Entrevistas

Conversamos com o Ego Kill Talent sobre turnê do Foo Fighters, Lollapalooza e mais

Após um excelente 2017 e um ano promissor pela frente, o Ego Kill Talent reflete sobre sua curta trajetória, as dinâmicas da banda e muito mais. Confira!

Theo, do Ego Kill Talent, no Maracanã
Foto por Diego Castanho

Embora tenha uma carreira relativamente curta, o Ego Kill Talent possui uma trajetória impressionante.

Só em 2017, a banda lançou um novo disco, realizou shows na Europa — abrindo para ninguém menos que o System of a Down — e chegou a tocar no Rock In Rio.

Como se isso não bastasse, o grupo está começando 2018 abrindo os shows da turnê do Foo Fighters com o Queens of the Stone Age e mês que vem fará parte da nova edição do Lollapalooza Brasil. Tá bom ou quer mais?

Para refletir sobre essas excelentes conquistas, nós tivemos uma excelente conversa com o guitarrista (e às vezes baixista) Theo Van Der Loo.

Boa leitura!

TMDQA!: 2017 foi um ano quente para a banda: lançamento de disco, shows na Europa, Rock In Rio, e 2018 já começa com Foo Fighters, Lollapalooza, novo clipe, turnê. Como têm sido os últimos dias para vocês e como estão se preparando para o que vem por aí?

Ego Kill Talent: Realmente 2017 foi um ano incrível e a gente está muito agradecido por esse ano que passou. Quando a gente estava ali na reta final do ano, saboreando Rock In Rio, a ida para tocar no Santiago Gets Louder, a gravação do clipe no Atacama, a gente começou a receber as noticias do que ia acontecer em 2018 – turnê com Foo Fighters, show no Lollapalooza Chile e Brasil, nova turnê na Europa. Ficamos em êxtase, sem acreditar que depois de um ano tão legal, já estava vindo um ano FODA pela frente. Os últimos dias têm sido de muita correria para gente aqui. Você tá sabendo que a gente lançou o clipe e junto com ele a gente está nessa reta final para a tour com Foo Fighters e já no aquecimento forte para o show no Lollapalooza, então a gente tá no ritmo aqui de ensaios diários, muitas horas por dia. A banda tem se encontrado todos os dias às 10h30 para começar as entrevistas, tanto para o Lolla, quanto para o Foo Fighters e lançamento do clipe. No meio das entrevistas e idas a rádio, a gente tá ensaiando, deixando tudo bem afiadinho, fazendo ensaio com equipe completa, já com todo esquema como será o show, com transmissor e tudo mais. Tá intenso e a gente tá muito feliz.

TMDQA!: O Ego Kill Talent será a banda brasileira responsável pela abertura dos shows de Foo Fighters e Queens Of The Stone Age por aqui nos próximos dias. Como vocês se identificam com as duas bandas e como foi receber a notícia de que isso iria acontecer? Existe algum tipo especial de preparação para shows como esses?

Ego Kill Talent: Cara, a gente vê neles uma personificação muito grande da cena rock mundial atual. A gente acha as duas bandas grandes exemplos de carreira. O Foo Fighters é uma sequência de decisões acertadas, é impressionante desde a criação. Muito inspirador. A gente tá se preparando para essa tour intensamente e receber a noticia foi meio surrealista na real, porque algumas conversas já estavam acontecendo, a gente sabia que existiam grandes chances de a gente abrir de alguns shows e um dia eu estava almoçando com o Rafa e recebemos o telefonema dizendo “vai rolar, vocês vão abrir”, e nessa hora a gente ainda não sabia se ia rolar São Paulo por conta da proximidade do Lolla e quando a gente estava no deserto do Atacama gravando o clipe de “Let’s Ride” e anunciou no Brasil a tour inteira, nosso nome estava em todos os shows. A gente comemorou lá no Atacama, tipo assim de um jeito incrível, em um cenário surreal, então foi literalmente surrealista.

TMDQA!: Por falar em shows especiais, tocar em festivais parece ter sido frequente para vocês. Já rolou desde o Planeta Atlântida até eventos no Chile, França, Rock In Rio, e em Março o Lollapalooza Brasil. Como tem sido as experiências do Ego Kill Talent em festivais mundo afora e como eles ajudam a divulgar o som da banda?

Ego Kill Talent: A experiência com festivais é muito muito FODA, porque você está em um ambiente muito fértil. Milhares de pessoas voltadas para música, então a troca de energia com o público é sensacional e também entre as bandas, você encontrar a galera que está na mesma cena que a gente é essencial para sustentação da música de forma geral e é um prazer enorme participar. Você está mostrando o seu som ali para uma galera. Voltando um pouco, até na divulgação do próprio festival você já ganha exposição e quando você chega lá e toca para um grande público que está ali para consumir música você cria uma relação intima muito rápido. Para divulgação da banda é muito diferencial tocar nesses festivais.

TMDQA!: Vocês aproveitaram esses shows na Europa, inclusive, e lançaram um EP ao vivo com registros desses momentos nas plataformas digitais. Vocês entendem que essa é uma forma de aproximar o fã para que ele se se sinta como se estivesse lá com vocês, tão longe? Como foi o processo de gravação e seleção dessas músicas que entraram no ao vivo?

Ego Kill Talent: A gente entende sim que é uma forma de se aproximar do fã, não só pelo fato de ser ao vivo mas pelo fato de a gente estar dividindo ali um pouco do que aconteceu no nosso ano, na nossa empreitada europeia. A gente saiu daqui pensando “imagina se a gente grava tudo e rola um EP ao vivo”, mas não tinha certeza se ia conseguir, e foi meio que matando um leão por dia lá, porque tinha show que tinha a mesa necessária para gravar, tinha show que não tinha e a gente tinha que tentar conseguir lugar, ver como é que fazia, então o processo de gravação foi em cada lugar uma história diferente, a gente ia vendo como conseguia fazer. Sobre a seleção das músicas que entraram, a gente tentou lançar músicas que foram carro chefe do disco, porque como você sabe a gente lançou o disco fracionado em EPs e depois lançou o disco inteiro, houve momentos nessa trajetória dos EPs e do disco que músicas chaves surgiram e acabaram se destacando e foram trabalhadas. A gente tentou incluir todas essas músicas e mais algumas que a gente achou legal.

TMDQA!: Na Europa, inclusive, vocês tiveram a oportunidade de tocar com o System Of A Down em um lugar histórico. Vocês podem contar pra gente a respeito disso e, de repente, mandar uma história de bastidores?

Ego Kill Talent: Tocar com System Of a Down na Europa foi surreal. Tocar na Arena de Nimes, um local histórico, eu pessoalmente sou muito fã do Metallica e quando estava atravessando aquele corredor pensando “cara, o James passou aqui para gravar o DVD Ao Vivo do Metallica”. Incrível. A energia do lugar e a beleza do lugar eram, de novo, surrealistas, um sentimento que não dá para explicar, foi bem emocionante.

Uma história de bastidores foi que aconteceu um negócio legal nesse show de Nimes. A gente era a banda de abertura, tinha um tempo contado e o pessoal da organização quando estava chegando a hora de tocar a última música fez um sinal que era a última e acabou. Mas o John Dolmayan, baterista do System, estava sentado do lado do palco vendo o show e a gente já tava tocando a música que a gente achava que seria a última, já se preparando para acabar, então ele olhou para mim e fez um sinal de dois, dizendo para eu tocar mais duas músicas e fez um sinal com a mão dizendo “continua, continua”. A gente ficou sem saber o que fazer, porque do outro lado do palco tava o cara da produção dizendo “é a última, é a última”. Eu fui o primeiro a ver e falei pro resto da banda que o John pedia para gente tocar mais e o Jean (Dolabella) perguntava, “o que a gente faz? Porque o cara tá mandando a gente parar!”. Ai a gente chegou pro cara que tava mandando a gente parar, apontou pro John e falou “fala com ele porque ele tá falando para gente tocar mais duas”. O John do System deu uma peitada no cara da produção e a gente tocou mais duas.

TMDQA!: Outros bastidores que a gente queria saber é sobre as participações do Jonathan e sua justamente em um disco solo do baterista do SOAD, John Dolmayan. O que podemos esperar dessa colaboração?

Ego Kill Talent: O que rolou foi o seguinte, o John tem um projeto que chama “These Grey Men” que é um projeto que ele já tem há algum tempo, de gravar versões de músicas conhecidas, algumas bem inusitadas que você nunca imaginaria, e ele as gravou e deu uma distorcida que ficou com uma cara meio System, saca? O John é um cara que… muito do System Of a Down é ele, a gente quando se aproxima e pega a dinâmica, tem muita coisa do System que você percebe, de mudanças bruscas, de levada, de clima, que é muito dele. Então ele pegou algumas bandas que foi escolhendo e dando essa cara diferente. Não sei quando ele vai lançar, é um projeto que ele já tem há algum tempo e vem falando para gente, e é isso.

TMDQA!: Vocês acabaram de lançar um clipe incrível para “Last Ride”, gravado no deserto do Atacama, e muita gente diz que essa é a música favorita no disco de estreia do EKT. Vocês sentem que essa música é uma das que respondem melhor nos shows, e por isso a escolheram? Como foi a gravação do clipe em um lugar tão especial?

Ego Kill Talent: É muito interessante o jeito que a gente foi trabalhando os singles do disco, porque essa é uma música que desde que ela surgiu – e ela foi uma das últimas músicas que a gente escreveu – a gente sentia que representava muito a banda. A gente acreditava muito nessa música. A gente olhava e pensava “cara, essa é A música”. E é muito louco porque parece que as coisas vão conspirando. A gente planejava as coisas, o planejamento dá um Norte, mas no meio do caminho as coisas vão acontecendo e isso é muito doido, porque a gente sentia que deveria deixá-la por último, porque a gente pensava assim “cara, vamos construindo uma história e ela coroa essa história, é uma música que a gente acredita muito” e quando a gente a compôs, uns dois anos atrás, o Jonathan falou “essa música parece coisa de outro planeta” e eu comentei com ele “você imagina se a gente grava isso no Atacama”.

Eu falei para ele em 2015 mas achava que era muito distante de acontecer, não foi uma coisa que a gente planejou gravar no Atacama, era uma coisa “imagina que do caralho ter um clipe gravado no Atacama” e eu lembro que pensei “isso é muito surreal, provavelmente não vai acontecer, mas vai saber, a vida é tão doida”. Passaram-se dois anos, a gente foi convidado para tocar no Santiago Gets Louder no Chile e aí o Clever (Cardoso) que é o diretor do clipe, sentou com a gente pra conversar, fez as contas e falou “dá para gente fazer”.

Gravar lá foi uma realização muito emocionante, tiveram alguns momentos ali que a gente chorou. Você deve ter reparado que no clipe são várias locações diferentes, mas todo mundo ia para todas as locações para ver a filmagem, enquanto você não tava filmando e olhando os outros filmarem era muito emocionante, literalmente de chorar a gente estar gravando a nossa música, que a gente acredita tanto, no Atacama. Foi muito gratificante.

TMDQA!: O Lollapalooza Brasil está chegando aí: vocês tocam no Brasil e no Chile. O que podemos esperar dos shows da banda? Que artistas vocês não querem perder de jeito nenhum no Autódromo de Interlagos, tanto nacionais quanto internacionais?

Ego Kill Talent: A gente está num intensivo de ensaios porque a gente quer chegar tanto no show do Foo Fighters quanto no Lolla muito afiado, com cada nota segura e dominada para gente poder estar livre e voar naquele palco. Botar toda energia para fora e impactar o público da mesma forma que o público impacta a gente. Então a gente está se preparando muito e acho que vai ser uma série de shows com muita energia e troca.

Quero muito ver o Pearl jam, que é uma banda que eu sou louco e acho genial o trabalho dos caras incrível, a história, o Eddie Vedder é um cara surreal, estou muito a fim de ver e tocar no mesmo palco que eles no Brasil e no Chile. É uma honra difícil de colocar em palavra, acho que a ficha nem caiu direito; quero ver também o The Killers, estou bem curioso para ver o show deles e ver também o Selvagens a Procura de Lei que são nossos brothers, uma galera muito do bem e acho que vai ser do caralho esse festival.

TMDQA!: Recentemente tivemos a notícia de que a venda de guitarras caiu 80% no Brasil nos últimos 5 anos, e a Gibson está enfrentando sérios problemas financeiros. Vocês fazem rock direto, com muitos riffs e muita distorção, indo “contra a maré” do que é popular no momento e, ainda mais, cantando em Inglês no Brasil. Como enxergam a situação atual da música e a famigerada frase de que “o rock morreu”? O que faz o EKT continuar plugando suas guitarras para fazer barulho?

Ego Kill Talent: Vou começar respondendo a última pergunta que você fez, eu acho que o que mantém o rock vivo é a paixão de fazer o que se ama. Realmente o rock não é estilo musical número 1 quando você coloca junto o sertanejo, funk, música eletrônica, porém ele ainda arrasta multidões nos estádios todos os anos no mundo inteiro. Ele tem uma energia que, na minha opinião, tem a ver com uma sinceridade, honestidade e autenticidade que toca as pessoas. O que faz a gente continuar fazendo isso é o amor por essa cena, esse caminho. Eu acho que a coisa toda é cíclica, de fases, a gente está sentindo que o que está acontecendo com a gente é surreal. Tem muito essa história de que o rock morreu, mas para gente ele está vivo pra caralho, está acontecendo um monte de coisa na nossa vida com o rock. Toda hora acontece uma coisa nova e é do caralho, não está nada morto. Para nossa realidade o rock está acontecendo muito. O Dave Grohl respondeu a uma entrevista recentemente, que perguntaram para ele “O Rock morreu?” e ele “Me perguntam isso há 30 anos”, quer dizer…. Mas realmente a indústria das guitarras e a história da Gibson é bem triste e é difícil entender, há muitas marcas mais baratas chegando no mercado e, enfim, é triste.

TMDQA!: O EKT é conhecido por alternar seus membros no palco, com guitarrista indo pro baixo, baterista indo pra guitarra e mais. Recentemente vocês tiveram a inclusão do Niper na formação, e parece que a sonoridade ao vivo tá redondinha, mesmo com essas mudanças todas que vocês fazem durante as músicas. Como é a química de vocês pra permitir isso e como tem sido a rotina de ensaios para que tudo saia como o previsto?

Ego Kill Talent: Realmente o time está completo. O Niper entrou como uma luva. Como eu já disse a gente ensaia muito e eu acho que o fundamental para rolar essas trocas e soar natural, essa química é porque é de verdade. A gente não faz essas trocas para ser uma coisa circense, pelo contrário, a gente sempre tenta que essas trocas sejam o mais rápido possível, o mais dinâmico. E essas trocas acontecem porque fazem sentido. Temos dois bateristas na banda, o Rapha e o Jean, e em algumas músicas nós compomos com o Jean na bateria, simplesmente porque ele teve uma ideia, outras com o Rapha, e aí a gente apresenta da maneira como foi composta. O carinho que temos um pelo outro deixa a química lá no alto, independente da formação.

TMDQA!: Por fim: você tem mais discos que amigos?

Ego Kill Talent: Olha, na época que eu tinha discos, a resposta seria sim. Só que eu sou um cara totalmente adaptado às mudanças digitais, então tenho poucos discos, mas muitos amigos na música. Valeu, Cara! Abraço grande!