No dia 6 de Março de 2013, Alexandre Magno Abrão, mais conhecido como Chorão, foi encontrado morto em seu próprio apartamento.
Após a informação de que ele estava com 5 miligramas de cocaína em seu sangue, a notícia foi uma bomba para todos. Naquele momento, o rock nacional perdia um de seus nomes mais importantes e uma das suas personalidades mais fortes.
Chorão era mais que o líder do Charlie Brown Jr.. Ele foi também um grande representante de um movimento que conseguiu reposicionar o rock nacional no mainstream ao final dos anos 90 e início dos anos 2000.
O legado do Charlie Brown Jr.
Tu não sabe o que aconteceu! Os caras do Charlie Brown invadiram a cidade.
Na época, pouco antes do acontecimento, o Charlie Brown Jr. havia divulgado “Meu Novo Mundo“. A faixa faria parte do décimo e último álbum de estúdio do grupo, La Família 013, que acabou sendo lançado apenas em Outubro.
Foram 10 álbuns assinados pelo Charlie Brown, fora os discos ao vivo e coletâneas, e tudo começou em 1992, ano em que a banda iniciou as suas atividades na cidade de Santos, estado de São Paulo. O curioso nome do grupo nasceu de um acidente de carro. Chorão atropelou uma barraca de água de coco que tinha o desenho do personagem de quadrinhos Charlie Brown. O “Júnior” foi adicionado simplesmente pelo fato de se considerarem “filhos do rock”.
Chorão era skatista e conhecia organizadores e produtores de eventos relacionados ao esporte, como campeonatos de skate. Foram nesses campeonatos que nasceram os primeiros shows do Charlie Brown, por volta de 1993. Isso seria base para a cultura de skate do grupo. “Skateboard na veia, rock ‘n roll até a alma”, dizia o vocalista da banda influenciada por nomes como Blink-182, Sublime, Rage Against The Machine, NOFX e mais.
As músicas e a conectividade com os jovens
O melhor presente Deus me deu. A vida me ensinou a lutar pelo o que é meu.
O grupo foi crescendo e ganhando reconhecimento até que conseguiu lançar seu primeiro álbum cheio em 1997, Transpiração Contínua Prolongada. A recepção do disco foi positiva e gerou um grande alcance comercial para o grupo. Isso levou o CBJr. a conquistar certificados de Ouro e de Platina com seu alto número de vendas (vale lembrar que na época, era preciso a venda de 100.000 CDs para conquistar o Disco de Ouro, e 250.000 para o de Platina).
Daí em diante, veio uma série de sucessos, com novos discos sendo lançados uma vez por ano. Sempre exaltando a cultura de rua, a positividade e dialogando com uma parcela grande da juventude brasileira que se sentia por fora dos padrões da elite burguesa.
A sonoridade jovem sempre foi um diferencial para a banda se conectar com seus ouvintes. As músicas “Te Levar” (de 1999) e “Lutar Pelo Que É Meu” (de 2005) foram temas de abertura de Malhação, da Rede Globo. A série, que normalmente traz em suas aberturas músicas jovens e é responsável pela fixação de muitos hits na cabeça do público, usou essas músicas de 1999 até 2007. Ou seja, foram oito anos de Charlie Brown Jr. na abertura, um caminho inevitável para o destaque.
Infância difícil, skate e música
Eu sei como é difícil. Eu sei como é difícil acreditar, mas essa porra um dia vai mudar.
Nunca foi um segredo para ninguém a personalidade forte de Chorão. Isso pode ser um reflexo de uma vida difícil se comparada à da maioria dos habitantes de São Paulo, sua cidade natal. Problemas financeiros, a separação de seus pais, notas baixas na escola, constantes problemas com a polícia…
Tudo isso fez com que o futuro vocalista se mudasse para a cidade de Santos, largasse a escola e futuramente encontrasse a sua paixão no skate e na música. Quando começou a se interessar por música, passou a se envolver com o punk rock através de bandas como Suicidal Tendencies e Ratos de Porão. As bandas também seriam futuras influências para o Charlie Brown Jr., em sua sonoridade que misturava hardcore, hip-hop, reggae, punk e ska.
Camelo e outras tretas
Otário, eu vou te avisar. O teu intelecto é de mosca de bar.
Tão famosas quanto a banda ficaram as confusões em que o grupo se metia, especialmente Chorão. Sua personalidade forte o colocou de frente com famosos e até os seus colegas de banda.
Chorão discutiu feio com um de seus melhores amigos (e baixista do CBJr), o saudoso Champignon, durante uma apresentação do grupo. Alegou que o baixista teria voltado para o grupo, após ter ficado um tempo fora, guiado apenas por interesses. Mas a mais bizarra e curiosa história era a “rivalidade” entre Chorão e Marcelo Camelo, integrante dos Los Hermanos.
Na ocasião, Chorão encontrou com o grupo de Camelo no aeroporto de Fortaleza, mas não teria sido um momento muito agradável. Chorão deu uma cabeçada e um soco em Marcelo. Os dois, no entanto, não se davam bem há bastante tempo. Em uma entrevista durante o programa “Ensaio”, da TV Cultura, o vocalista teria explicado a sua versão da história. Camelo, segundo ele, teria faltado com respeito com o Charlie Brown diversas vezes.
As consequências
Então vamos viver, e um dia a gente se encontra.
Após a morte de Chorão, a banda tentou continuar. Champignon, em 2013, assumiu os vocais para formar o grupo A Banca. Já tinham até música gravada e participação confirmada em festivais nacionais grandes, com a turnê “Chorão Eterno”. No entanto, a pressão em substituir o colega, além das críticas por parte de uma parcela de fãs do grupo original, levaram o ex-baixista a cometer suicídio. A justificativa principal para seguir com a banda, segundo o próprio Champignon, seria homenagear Chorão e manter o legado do Charlie Brown.
A morte de Chorão foi uma perda tremenda para o cenário musical brasileiro de então. Ícone absoluto das gerações de 90 e do início dos anos 2000, sua voz ganhou destaque entre crescentes sucessos da época: O Rappa, Skank, Raimundos… E o Charlie Brown Jr. não foi um sucesso esporádico. Sempre mantendo sua essência, as letras do grupo conseguiram conquistar os jovens, desde os primeiros sucessos, como “Proibida Pra Mim (Grazon)” até os mais recentes, como “Céu Azul” ou a póstuma “Um Dia a Gente se Encontra“.
Os versos marcantes de Chorão serão para sempre lembrados. Acima da diversificada sonoridade do Charlie Brown, e além da forte personalidade do vocalista, suas frases eram o que mais impactava o seu público.
Seremos eternamente gratos, e esperamos que Chorão tenha finalmente encontrado o seu “Lugar Ao Sol“.