Opinião: qual é o papel do fã de Rock na queda de popularidade do estilo?

Em uma matéria enviada por um leitor, falamos sobre a mentalidade de muitos fãs de Rock And Roll que reclamam mas não fazem acontecer.

Fã de Rock And Roll
Foto via via Shutterstock

No final de Janeiro, após a cerimônia de entrega dos prêmios Grammy, nós publicamos uma matéria por aqui falando: O Rock Não Morreu, Mas Foi Duramente Enterrado no Grammy.

Dissemos isso principalmente porque a transmissão ao vivo da premiação mais importante da música não contou com a apresentação de quem tinha vencido as categorias de Rock e os prêmios foram todos entregues antes, sem rodar o mundo todo.

Quando publicamos a matéria no Facebook, como era de se esperar, a discussão rendeu bastante e um comentário do leitor Leo Alves a respeito, principalmente falando sobre os fãs, rendeu mais de 1.200 reações das pessoas que estavam por ali falando sobre o assunto.

O próprio Leo entrou em contato com a gente e nos enviou uma matéria, pedindo se seria possível publicá-la, e nós entendemos que sim, já que foi um ponto de vista que reverberou entre tantas pessoas.

Logo abaixo você pode ler o texto do cara e concordar, discordar, compartilhar. A ideia é todo mundo acrescentar!

 

O Fã e o Rock

De tempos em tempos escutamos a clássica frase: “O rock morreu”.

É claro que o estilo já passou por altos e baixos e sempre se manteve relevante, mas não se pode negar que ele nunca esteve tão em baixa no Brasil, principalmente no que diz respeito ao mainstream.

Alguns fatos que deixam isso bem claro são a ausência absoluta de músicas de rock na lista das mais tocadas do ano das rádios, já há alguns anos, ou nas listas do Spotify, bem como o fim de vários festivais de grande porte majoritariamente formados por bandas de rock que atraíam milhares de pessoas.

O fim da MTV Brasil como ela era e até mesmo a sempre polêmica escalação de artistas para o line-up do Rock in Rio também atestam uma dura e triste verdade: O rock and roll tem se tornado irrelevante para uma boa parcela da população do país.

 

É claro que a crise das gravadoras e a readequação da indústria musical frente aos novos formatos de distribuição e consumo de música também foram agravantes, mas por que então vemos uma ascensão de artistas de outros ritmos que parece não ter fim? Por que vemos surgir cada vez mais artistas do sertanejo, funk, pop e até mesmo dj’s movimentando milhões de reais com shows sempre lotados, clipes, gravações de DVD, aparições na mídia e alcance internacional, e o rock continua restrito e não desperta mais o interesse dos jovens como tradicionalmente sempre o fez?

O rock não tem lá muitos fãs hoje em dia. O que temos em peso são fãs de bandas antigas de rock, mas pouquíssimos fãs de rock, e isso está ajudando a “matar” o estilo. Um bom indicativo é a programação mensal dos bares e pubs de rock da sua cidade: se você procurar, boa parte dela será de bandas cover, e os flyers de divulgação nem mostrarão os músicos, mas sim fotos das bandas clássicas. Em muitos casos, o Rock virou um tiozão rabugento e conservador que não permite que nada novo surja.

Façamos uma comparação com os outros estilo que dominam a música hoje: quantas vezes você já viu fã de funk ir a um show de Claudinho e Buchecha Cover ou Bonde do Tigrão Cover? Fã de sertanejo ir ao Milionário e José Rico Cover? Fã de rap ir em Racionais Mc’c Cover?

Eu sei, parece ridículo pensar nisso, não é? Mas transportando para a realidade do rock, é isso que aconteceu: o estilo, através de seus seguidores, se fechou na própria bolha impedindo que novidades oxigenem seu cenário e renovem seu público. E o mais trágico é que são os próprios “roqueiros” que matam o rock com um apego excessivo ao clássico e uma rejeição irracional a qualquer novidade.

 

Se um artista de outro gênero lança um hit, o mesmo será celebrado pelos fãs, que ficam felizes, e outros artistas incluem essas músicas novas no seu repertório. No rock, os fãs ainda têm a tendência adolescente de dizer que a banda se vendeu.

Um fã de sertanejo ou de funk vai à casa de shows, paga ingresso, consome e se diverte com artistas novos e fica feliz em acompanhar novos artistas. No rock o fã reclama de ter que pagar 10 reais para ver uma banda nova, e prefere beber na porta. E quando entra, a maioria fica de braços cruzados e prefere criticar a se divertir. Comprar merch então, só em casos raros.

Muitos dizem que o problema é que não se tem mais artistas de qualidade surgindo no rock, mas isso é a mais absoluta mentira. Muitas vezes a abordagem das pessoas é de já escutar o novo para criticar, esperando que aquele som tenha o mesmo impacto que teve ao ouvir suas bandas favoritas pela primeira vez quando elas tinham 14 ou 15 anos, e hoje já têm mais de 30. Isso não vai acontecer! É claro que não terei o mesmo impacto que tive ao ouvir Legião Urbana ou Nirvana na minha adolescência ouvindo bandas novas com 29 anos, e tendo isso em mente eu aproveito e desfruto muito mais das novidades!

Enquanto o rock não tiver coragem de “matar seu pai”, como diriam os psicanalistas, ele nunca vai seguir adiante! Se todos já se contentassem apenas com Chuck Berry e Elvis, os Beatles não teriam surgido, nem o Sabbath, ou os Stones ou tudo que veio depois! Estaríamos ainda vendo apenas Elvis cover se nossos pais e avós não abrissem a cabeça para artistas novos, e procurassem viver sua própria geração e não tentar emular o passado. E por mais que os clássicos sejam bons e devam ser escutados e reverenciados, um garoto ou garota de 15 anos hoje dificilmente vai se identificar com os dinossauros pois eles representam um mundo completamente diferente do de hoje.

O rock precisa se renovar, vamos libertar a música das grades do passado e nos permitir conhecer as bandas novas. Ir aos shows delas na sua cidade. É claro que você vai se deparar com coisas ruins também, mas te prometo que vai encontrar coisas boas, pois tem muita gente talentosa ralando para manter o rock vivo, e vivemos uma das melhores safras de bandas brasileiras, criativamente falando, hoje em dia.

Participe da cena e viva a sua geração, se surpreenda a cada vez que der o play em algum álbum ou adentrar aquele inferninho da cidade onde as bandas novas tocam, abra a cabeça e o coração e viva o rock como estilo de vida de verdade, com as bases do passado presentes mas com os olhos no futuro!

Leo Alves – Baixista e vocalista da banda Evil Matchers, Geógrafo e fã de rock.

 

Esse está longe de ser “o único motivo” para que o rock esteja longe dos seus tempos de ouro, mas é boa parte de todo o processo.

O que você acha a respeito? Que outros motivos levaram o gênero ao estado de hoje? Deixe suas opiniões nos comentários!

Em tempo, durante o post deixamos vídeos de bandas nacionais de rock que fazem barulho dos bons.