Música

Sobre Julian Casablancas, suas músicas terríveis e a fama do The Strokes

Ao lançar singles do seu novo disco de estúdio com o Voidz, Julian Casablancas mostra que pode disponibilizar qualquer coisa e terá base fiel de seguidores.

Julian Casablancas em clipe do The Voidz

Julian Casablancas está de volta em 2018.

No dia 30 de Março ele irá lançar o segundo disco do The Voidz, projeto com o qual já lançou outro álbum e excursionou, usando anteriormente o nome Julian Casablancas + The Voidz.

Virtue será o segundo álbum da banda, o terceiro “solo” de Julian e uma prova real e contundente de que o sucesso do The Strokes ainda garante bons frutos para seus integrantes, ainda que seus lançamentos sejam abaixo da média, por assim dizer.

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Tyranny, primeiro disco do Voidz lançado em 2014, está longe de ser um primor. Há algumas passagens interessantes como as experimentações em “Human Sadness” mas é um trabalho inconsistente que na melhor das hipóteses ganhou uma nota 6 de veículos especializados no assunto.

Pois bem, quatro anos depois o Voidz está de volta e há alguns dias começou a dar sinais do que vem por aí em Virtue, e pra ser honesto, é difícil de engolir.

Um dos singles, “Leave It In My Dreams”, tem toda a cara do The Strokes, mas sem grandes novidades e sem uma performance afiada de Julian Casablancas, que segue fazendo mais do mesmo com outro nome.

Já “QYURRYUS”, que ganhou até clipe oficial, mostra como o vocalista sabe que pode basicamente lançar qualquer coisa que ainda terá público, holofotes e muitos seguidores.

A canção é uma ode aos anos 80, tem influência da música oriental, traz vocais dos mais diversos, guitarras dispersas, autotune e definitivamente não chamaria nenhuma atenção ou até seria motivo de piada caso fosse lançada por um artista desconhecido.

Seu clipe também não ajuda muito e por várias vezes parece que o vídeo todo (disponibilizado de propósito em baixa qualidade) é uma grande piada, mas basta se lembrar que os integrantes do grupo também aparentam estar vivendo em um período que se situa há mais de três décadas na vida real.

Teve gente comentando que Casablancas é um homem “à frente do seu tempo” e que essa música “complexa” realmente seria difícil de digerir, mas com todo o respeito possível, é difícil aceitar a tese de que a inovação musical virá a partir de batidas dos anos 80 acompanhadas de músicos experientes e seus mullets. A molecada fazendo som mundo afora tá aí para provar o contrário.

Virtue será um lançamento da Cult Records, gravadora do próprio Julian, mas terá distribuição da RCA, gravadora filiada a uma das três majors do planeta, a Sony Music, então apesar do artista estar lançando o que quer porque manda no seu selo mesmo, ainda é difícil entender motivos para que ele seja divulgado mundo afora por uma gravadora grande que não estejam ligados à fama em anos distantes.

Ao vivo a gente já viu que o Voidz vai muito mal: estivemos no Lollapalooza Brasil em um dos piores shows daquele dia e recentemente o grupo voltou pra cá, se apresentou no Rio de Janeiro e não foi nada bom.

Sendo assim, é um exercício dos mais interessantes perceber que quando o sucesso de um artista atinge níveis como o do The Strokes, acaba refletindo na cultura popular por longas décadas, e basta ver os comentários elogiando as novas canções de Julian Casablancas e seu Voidz para constatar que, honestamente, ele poderia lançar qualquer coisa.

Relevância

Quando estava fazendo a matéria, eu me deparei com um tweet do Marcos Xi, colega do RockinPress, e a coincidência virou um convite para que ele falasse a respeito por aqui.

Para ele, a curiosidade em relação ao Voidz foi imensa no começo e depois, à medida que a banda lançava novos materiais, foi caindo, ainda que conte com uma boa base de seguidores em relação a um projeto similar que estivesse em início de carreira:

O melhor argumento na questão da relevância do trabalho dele vem em números: O The Voidz nasceu justamente num período onde o Strokes era dado como possível finado e, assim, qualquer lançamento inédito do seu líder seria dado como notícia principal e destaque em qualquer mídia. Porém, tirando os dois clipes de estreia (onde a curiosidade é sempre maior), os resultados são tão pífios que o vídeo mais bombado do Voidz no mundo todo é da prévia do álbum e não de outras músicas ou performances ao vivo. Um número alias bem modesto para os moldes potenciais de Julian: 400 mil views.

Claro que no campo do achismo tudo é possível, porém o The Voidz soa mais como uma resposta do Julian às críticas das mesmices sonoras repetidas pelos Strokes em seus discos, como se ele estivesse provando que é um gênio e consegue fazer algo complexo e inteligente além de um simples produto comercial.

A participação do Julian no Daft Punk rendeu demais. Com o grupo cômico musical The Lonely Island superou qualquer expectativa. Até o dueto pago com Pharrell e seu NERD e Santogold deu ótimos resultados. Por que então só o The Voidz rende tão pouco? Será que a culpa não é do próprio resultado apresentado?

E aí?

Não há “culpados” aqui, e a ideia é fazer um exercício de reflexão a respeito da relevância artística de trabalhos como o novo disco do Voidz e a maneira como a indústria comercializava e construía seus ídolos até a metade dos anos 2000, quando a Internet chacoalhou o mercado e tirou o status de “super heróis” dos artistas que aparecem na mídia.

Será que uma banda que fizer um sucesso gigantesco hoje em dia terá o mesmo tipo de percepção e “resultado” daqui a alguns bons anos? Será que chegaremos a ter uma banda com tanto sucesso como teve o The Strokes no Rock And Roll? Será que os fãs do grupo têm algum tipo de senso crítico quando o assunto são os novos lançamentos dos seus integrantes ou suprem a falta de discos da banda com as músicas que, mesmo que remotamente, lembrem seus ídolos?

Entre tantas perguntas só temos uma certeza: Julian Casablancas sabe que pode aproveitar o sucesso que teve principalmente entre 2000 e 2006, e sabe que funciona muito bem. Afinal de contas, estamos aqui falando sobre seu disco novo e mostrando seus singles e clipes, não é mesmo?

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