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Bad Religion, Dead Fish e uma tarde memorável no Rock Station 2017

Evento de aniversário da rádio 89FM reuniu Bad Religion, Pegboy (pela primeira vez no Brasil), Samiam, Teenage Bottlerocket e Dead Fish. Confira como foi!

Bad Religion
Foto por Vitor Malheiros

Inspirado no tradicional festival Punk Rock Bowling, que acontece em Las Vegas, o Rock Station surgiu no ano passado trazendo para São Paulo as bandas The Offspring, Dead Kennedys e Anti-Flag.

Para a edição de 2017, que celebrou o aniversário de 32 anos da Rádio Rock 89FM, o line-up foi novamente incrível com Bad Religion, acompanhado de Pegboy, Samiam e Teenage Bottlerocket, além do clássico brasileiro Dead Fish.

Mais uma vez, o Espaço Das Américas foi o palco do evento. A grande movimentação aos arredores era dividida entre o público punk rocker que fazia o esquenta para o show e os estudantes que foram prestar o Enem logo ao lado, em uma unidade da Universidade Nove de Julho.

Quem optou por entrar cedo não teve muita espera, já que a pontualidade foi um dos pontos fortes do festival. Exatamente às 15h30, o Teenage Bottlerocket subiu ao palco para um público bastante pequeno se considerarmos as dimensões da casa. Entretanto, o número reduzido de pessoas não comprometeu a apresentação.

Teenage Bottlerocket por: Vitor Malheiros

Abrindo o set com as músicas “Freak Out” e “Skate Or Die”, Ray Carlisle (vocal e guitarra), Kody Templeman (vocal e guitarra), Miguel Chen (baixo) e Darren Chewka (bateria) animaram os pequenos aglomerados nas grades das pistas comum e premium. Durante exatos 40 minutos, o grupo fez um show certeiro e com velocidade para um público que, mesmo não conhecendo as músicas, foi participativo.

Formado no início dos anos 2000, na pequena cidade de Laramie, no estado de Wyoming, o Teenage Bottlerocket já havia vindo ao Brasil em 2014 e, no dia anterior, tocou com o Pegboy, também em São Paulo, em um aquecimento para o Rock Station.

Ao interagir com os presentes, Ray mencionou uma canção para seu irmão gêmeo, Brandon Carlisle, que foi o baterista da banda até sua morte, no final de 2015. O vocalista falou também sobre conhecer Habib’s e Skol e ainda desceu para cantar junto com o público da pista.

“Dead Saturday” e “Cruising For Chicks” foram as faixas responsáveis pelo encerramento do repertório, e o grupo deixou o palco bastante agradecido pela receptividade da galera.

Além do espaço tradicional do local, o Rock Station teve ainda o Park 89, uma área externa com food trucks e um palco secundário com as bandas Malvaletes, P.M.A. Trio e Trankera, vencedoras do concurso Temos Vagas. Exceto no começo, quando ainda chovia um pouco, foi um lugar ideal para trocar aquela ideia com os amigos e curtir um outro som entre uma atração e outra.

Samiam por: Vitor Malheiros

Seguindo o cronograma, às 16h30 Thiago DJ, que fez a discotecagem entre os shows e estava anunciando as bandas, comunicou que era a vez do Pegboy se apresentar. Quando as cortinas se abriram nos deparamos com o Samiam! Pois é…

O vocalista Jason Beebout levou a confusão com bom humor e corrigiu o erro. Em seguida, deu início a “80 West”. Com quase 30 anos de carreira, a formação atual do grupo conta também com Sergie Loobkoff (guitarra), Sean Kennerly (guitarra), Chad Darby (baixo) e Colin Brooks (bateria).

Vindo pela terceira vez ao país, a banda se apresentou no dia anterior no Rio de Janeiro, ao lado das brasileiras Plastic Fire e Menores Atos. Já bem conhecido do público por aqui, o grupo contou com a participação vocal dos presentes cantando junto em faixas como “Full On”, “Ordinary Life” e “Super Brava”, além dos sucessos “Capsized” e “She Found You”.

Entre uma música e outra, o vocalista mandava um “obrigado” e se mostrava empolgado com a participação de todos, apesar de ainda haver um grande buraco entre as duas pistas e alguns fãs estarem curtindo mais de longe com um monte de espaço na frente.

Som melódico e guitarras trabalhadas e, em 50 minutos de show, o Samiam conseguiu fazer um apanhado geral da sua carreira e satisfazer os fãs que esperavam pelo retorno da banda há oito anos. Para finalizar, mandaram “Take Care” para uma plateia já mais cheia do que quando a apresentação iniciou.

E era chegado o tão aguardado show do Pegboy. A banda, que é um clássico dos anos 90 e nunca havia tocado no Brasil, foi o motivo de diversos fãs das antigas terem se deslocado de longe para vê-la nas duas apresentações que realizou em São Paulo.

Pegboy por: Vitor Malheiros

Às 17h40, Larry Damore (vocal e guitarra), John Haggerty (guitarra), Mike Thompson (baixo) e Joe Haggerty (bateria) entraram em cena e o vocalista foi logo se jogando na galera da grade ao som de “Not What I Want”.

De início já dava para saber que espera de anos valeu a pena. Mesmo realizando shows apenas esporadicamente, todos os integrantes mostraram energia e muita vontade. O frontman foi um espetáculo a parte, dando um show de carisma ao estar sempre em contato direto com os presentes, seja cantando junto ao microfone ou abraçando e apertando as mãos.

Sempre de um lado para o outro, o vocalista se mostrou muito feliz em estar ali. O repertório incluiu os três discos de estúdio da banda e teve faixas mais conhecidas como “Field Of Darkness”, “Still Uneasy”, “Superstar” e “Strong Reaction”.

Certamente o Pegboy não apenas deixou seus fãs muito satisfeitos como também conquistou o público que não está familiarizado com o trabalho da banda. Foi uma performance memorável, encerrada com “Hardlight”.

Às 19h a casa já mostrava que iria encher. Fugindo do tradicional line-up em que a banda nacional é a primeira a se apresentar, o Dead Fish abraçou a responsa de ser a última atração a tocar antes do headliner.

Dead Fish por: Vitor Malheiros

Rodrigo Lima (vocal), Rick Mastria (guitarra), Alyand (baixo) e Marcão (bateria) mostraram que foram a escolha perfeita para o festival. Desde a abertura com “Autonomia” e “A Urgência”, os presentes participaram muito, cantando e mandando ver no mosh. A grande maioria de quem compareceu para ver as atrações gringas também é fã de Dead Fish e a banda capixaba subiu ao palco com o jogo ganho.

Vieram “Tão Iguais”, “Escapando”, “Selfegofactóide” e uma fala sobre como as mídias televisivas e impressas mentem. Roda na pista e todos cantando em alto e bom som as faixas “Molotov”, “Zero e Um” e “Queda Livre”.

Entre discursos políticos e piadas, o vocalista Rodrigo comandava o Espaço das Américas. Com um setlist diversificado, tivemos ainda faixas como “Contra Todos”, “Asfalto” e “Just Skate”.

Ao dizer que estava apenas atendendo ao pedido de uma fã, Rodrigo anunciou “Noite”, detestada por muitos e adorada por outros. Já em “MST”, o vocalista aproveitou para falar sobre os danos do agronegócio e a urgência de uma reforma agrária.

Com um sequência matadora de “Sonho Médio” e “Afasia”, o show caminhava para o final. Para “Proprietários Do Terceiro Mundo”, Rodrigo pediu que em vez de cantar “liberdade!” na deixa para o público, os fãs gritassem “fora, Temer!”. Pedido feito, pedido atendido.

Após 1h de show, a banda se despediu do palco com “Bem-Vindo Ao Clube” e um último pedido do frontman: “continuem vegetarianos, continuem pela esquerda”. E que assim seja.

Bad Religion por: Vitor Malheiros

Por fim, era chegada a hora da banda mais aguardada. Apesar das muitas apresentações em solos brasileiros, o Bad Religion sempre carrega uma legião de fãs por onde passa. Ao longo dos anos, já foram diversos shows em diversas cidades, mas ver ao vivo um dos principais nomes do punk rock nunca é demais.

O Espaço das Américas já estava bastante cheio e a ansiedade era notável. O relógio marcava 20h30 quando Greg Graffin (vocal), Brian Baker (guitarra), Mike Dimkich (guitarra), Jay Bentley (baixo) e Jamie Miller (bateria) subiram ao palco.

“Recipe For Hate” deu o start para a insanidade nas duas pistas. Bate cabeça generalizado e o Espaço Das Américas a uma só voz. Com “Supersonic”, “Prove It” e “Can’t Stop” começaram as primeiras tentativas fracassadas dos fãs invadirem o palco.

A segurança reforçada tentava impedir que as pessoas pulassem a grade ou subissem umas nas outras ali perto, mas lá no meio mesmo o mosh seguia loucamente. Falando pouco e tocando muito, o grupo ia emendando uma música na outra com algumas pequenas pausas aqui e ali para o vocalista agradecer ou fazer algum comentário rápido.

Depois de faixas como “Stranger Than Fiction” e “I Want To Conquer The World”, Greg Graffin mencionou que o disco No Control já tem quase 30 anos de lançamento. Com isso, a banda mandou uma sequência de canções desse álbum, incluindo “Change Of Ideias”, “Sanity” e a faixa-título do trabalho.

Bad Religion por: Vitor Malheiros

Passando por “Los Angeles Is Burning”, o repertório foi abrangente e cantado do início ao fim pelos fãs. As pistas viraram uma massa de gente se empurrando e cantando muito alto. Graffin conduzia seus fãs, eufóricos e visivelmente satisfeitos por estarem lavando a alma naquela apresentação.

Com muita energia e empolgação, o vocalista convocou a todos em “Come Join Us”, seguida de “Generator”. Uma verdadeira aula, não apenas pela grande performance, mas pelas letras com discursos sempre tão atuais.

“Sorrow” levou o show para o final e grupo saiu do palco, voltando logo em seguida para o bis com “Punk Rock Song”, “Fuck Armageddon… This Is Hell” e o hit “American Jesus”. No fim das contas, um fã realmente conseguiu invadir o palco, para desespero da organização, que o retirou rapidamente.

Bad Religion fez um grande show, com clássico atrás de clássico e mais de 30 músicas em 1h30. Belíssima sintonia entre público e banda, que ainda tem fôlego de sobra depois de quase quatro décadas de existência. E que comece a contagem regressiva para o retorno do grupo.