a quantidade de singles que ficaram de fora do show no Rio. Ainda assim, houve espaço para medleys, covers e, como não poderia deixar de ser, solos de guitarra.

Usando o telão como forma de contar a história de The Search for Everything, as quatro partes do show foram introduzidas como em um filme. O primeiro capítulo, chamado de “Full Band”, começou com “Helpless”, uma das faixas do novo disco. Logo em seguida, “Why Georgia” foi mesclada a “No Such Thing”, enganando a plateia que quase pulou de cabeça no refrão feito pra cantar junto. Outras três músicas do novo álbum completaram essa parte do show: “Love on the weekend” e “Moving on and getting over”, e a menos memorável “Rosie”.

A partir daí, a banda sai do palco e deixa apenas Mayer e seu violão. É hora de “Acoustic”, em um desfile de baladas – “Daughters”, “Love is a verb” (de Born and Raised, tocada pela primeira vez desde 2014), “Split Screen Sadness” (não tocada ao vivo há 10 anos) e “In Your Atmosphere”. Nesse momento, Mayer conversa com o público, agradece os cartazes e atende pedidos que vê escritos no ar – daí o retorno de canções que não passavam por seu repertório há tempos. Diz que quando grava um disco, espera que suas músicas signifiquem algo pra alguém. E que nunca sentiu tanto que elas tinham significado como naquela noite. Não foi pra pouco: a participação do coro foi quase ininterrupta até ali.

Então Mayer sai do palco, deixando os fãs com um vídeo em que reapresenta o conceito do John Mayer Trio, um projeto que realizou em 2005 para dar vazão à sua veia mais blueseira. Para os fãs que acompanhavam sua carreira até aquele momento – com hits como “Your body is a wonderland” e “Bigger than my body” -, o Trio foi uma mudança 180º de sonoridade. A montagem traz imagens daquela época, do memorável DVD Where The Light Is, com show num formato similar, e entrevistas de Mayer, Palladino e Jordan. Quando retornam ao palco, John carrega nas guitarras (muitas delas reconhecíveis para quem assistiu o já longínquo DVD), Jordan vai para um dos seus kits montados especialmente para essa parte do show e Pino assume uma persona mais descolada, de óculos escuros e jaqueta de couro.

É a hora dos acordes mais intensos, da troca de olhares entre o trio em uma sintonia palpável. O JM3 foi a válvula de escape para Mayer homenagear seus heróis – Hendrix, Vaughan, Clapton, e foi isso que ele entregou no palco. “Crossroad Blues”, de Robert Johnson, surgiu pesada, seguida por “Vultures” e “Wait until tomorrow”, de Jimi Hendrix. Esse capítulo do show, embora o mais interessante musicalmente, também foi o mais curto.

Em seguida, a banda retornou ao palco para a última parte, toda dedicada ao disco Continuum. “Belief”, “I don’t trust myself (with loving you)”, “Slow dancing in a burning room” (com direito à introdução de “Comfortable”, ainda do primeiro disco, feita pelo talentoso guitarrista David Ryan Harris), “Stop this train” e “Waiting on the world to change”. Mayer se despede do público e retorna para o bis, com mais um gostinho do novo disco (“In The Blood”) e “Gravity”, com os backing vocals citando “I’ve got dreams to remember”, de Otis Redding. Sobem os créditos, fim de filme.

John Mayer se despediu de sua turnê no Brasil impressionando o público. Na sua primeira vinda ao país, para o Rock in Rio 2013, o artista acabava de se recuperar da cirurgia que removeu um nódulo de suas cordas vocais. Talvez por isso, tenha se dedicado a influências country e o folk que deram origem aos discos Born and Raised e Paradise Valley. Já no novo disco, Mayer arrisca melodias mais pop, notas mais agudas, ao mesmo tempo em que mantém a pegada lírica dos dois trabalhos anteriores. Embora não chegue a ter o mesmo sucesso comercial e radiofônico de antes, o público brasileiro deu a entender que a versão ao vivo de The Search for Everything deu certo.