Nos dias 15, 16 e 17 de Dezembro aconteceu em Curitiba a primeira edição do Festival Estopim.
O evento nasceu como uma ideia da produtora Arnica Cultural, que já há algum tempo tem levado nomes dos mais interessantes da música nacional à capital paranaense, que merece e precisa de iniciativas assim para voltar a ser um ponto de referência quando o assunto é cultura.
Proibidos pela prefeitura de realizarem a festa na sede onde abrigam suas iniciativas, os responsáveis pela Arnica levaram os shows para o Hermes Bar, e o que vimos por lá foram dois dias incríveis de muita festa.
Painéis
Antes dos shows, porém, rolaram três painéis no dia 15, esses sim na própria Arnica, e eu tive a oportunidade de mediar um deles sobre iniciativas independentes que contou com nomes que estão fazendo acontecer em Curitiba e no Brasil quando o assunto é divulgar boa música.
Estiveram ao meu lado Rodrigo Chavez (Arnica Cultural), Letícia Tomás e Hannah Carvalho (PWR Records), Luciano Faccini (Água Viva Concentrado Artístico) e Rodrigo Pinto com Matheus Matovani, ambos da Onça Discos.
Antes do nosso papo que rendeu discussões sobre as realidades, as dificuldades e o prazer de realizar seus trabalhos de forma independente, dois outros painéis também geraram discussões para um ótimo público que compareceu desde cedo para assistir às conversas.
Sobre os festivais no Sul, falaram Bia Zanette (Santa Produção), Michelle Hesketh (Musicletada e Ruído CWB), Alexandre Osiecki (Psicodália) e Jonas Bender Bustince (Festival Enxame).
Já na conversa sobre autogestão de carreira, participaram Heitor Humberto, Macloys Aquino e Salma Jô (Carne Doce), Kaila Pelisser e Katherine Zander (Cora) e Otávio Madureira e Vitor Salmazo, ambos do Machete Bomb.
Foi uma oportunidade incrível para ver de perto e conversar com pessoas que estão vivendo a música diariamente e fazendo as coisas acontecerem; também foi muito bonito perceber como as pessoas estavam entrando no debate, anotando considerações e perguntando a respeito do que viam por ali.
Sábado (16/12)
No Sábado a programação do Festival Estopim começou em ritmo de balada com o Loop Room aquecendo os motores enquanto a galera ainda chegava ao Hermes Bar.
A primeira atração da noite no palco foi a banda curitibana Mulamba e definitivamente esse é um nome sobre o qual você irá ouvir falar muito em 2018.
As incríveis mulheres da banda realizam um show impactante, cheio de energia e com uma carga de questionamento social e político intensa o tempo todo. Houve parcerias com dançarinas que vieram da plateia e abrilhantaram ainda mais a apresentação com suas coreografias.
Além de músicas próprias como “Mulamba” e “P.U.T.A” ainda vieram covers como a de “Maria da Vila Matilde”, da Elza Soares, e tal qual o disco A Mulher do Fim do Mundo, celebrado no país todo, o show da Mulamba é uma mistura de música brasileira e rock, tudo na medida certa em uma performance de respeito. Outra artista celebrada no set foi a saudosa Cássia Eller, em mais um momento intenso do show.
Que venha um disco de estúdio, por favor.
Carne Doce
Quem tocou logo depois foi a banda goiana Carne Doce, que esteve em Curitiba durante todo o final de semana, participou dos painéis, confraternizou e se divertiu tanto em cima do palco quanto fora dele.
Em um show muito mais calmo que o da Mulamba, o grupo trouxe um contraste que ao mesmo tempo em que mostra um show intimista, perfeito para locais como o Hermes Bar, também tem a potência da vocalista Salma Jô tanto em seus vocais quanto em sua presença de palco e sua entrega com a sonoridade refletida em tantas danças e gestos.
Foi delicioso passear pela música do Carne Doce recheada de elementos de sua terra natal aliados ao indie, à psicodelia e à música brasileira. Já tínhamos presenciado shows do grupo em palcos e festivais maiores, e vê-los de perto, prestando atenção nos detalhes, é uma experiência ainda mais rica.
Trombone de Frutas
Por fim veio o Trombone de Frutas, grupo que gravou várias vinhetas divertidas para divulgar o festival e conta, inclusive, com Rodrigo Chavez na formação, produtor da Arnica e colega de painel desse que aqui escreve, tanto no Estopim quanto na SIM SP.
A banda faz uma mistura cheia de graça com instrumentos de sopro, música alternativa, roupas floridas e muita diversão.
Ao mesmo tempo em que várias pessoas à frente do palco cantaram com o grupo, outras tantas se divertiram com suas canções e tiveram um grande encerramento para a primeira noite do Estopim 2017.
Domingo (17/12)
O Hermes Bar encheu mais cedo do que na noite anterior e quando o trio Tuyo subiu ao palco para mostras as suas canções, muita gente estava ali para acompanhar as garotas e o rapaz.
Aqui vale comentar, inclusive, que essa foi uma tendência durante todos os shows do Festival Estopim: quem estava ali e conhecia cantou tudo junto, e quem estava conhecendo se empolgou e aprendeu com os fãs. Foi lindo.
O Tuyo conta com uma base acústica associada a alguns beats que servem como pano de fundo para o jogo de vozes incrível de Lilian e Layane, que preenchem o palco e fazem você prestar atenção do início ao fim nas canções que falam sobre tragédias pessoais de todos os tamanhos.
Lilian, inclusive, é a integrante do trio que conversa com a plateia e em todas as oportunidades que o fez, quebrou o gelo das letras da banda com muito bom humor e piadas das mais variadas. Foi ela que avisou, logo no começo, que quem tinha ido ali para se divertir “se fodeu”, porque o show era pura sofrência. Depois, ela até deu o endereço do trio ao microfone, recebendo então ofertas de entrega de pizza vindas da plateia.
A sensibilidade da Tuyo aliada a talentos natos fez com que a noite começasse em grande estilo, mesmo que destoasse do que viria mais à frente em termos musicais. Foi massa demais.
Tagore
A noite prosseguiu com Tagore e sua habilidade única de misturar psicodelia a ritmos nordestinos.
As roupas dos integrantes da banda combinavam muito bem com as samambaias penduradas acima do palco e a viagem esteve garantida em um show que tem sido muito elogiado Brasil afora.
Assistir à banda é como fazer um verdadeiro passeio pelo que há no mundo da música alternativa e na nova música brasileira, que tem lançado tanta coisa de qualidade ultimamente.
As guitarras marcantes são usadas para fazer o público viajar pela psicodelia do grupo e recomendamos muito a experiência.
Francisco, El Hombre
Por fim, o Festival Estopim e o Hermes Bar receberam o verdadeiro furacão que é a banda Francisco, El Hombre quando sobe a um palco.
O grupo de São Paulo fazia ali o último show de 2017, e falou várias vezes sobre como queria ver todo mundo pulando, dançando, suando e saindo dali de alma lavada, não medindo esforços para proporcionar a trilha sonora perfeita para isso.
Vieram hits como “Bolso Nada”, “Calor da Rua”, uma belíssima performance de “Triste, Louca ou Má” e até músicas inéditas, apresentadas e com seus refrães devidamente ensinados, para que todo mundo cantasse junto já na primeira execução.
Apesar de problemas técnicos com a bateria de Sebástian e seu microfone, o show foi intenso, catártico e se mostrou um fechamento perfeito para simbolizar o que vivemos hoje na música brasileira e o que vimos no Estopim: a música que vem dos palcos reverbera com o público, que consome, prestigia e se torna parte de um ecossistema muito maior do que a tradicional relação banda-artista.
O final veio com “Tá Com Dólar, Tá Com Deus”, Mateo no chão com a galera, as outras bandas todas invadindo o palco e um encerramento onde o grupo foi literalmente carregado pela plateia em seus braços.
Todo show do Francisco, El Hombre é garantia de diversão, como vimos no Festival TMDQA! em Abril, e presenciar explosões de energia como essa não apenas é recomendado, como necessário em tempos tão difíceis como os que vivemos.
O Estopim teve bandas incríveis, barraquinhas de merch, disco de vinil, pizzas deliciosas, drinks com caldo de cana e muita gente correndo pra fazer acontecer. Deu certo, foi foda e agradecemos o convite por termos visto tudo isso de perto. Vida longa!