Depois de Roger Waters e Thurston Moore criticarem shows em Israel por conta dos problemas com a Palestina, a última artista a se posicionar em relação ao assunto foi a neozelandesa Lorde, que acaba de cancelar a sua apresentação em Tel Aviv marcada para o dia 5 de Junho de 2018.
A cantora tomou a decisão após ter sido impactada por diversas mensagens de fãs, ativistas da causa e uma significativa carta aberta escrita por duas neozelandesas, uma judia e outra descendente de palestinos.
A cantora soltou um comunicado para os organizadores do evento na véspera do Natal anunciando a sua decisão:
Hey pessoal, então, sobre esse show em Israel — eu recebi um número gigantesco de mensagens e cartas e tive muitas discussões com pessoas que abraçam diferentes pontos de vista sobre o assunto, e eu acho que a decisão correta a ser tomada agora é a de cancelar o show. Eu me orgulho de ser uma jovem cidadã informada, e eu li muito a respeito e busquei absorver muitas opiniões antes de decidir agendar um show em Tel Aviv, mas eu não estou me sentindo orgulhosa em admitir que eu não tomei a decisão correta naquela ocasião. Tel Aviv, é um sonho meu há muitos anos poder visitar essa parte maravilhosa do mundo, e eu peço desculpas de verdade por voltar atrás no meu compromisso de tocar para vocês. Espero que um dia todos nós possamos dançar.
Apesar da comemoração de uma boa parcela das pessoas que defendem o boicote, uma pessoa em especial não ficou muito satisfeita com a decisão da cantora: o embaixador israelense na Nova Zelândia, Dr. Itzhak Gerberg. Ele publicou uma carta aberta à Lorde essa semana solicitando uma reunião para que tratassem sobre o assunto. Leia abaixo:
Cara Lorde,
É lamentável que você tenha cancelado o seu concerto em Tel Aviv, desapontando todos os seus fãs em Israel.
A música é uma linguagem maravilhosa de tolerância e amizade, que une as pessoas. O seu show em Israel poderia ter espalhado a mensagem de que as soluções vem do engajamento construtivo que leva ao compromisso e à cooperação. A música deveria unir e não dividir, e sua performance em Israel teria contribuído para o espírito de esperança e paz no Oriente Médio.
Boicote e ódio, por outro lado, representam hostilidade e intolerância e foi com pesar que eu vi você sucumbir aos apoiadores de um pequeno grupo fanático do Movimento BDS (Boicote – Desinvestimento – Sanções) que nega o direito do estado de Israel de existir e espalha ódio e animosidade.
Eu a convido para que nos encontremos pessoalmente para discutir o assunto Israel, nossas conquistas e o papel desse estado como a única democracia existente no Oriente Médio.
Atenciosamente,
Dr Itzhak Gerberg
Não é de hoje que o cenário político e social é tenso na região do Oriente Médio próxima ao Mar Mediterrâneo que envolve Israel, Jordânia, Cisjordânia e os constantes conflitos entre israelenses e palestinos sobre o controle das terras da faixa de Gaza.
Além da controvérsia histórica sobre a criação do estado de Israel, mais recentemente as políticas de expansão dos limites do país através de novos assentamentos ilegais de terra, assim como a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que irá transferir a embaixada norte americana para a cidade de Jerusalém, rompendo um pacto de divisão da cidade sagrada que dura há anos, deixaram a situação ainda mais delicada na região.
Boicote no mundo musical
Fora do cenário político, também existem disputas dentro do mercado do entretenimento sobre a necessidade de tomar partido ou se manter indiferente em relação à apresentações dentro do estado de Israel, que impõe um regime semelhante ao apartheid, oprimindo o povo palestino.
Já mencionamos em outras ocasiões que Roger Waters se tornou uma espécie de ativista que prega que outros músicos e bandas não performem no país, criticando recentemente o Radiohead pela realização de um show na capital Tel Aviv, assim como o fez com Nick Cave também.