15 músicas que representam o poder e as lutas diárias das mulheres

A luta das mulheres, há muitas décadas, é diária: separamos músicas que falam sobre assédio, diferenças de salários, empoderamento feminino e mais.

Elza Soares
Foto por Daryan Dornelles

Hoje, dia 08 de Março, é celebrado o Dia Internacional da Mulher.

Foi-se o tempo em que a data era entendida pela maioria (dos homens, principalmente) como algo decorativo onde uma flor e um chocolate eram o suficiente para, em muitos casos, ter atitudes imbecis durante o resto do ano.

Hoje o dia deve ser visto como uma concentração de oportunidades para que todos avaliem as suas atitudes durante os 365 dias do ano, compartilhem o respeito e, mais importante, trabalhem das mais variadas formas em busca da igualdade de gêneros, principalmente em áreas como o mercado de trabalho e na diminuição da absurda diferença de salários entre homens e mulheres.

Há anos mulheres das mais incríveis vêm falando sobre as batalhas diárias que enfrentam e muitas delas também nos lembram como são poderosas com seu brilho, força e talento próprios.

Separamos aqui algumas dessas canções e suas causas, para que a gente se lembre que o processo para nos tornarmos seres humanos cada vez melhores deve acontecer todo dia.

 

No Doubt – “Just A Girl” (1995)

Em 1995 Gwen Stefani lançou com o No Doubt uma música cheia de ironia sobre como ela era “apenas uma garota”, dizendo que o mundo cheio de estereótipos e regras a impede de fazer várias coisas por conta do gênero.

Pois sou apenas uma garota
E preferiria não ser
Porque eles não me deixam dirigir
Tarde da noite

Sou apenas uma garota
Acho que sou meio doida
Porque todos se sentam e me olham
Com aqueles olhos

Sou apenas uma garota
Dê uma boa olhada em mim
Sou seu típico protótipo

Oh… Eu estou de saco cheio!
Oh… Estou sendo clara o suficiente?

 

M.I.A. – “Bad Girls” (2012)

Sempre contundente, a cantora M.I.A. compôs essa canção em 2012 fazendo várias referências a carrões e alta velocidade. Além de mostrar o empoderamento feminino, ela também mostrava todo seu apoio ao movimento que vinha crescendo para permitir que as mulheres dirigissem na Arábia Saudita.

Por lá, elas só conquistaram esse direito em Setembro de 2017.

 

The Slits – “Typical Girls” (1979)

Em uma cena punk britânica onde os homens dominavam boa parte do ambiente, a banda The Slits surgiu ao final dos anos 70 com seu primeiro disco e uma das músicas do álbum é “Typical Girls”.

Nela, repete diversos clichês sobre as mulheres repetidos à exaustão antes de questionar quem inventou a “garota típica”:

Não conseguem decidir quais roupas vestir
Garotas típicas são sensíveis
Garotas típicas são emotivas
Garotas típicas são cruéis e bruxas
Ela é uma femme fatale
Garotas típicas ficam com seus homens
Garotas típicas são realmente inchadas
Garotas típicas aprendem como agir chocadas
Garotas típicas não se rebelam

Quem inventou a garota típica?
Quem está trazendo o novo e melhorado modelo?
E aí está outra jogada de marketing
A garota típica pega o garoto típico

 

Clarice Falcão – “Eu Sou Problema Meu” (2016)

Em seu segundo disco, que leva o nome de Problema Meu, a cantora Clarice Falcão aborda diversos temas do universo feminino e de relacionamentos.

Um deles é sobre como ela cuida de si mesma e faz questão de deixar claro que não é uma propriedade de outra pessoa.

Não sei de ninguém que me vendeu
Por dois camelos pra você
Em um negócio armado no meio da rua

Nem cartório algum reconheceu
Um documento que explicita em papel
Que legalmente eu sou sua

Quando eu disse sim aquela hora
Eu disse sim aquela hora
Eu não disse sim por toda a eternidade

Não me leve a mal
Mas você não me tem
Eu não sou um chapéu
No armário de alguém
Não valho um real
Também não valho cem
Eu sou problema meu

 

Destiny’s Child – “Independent Women pt. 1” (2000)

Um dos grandes hinos dos anos 2000 sobre empoderamento feminino é do Destiny’s Child, que repetia como suas integrantes eram independentes ao contrário do clichê típico de que as mulheres são todas sustentadas por homens.

O calçado nos meus pés
Eu comprei
As roupas que eu estou vestindo
Eu comprei

Os diamantes que eu estou balançando
Eu comprei
Porque eu dependo de mim

Se eu quiser o relógio que você está usando
Eu comprarei
A casa onde eu moro
Eu comprei
O carro que estou dirigindo
Eu comprei

Eu dependo de mim

 

Francisco, El Hombre – “Triste, Louca ou Má” (2016)

No meio do repertório dançante e recheado de influências latinas do disco de estreia da banda brasileira Francisco, El Hombre, SOLTASBRUXA, aparece uma balada que tornou-se um verdadeiro hino feminista.

“Triste, Louca ou Má” fala sobre estereótipos associados às mulheres e também mostra a libertação de alguém que entende que é seu próprio lar.

Triste louca ou má
Será qualificada
Ela quem recusar
Seguir receita tal

A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina

Só mesmo rejeita
Bem conhecida receita
Quem não sem dores
Aceita que tudo deve mudar

Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar

 

Aretha Franklin – “Respect” (1967)

A poderosa Aretha Franklin pegou uma música lançada por Otis Redding sobre como um homem quer respeito por “trazer dinheiro para casa” e a transformou em um marco da luta das mulheres.

Na nova versão, a letra mostra uma personagem forte e confiante, que sabe que é ela quem merece o devido respeito.

Eu estou prestes a te dar todo o meu dinheiro
E tudo o que eu estou pedindo em troco, docinho,
É dar-me o que é meu por direito
Quando você chegar em casa (só um, só um, só um, só um)
Sim, querido (só um, só um, só um)
Quando você chegar em casa (só um pouqinho)
Sim (só um pouqinho)
De respeito

 

Kesha – “Woman”

Após passar por um longo processo onde denunciou o produtor Dr. Luke por assédio, a cantora Kesha voltou em 2017 com o disco Rainbow e foi muito bem recebida por público e crítica.

Nele aparece a canção “Woman”, que fala sobre empoderamento feminino.

Eu sou um mulherão da porra, meu bem, isso mesmo
Eu não preciso de homem pra ficar me segurando
Eu sou um mulherão da porra, meu bem, isso aí
Estou apenas me divertindo com minhas amigas aqui esta noite
Eu sou do caralho
Mmm, sim

Vamos dirigir pela cidade em meu Cadillac
Meninas na frente, meninos atrás
Livres, leves, soltas e estamos à procura de diversão

 

Beyoncé ft. Chimamanda Ngozi Adichie (2013) – “***Flawless”

Em 2013, ao lançar o quinto disco da carreira, homônimo, a cantora Beyoncé mostrou que era uma das artistas mais importantes do planeta e contou com algumas participações especiais.

Uma delas foi da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que participou de “Flawless”, canção que fala entre outras coisas sobre como a cantora está longe de viver às sombras de seu marido, o rapper Jay-Z.

Chimamanda ficou famosa por uma apresentação em uma TED Talk sobre como “todos deveríamos ser feministas”.

Eu tirei um tempo pra viver minha vida
Mas não pensem que sou só a mulherzinha dele
Não se confundam, não se confundam
Essa merda é minha, curvem-se, vadias

Eu acordei assim, eu acordei assim
Somos perfeitas, garotas, contem a eles
Eu acordei assim, eu acordei assim
Somos perfeitas, garotas, contem a eles
Digam: Eu estou ótima esta noite
Caramba, caramba
Digam: Eu estou ótima esta noite
Caramba, caramba, caramba

 

Pitty – “Desconstruindo Amélia” (2009)

A cantora brasileira Pitty também foi uma que falou sobre os estereótipos que a sociedade aplica às mulheres e resolveu contar a história de uma que resolveu mudar as coisas, além de abordar a diferença de salários entre homens e mulheres.

Já é tarde, tudo está certo
Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme, ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar

O ensejo a fez tão prendada
Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume, esquecia-se dela
Sempre a última a sair

Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também

A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende o porquê
Tem talento de equilibrista
Ela é muita, se você quer saber

 

The Regrettes – “A Living Human Girl” (2017)

Com apenas um disco de estúdio a banda The Regrettes tem se tornado um dos grandes nomes do rock lá fora fazendo referências a sonoridades dos anos 60 e 70.

No seu primeiro álbum, a canção “A Living Human Girl” fala tanto na letra quanto em seu clipe sobre, mais uma vez, a sociedade cagando regras em cima das mulheres e fazendo diversas cobranças em cima delas.

Eu tenho espinhas no meu rosto
E gordura no meu cabelo
E pernas espinhosas, vá em frente e olhe fixamente
Uma bunda cheia de estrias e peitos pequenos
Uma boa barriga cheia que está cheia de comida
Às vezes eu sou bonita e às vezes não sou
Então vamos ouvir, me atinja com o seu melhor tiro

Não faço exercícios e não leio livros
Então, se você quer me criticar, vá em frente, dê uma olhada
Eu não estou sendo mandona, estou dizendo como eu sinto
E não sou uma vadia por dizer o que é real

 

Bikini Kill – “Rebel Girl” (1993)

Há algumas longas décadas a banda Bikini Kill era símbolo do movimento riot grrrl, que unia feminismo, mensagens de empoderamento e muito punk rock.

É impossível fazer uma lista sobre mulheres que lutaram pela igualdade de gênero sem incluir essa música.

Essa garota pensa que é a rainha do bairro
Ela tem o “trike” mais quente da cidade
Essa garota, mantém a cabeça no alto
Eu quero ser sua melhor amiga, yeah

Garota rebelde, garota rebelde
Garota rebelde, você é a rainha do meu mundo
Garota rebelde, garota rebelde
Eu acho que quero leva-lá para a casa
Eu quero vestir suas roupas, oh

Quando ela fala, eu ouço a revolução
Em seus quadris, está a revolução
Quando ela caminha, a revolução está vindo
Em seu beijo, eu sinto a revolução

 

First Aid Kit – “You Are The Problem Here” (2017)

Conhecidas por sons suaves e letras mais amenas, a banda First Aid Kit compôs uma canção cheia de raiva justamente para o Dia Internacional da Mulher em 2017.

A música onde elas dizem que “estão de saco cheio” foi inspirada em mais um caso onde um estuprador saiu impune após abusar sexualmente de uma mulher, e aborda a questão com passagens muito interessantes, como quando elas dizem que não precisam ser resumidas a “irmãs, filhas ou mulheres / eu sou um ser humano e você já deveria se colocar no meu lugar por isso.”

Estou tão farta e cansada deste mundo
Todas essas mulheres com seus sonhos despedaçados
Do toque suado e desesperado de algum homem
maldição, eu já tive o suficiente
Quando você veio a pensar que a recusa era sexy?
Você não vê as lágrimas nos olhos dela?
Como você sequer pensou que tinha o direito de
Colocar suas mãos intituladas em suas coxas?

Você é o problema aqui
Você é o problema aqui
Ninguém fez você fazer nada
Você é o problema aqui
Você é o problema aqui
Ninguém fez você fazer nada

E eu
E espero que você sofra pra caralho

Rita Lee – “Luz Del Fuego” (1975)

Dora Vivacqua, conhecida como Luz Del Fuego, foi uma dançarina, atriz e escritora que desde muito cedo lutava pelo feminismo no Brasil.

Desde 1949 ela trabalhava em lutas para “amparar a mulher e deixá-la independente”, e deu diversas declarações sobre como brigava por isso em diversas frentes. Adepta do naturismo, ela chegou a fundar o Partido Naturalista Brasileiro, e disse que além da causa, uma das principais frentes da legenda seria o feminismo.

Luz foi morta brutalmente em 1967, aos 50 anos de idade, por pescadores que invadiram a Ilha do Sol, reduto naturista onde ela morava, e saquearam a sua casa.

Alguns anos depois outro ícone feminino da história do Brasil, a cantora Rita Lee, prestou uma homenagem com a efervescente “Luz Del Fuego”.

Eu hoje represento a loucura
Mais o que você quiser
Tudo que você vê sair da boca
De uma grande mulher
Porém louca!

Eu hoje represento o segredo
Enrolado no papel
Como luz del fuego
Não tinha medo
Ela também foi pro céu, cedo!

 

Elza Soares – “Maria da Vila Matilde”

Em 2015 a lendária cantora Elza Soares lançou o disco A Mulher do Fim Do Mundo e o álbum inteiro é uma obra de arte repleta de referências às mulheres.

Entre tantas canções que poderiam ser escolhidas, ficamos com o basta de uma mulher que não aguenta mais o relacionamento abusivo em que vive na história de “Maria da Vila Matilde”.

Cadê meu celular?
Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais
Eu digo que não te conheço
E jogo água fervendo
Se você se aventurar

Eu solto o cachorro
E, apontando pra você
Eu grito: péguix guix guix guix
Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizinhos
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim