1967. Um ano em que muita coisa acontecia no Brasil. Uma ditadura recém-instaurada veio acompanhada de uma nova constituição, e de uma lei que autorizava a censura de redações e rádios. Além disso, instaurava-se uma nova moeda: o cruzeiro novo. Ao mesmo tempo, o movimento hippie e o início do Tropicalismo se mostravam indícios de uma revolução cultural. Vários elementos contribuiriam para uma revolução na música brasileira.
Mas quem fazia sucesso nas rádios brasileiras? Nomes como Nara Leão, o jovem Chico Buarque e Edu Lobo representavam o lado da MPB. Já do lado do rock n’ roll, tínhamos a força de Roberto Carlos e a galera da Jovem Guarda. Todos os cariocas eram oriundos das áreas mais nobres do Rio: músicos que moravam em Copacabana, Tijuca, Leblon…
Foi no final desse ano, em meio a toda essa confusão, que nasceu Marcelo Maldonado Peixoto, no bairro de São Cristóvão, no Rio. Um pouco afastado da zona sul da cidade, onde as coisas “realmente aconteciam”, o pequeno Marcelo teve uma infância difícil, mas deu a volta por cima para se tornar um dos mais importantes nomes da música nacional.
Planet Hemp
Quando se mudou para a Rua do Catete, após enfrentar problemas familiares, foi quando sua vida musical começou, graças ao Planet Hemp. Skunk, um dos precursores do grupo, era vendedor de camisas no bairro e tinha emprestado uma fita do Dead Kennedys para Marcelo. A amizade com Skunk fez Marcelo passar a acreditar na carreira de músico.
Skunk morreu em decorrência da AIDS em 1994. Mas a entrada de BNegão no grupo fez com que o Planet decolasse de vez. Em 1995, o grupo lança o primeiro álbum, Usuário. Nesse momento, nascia a imagem pública de D2 como usuário de maconha. Os membros da banda foram presos, acusados de apologia às drogas, em 1997.
Carreira solo e “1967”
Não satisfeito com o sucesso do Planet, D2 resolveu investir em carreira solo. Já sendo um nome conhecido no cenário musical carioca, a gravação do álbum se deu de forma mais simples. Em 1998, já após ter saído da prisão, o cantor lançou Eu Tiro É Onda.
Foi nesse álbum que fomos apresentados à delicada e bela “1967“. Sim, o nome remete justamente ao ano de nascimento de Marcelo. A música foi a primeira a conquistar sucesso comercial ao ponto de alcançar a rádio. Trata-se de uma biografia de sua vida, contada através de música. Um resumão de sua vida até então.
Foi inspirada na canção “Espelho“, de João Nogueira (um de seus maiores ídolos). Na canção, D2 conta que não se arrepende do que fez até chegar onde chegou. Dentre os “delitos” estavam pichações de muro e roubo em supermercados. Na música, ele faz referência também ao grande colega Skunk, relembrando a época em que vendiam camisas na Rua 13 de Maio.
https://www.youtube.com/watch?v=oK6asoK7_xA
Apesar da infância difícil comparada à da maioria dos músicos que faziam sucesso na época em que nasceu, ele deixa claro que aproveitava sua vida da maneira que conseguia, mesmo sem os luxos dos mais ricos. Frequentava o Cassino Bangu, os jogos no Maracanã e os shows do Circo Voador. O samba está nas suas veias também desde pequeno, quando frequentava a quadra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel.
Eu vim para zoar, vim para fazer barulho. Falar um pouco de mulher, skate, som e bagulho.
“Meu Samba É Assim”
D2 saiu do Planet em 2003, ano em que lançou seu segundo álbum de estúdio, A Procura da Batida Perfeita. A partir daí, começa a fase que destacaria Marcelo no cenário musical brasileiro: a mistura entre hip-hop e samba. Apesar das mais variadas influências, que variavam desde Bezerra da Silva até Kool & The Gang e Grandmaster Flash, o cantor inovou ao homenagear em suas canções dois estilos que surgiram das periferias e que tomaram gradativamente todo o país.
Essa estética musical, no entanto, passou a ser mais explorada a partir do seu terceiro álbum solo, Meu Samba É Assim. Em entrevista ao Gshow, ele falou sobre a ideia de misturar os estilos:
O rap começou sampleando o funk americano. O que eu pensei anos atrás, quando comecei, foi que para dar uma identidade brasileira ao ritmo o caminho natural era usar o samba
O último álbum de inéditas, Nada Pode Me Parar, foi lançado em 2013.
Feliz aniversário, D2!