Entrevistas

Conversamos com O Terno sobre próximo disco e show no Lollapalooza

Batemos um papo super interessante com O Terno, que toca no Lollapalooza deste ano. A banda está se preparando para compor seu novo disco de estúdio.

O Terno
Foto: Divulgação

Por Nathália Pandeló Corrêa

O Terno é uma daquelas bandas que o público que acompanha a música nacional viu crescer.

Do álbum 66, em que apresentou sua sonoridade inspirada pela psicodelia brasileira e pelo rock de garagem, foi uma longa jornada. Apenas dois anos depois, em 2014, viria o disco homônimo, mais encorpado em sonoridade. Por fim, em 2016, o trio lançou Melhor Do Que Parece, em que elevou o seu potencial pop a um novo patamar, entregando canções melancólicas travestidas em baladas.

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A cada lançamento, uma nova gama de possibilidades se abria para a banda formada por Martim Bernardes, o Tim (guitarra e voz); Guilherme d’Almeida (baixo); e Biel Basile (bateria). O sucesso de crítica se transformou em clipes virais e passagens por palcos como o dos festivais Planeta Terra, Lollapalooza, Primavera Sound (Espanha) e Brasil Summerfest (Nova York). Agora, O Terno já trabalha em canções do sucessor de Melhor Do Que Parece e se prepara para seu segundo show no Lollapalooza, em São Paulo.

Enquanto tudo isso acontece, o vocalista Tim Bernardes se dedica também à divulgação de seu primeiro álbum solo, Recomeçar. Conversamos com ele há pouco tempo sobre o disco, que acabou ficando no nosso top 3 de lançamentos nacionais de 2017! Agora, retomamos a conversa para saber em que pé andam os planos para novas músicas com a banda e como o artista vê a cena brasileira da qual O Terno faz parte. Confira abaixo:

TMDQA!: Olá Tim, tudo bem? Na última vez que conversamos, estávamos na pauta do seu disco solo, e agora cá estamos nós falando do Terno. Como é ficar entre esses dois repertórios?

Tim Bernardes: De alguma forma, os shows do Terno acontecem simultaneamente a tudo isso. E agora é um repertório que tá mais assimilado. A gente fez o disco, depois realizamos vários shows, agora num formato diferente com os sopros. Então eu diria que tá mais tranquilo, de tocar e curtir mesmo. A gente não tá tão preocupado em tocar tudo certinho, já tá bem internalizado (risos). Tem sido uma forma de dar um respiro de um ano em que muito aconteceu e trazer coisas novas. E esses shows diferentes acabam se compensando. No meu, eu faço algo mais tranquilo e íntimo, enquanto com a banda eu tenho a oportunidade de fazer algo mais solto mesmo.

TMDQA!: Esse é o segundo Lollapalooza de vocês, sendo que já tocaram também no Primavera Sound, fizeram show em Nova York, Portugal… Quer dizer, O Terno tá rodado! (Risos) Agora que já fizeram alguns festivais, o que o Lolla desse ano tem pra vocês como um tempero especial?

Tim: Sim! (Risos) Bem, tem esse lance dos sopros. Teremos o repertório do Melhor Do Que Parece e dos outros discos também. Esse é um show que é divertido pra gente, é legal de fazer. Além disso, vai ser uma oportunidade de ver na nossa frente como o público mudou. O Lolla foi legal em 2015 por isso, a gente tinha feito a transição do primeiro para o segundo disco e pôde ver ali o nosso público maior, gente de todo lugar do Brasil. E agora vai ser um novo capítulo, de ver quem segue O Terno, e ter uma representação de como é o nosso público hoje.

TMDQA!: Pois é! Ainda nesse papo de repensar o show… Vocês já estão entrando no terceiro ano da fase do Melhor do Que Parece, se você for pensar bem, porque lançaram em 2016. Tem esse lance dos metais, por exemplo. Como é se reinventar quando se está há tanto tempo no palco com o mesmo repertório?

Tim: Sim. Tipo, eu acho que o negócio dos sopros ainda é muito recente. A gente já tinha instrumentado o show no início da turnê, mas não conseguia viajar com ele. Fomos conseguir viajar com ele outubro do ano passado, ou novembro… Fizemos Porto Alegre, BH, Recife. Agora o show pegou no tranco, tá legal, não passou por muitas cidades ainda. É legal que por ter os sopros, eu posso largar a guitarra um pouco, cantar com o pessoal, é divertido.

TMDQA!: Vocês comentaram de ver o público crescendo. O que não é incomum é ver uma dobradinha do Terno com a mesma galera que fomenta uma música brasileira que fica meio à margem. Vocês e Boogarins, Cícero, Maglore. São atrações enormes… dentro de um grupo específico, que não necessariamente vai tocar no Faustão, certo? É um mainstream de nicho! Você tá nessa cena já há um tempo. Como vê esse mercado, em termos de oportunidades, de renovação do som, da formação de público?

Tim: Ele é muito claro. Eu sinto que tá… Bem, sabe aquele carinha que vai na frente da trilha, abrindo espaço pra todo mundo passar? Eu acho que algumas bandas, tipo essas que você citou, estão fazendo algumas coisas que não existiam exatamente e abrindo caminhos. Quando a gente começou, estava acabando aquela fase de clipe na MTV, o YouTube já se estabelecia um grande lance. Os clipes do Terno sempre conseguiram fazer a gente chegar em mais gente e foram importantes pra formar público. A gente tá conseguindo fazer discos que achamos que são legais, e levar o show pra tudo quanto é cidade. Temos uma conversa direta com o público, por meio das nossas mídias sociais, Instagram e tal. A gente consegue enxergar nos números que está chegando a muito mais gente. No nosso caso, houve um salto do primeiro disco para o segundo, do segundo para o terceiro… Cada um desses foi um degrau importante. E assim vamos chegando em lugares que não têm necessariamente uma estrada pré-traçada, com uma gravadora, programa de rádio, aparecer em certos canais. A cada passo, a gente sente que vai ganhando espaços maiores pra gente e tornando a profissão como algo sustentável. E agora você escolhe pra que lado vai, se você quiser ir mudar o caminho, também é possível.

TMDQA!: Bom você falar da diferença em relação a cada álbum. Sem querer botar pressão, mas vocês vieram num crescente com os três primeiros discos, então acredito que as expectativas pro próximo estejam no alto! Eu até achei que vocês já estavam gravando alguma coisa, porque notei uma lacuna de uns três meses de shows, entre o fim do ano passado e o Lollapalooza. Então pra quando a gente pode esperar novas músicas? Como vocês se blindam de questões como essas, de pensar no que as pessoas e os críticos vão achar do próximo passo da banda?

Tim: Essa lacuna tem muito a ver com eu estar lançando o meu disco também, e por estarmos começando a ensaiar músicas novas. Não estamos em momento de estúdio, mas já há um quarto disco no horizonte. É doido, dá um medinho do que pode ser o próximo. Mas quando começam a surgir as músicas, você não consegue ver o restante, sabe? Agora que elas começam a ganhar forma, você só consegue pensar nisso e coisas tipo “caramba, tá ficando muito louco esse disco” (risos)!

TMDQA!: Bom, nós já até conversamos sobre os clipes do Terno, mas agora como você também assinou como diretor um clipe solo seu, encararia o desafio de comandar um daqueles clipes super ambiciosos da banda?

Tim: Isso vem muito da ideia que a gente quer executar… Se eu tiver uma ideia ambiciosa, doida e enxergo um resultado da hora, e eu tiver como fazer isso, juntar uma equipe pra fazer, eu super animaria. Mas o meu trabalho solo tem muito isso de focar no indivíduo, de coisas da minha cabeça, da minha visão. No Terno tem muito da relação com o outro, tem outros dois ali comigo, temos parceiros que construíram com a gente a identidade dos nossos clipes, que é a Alaska Filmes. Enquanto o meu disco tem muito de solidão, o Terno tem mais essa coisa de estar inserido num contexto, de viver junto. Eu dirijo a parte musical dos discos e gosto que tenha uma coerência. Mas mesmo os clipes que os nossos amigos dirigiram estão baseados num conceito nosso ou têm a nossa visão ali. Tipo o “Não Espero Mais” foi uma ideia nossa que a gente só não sabia como executar.

TMDQA!: Uma das vantagens de tocar em festival grande é a possibilidade de ver muitos shows! Tem algum que você está a fim de ver, algum ídolo das antigas ou artista novo te chamando atenção?

Tim: Sim, com certeza. Tem muita gente que eu tô curioso pra ver. O Mac DeMarco eu gosto muito. Ele tem um jeito desencanado de fazer música pop, que é excelente e tranquilo ao mesmo tempo. A gente abriu o show dele em Curitiba quando ele veio, mas ainda não vi a turnê nova. O Tyler The Creator é um cara que é diretor artístico, né? Ele faz o disco, produz, faz os clipes, pensa as fotos. Tem muito a ver com o cenário do indie hoje, em que o artista faz tudo. O David Byrne eu também quero muito ver, tanto pelo Talking Heads, tanto pela visão do tropicalismo que ele tem, vindo de fora.

TMDQA!: Aliás, vocês vão tocar no mesmo dia do David Byrne [24/03, sábado]. Acho que ele podia te puxar pra cantar “All Around You” [canção escrita por David, Tim, Tiê e André Whoong, gravada no álbum dela, “Esmeraldas”]. Sei que você não gravou, mas poderia fazer a parte da Tiê!

Tim: (Risos) Ah, eu não sei se ele toca essa música nos shows, por ser mais da Tiê mesmo. Mas eu ficaria empolgado demais, ia adorar. Engraçado, eu compus essa música junto com a Tiê e ele, mas não presencialmente, foi tudo à distância. Eu o conheci quando a gente tocou em Nova York, mas foi muito brevemente. Não chegamos a conversar muito.

TMDQA!: Poxa, que pena. Já estava até pensando em te perguntar como virar melhor amiga do David Byrne (risos)!

Tim: Poxa, realmente não sei (risos)!

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