Entrevista por Nathália Pandeló Corrêa
Quando surgiu, em 2013, o Royal Blood mal poderia imaginar que apenas um ano depois o seu primeiro álbum teria uma recepção tão calorosa a ponto de Dave Grohl colocar nas mãos da banda a possibilidade de “salvar o Rock And Roll”. Ou, como diria Jimmy Page, “é música de tremenda qualidade”.
Naquela época, Mike Kerr (vocal, baixo) e Ben Thatcher (bateria) tinham seus vinte e poucos anos e estavam colhendo o sucesso de singles como “Come on over” e “Figure It Out”. Já em 2015, limparam o NME Awards como Melhor Nova Banda, Melhor Banda ao Vivo, Melhor Grupo Britânico e Melhor Novato Britânico.
E são apenas dois caras. Embora o formato não seja revolucionário para bandas de rock, nunca deixa de surpreender pela potência que conseguem apresentar no palco. É isso que os fãs brasileiros vão poder conferir em breve. Após serem atração do Rock In Rio 2015, eles voltam ao país para se apresentar no festival Lollapalooza Brasil, nas já tradicionais Lolla Parties e até para abrir o show do Pearl Jam no Maracanã.
Conversamos com Ben Thatcher sobre ídolos, longas turnês e como abordaram a pressão do segundo disco. Confira abaixo:
TMDQA!: Oi, Ben. Obrigada por seu tempo! Quero falar um pouquinho da volta de vocês ao Brasil e da turnê do novo disco. Pra mim, “How Did We Get So Dark” remete a olhar para o passado e ficar se perguntando como foi que as coisas chegaram ao ponto que chegaram. Vocês têm essa sensação de nostalgia ou até de arrependimento, quando relembram o começo da banda?
Ben: Na verdade, não. Vemos tudo com bom humor. Nós aproveitamos e curtimos cada momento, e seguimos focando no presente. Não me arrependo de nada que a gente fez, faz parte do aprendizado.
TMDQA!: Tá certo! Agora, entre o primeiro disco e o “How Did We Get So Dar”, vocês postaram alguns mini-covers no Instagram que mostraram um lado diferente da banda. Arrisco dizer que a maioria das pessoas não iria prever vocês curtindo um som com Robbie Williams e Gloria Gaynor (risos).
https://www.instagram.com/p/857iS9oJN9/
https://www.instagram.com/p/88S0MioJJT/
https://www.instagram.com/p/8-su69IJG5/
https://www.instagram.com/p/9BFRWwIJMN/
https://www.instagram.com/p/9Qv85iIJDa/
https://www.instagram.com/p/9TBJClIJOa/
Ben: Sim, isso foi muito divertido! Acho que eu queria mostrar o meu talento de cantor (risos).
TMDQA!: Pois é! E vocês também comentaram como têm influências do hip hop. Você acha que as pessoas se surpreenderem com isso tem um pouco a ver com expectativas que temos dos astros do rock – que vocês idolatrem The Who, os Stones, Zeppelin… e nada mais? E vocês têm mais algum gosto musical que poderia ser visto como um “guilty pleasure”, que pode surpreender as pessoas?
Ben: Provavelmente… A gente ouve todo tipo de música. Eu acho que seria ignorância da minha parte não ouvir, entende? Até porque hoje é tão fácil ouvir de tudo, está disponível pra gente. E se você só ouve uma coisa sempre… bem, isso é muito chato (risos). Eu não curto ouvir música pop no rádio porque é legal por alguns minutos, e aí fica entediante. Então escutamos de tudo um pouco. Acho importante porque isso nos torna melhores músicos, seja no estúdio ou ao vivo.
TMDQA!: E para o disco de número dois, vocês poderiam ter escolhido de uma gama de produtores diferentes e feito umas loucuras, como um monte de possibilidades que vocês provavelmente não tiveram antes, ao fazer o disco de estreia. Mas decidiram voltar pro Tom Dalgety, que produziu o primeiro álbum, e agora também o Jolyon Thomas. O que fez vocês decidirem manter os pés no chão quando chegou a hora de produzir esse trabalho?
Ben: Eu acho que a gente já tinha bem claro o que queria fazer para esse disco, e não queríamos trazer um produtor que fosse mudar toda a nossa visão, sabe? Chegamos a falar com alguns produtores, mas no fim das contas fizemos algumas músicas com o Jolyon e depois voltamos para o Tom para finalizar.
TMDQA!: E o resultado ficou igual ao que vocês imaginavam?
Ben: Foi basicamente o que a gente queria, sim! Quer dizer, não dá pra imaginar o que vai sair ou no que vai dar quando você começa a gravar, mas diria que ficamos bem orgulhosos do resultado.
TMDQA!: Bom, falando agora em levar isso para os palcos: vocês vão fazer o Lollapalooza em São Paulo, Buenos Aires, Santiago e têm ainda algumas outras datas na América do Sul. Também vão abrir para o Pearl Jam em um estádio no Rio, o que é bem legal! Então serão basicamente seus próprios shows, festivais e um show de abertura. Como se preparam para shows que são em circunstâncias tão diferentes e tão próximos ao mesmo tempo?
Ben: Eu acho que a gente só faz o que fazemos sempre. Nós fazemos muitos shows, já sabemos todo o ritual, o que esperar e tudo mais. O que queremos mesmo é que todo mundo se divirta, e de certa forma isso é fácil, porque as pessoas vão pro show dispostas a curtir.
TMDQA!: Vocês até ganharam prêmios pela turnê do disco anterior, o que é bem impressionante. O que você acha que fez o Royal Blood se destacar pra tanta gente, logo de cara, e como manter essa chama viva enquanto vocês estão viajando o mundo, tocando noite sim, noite não?
Ben: Pra ser sincero, não tem um grande segredo além de que: só gostamos muito de tocar! E é sempre algo novo – e se não for, precisamos sentar e conversar sobre isso. Porque todo show é diferente mesmo, não sabemos quem são as pessoas que vão comparecer pra assistir, então isso muda toda a energia. Mas tivemos um tempinho de folga após o Natal, pra recarregar as baterias. Chegamos a fazer algumas datas com o Queens of the Stone Age. Estamos empolgados pra voltar à América do Sul porque em muitos desses lugares só tocamos uma vez e gostamos muito!
TMDQA!: Falando nessas experiências, eu sei que o Jimmy Page é fã, e vocês são próximos do Queen e fazem turnê com pessoas que provavelmente admiravam enquanto adolescentes.
Ben: Com certeza!
TMDQA!: Você teve a oportunidade de trocar figurinhas com eles, e aprender um pouco de suas experiências?
Ben: Sim… Mas sabe, o que eu mais aprendi com esses caras foi vê-los tocar toda noite. Eu aprendi pra caramba com o Jimmy Page sobre tocar guitarra… porque ouvi ele tocando guitarra desde sempre. É que por mais que você troque figurinhas, a vida e a experiência de cada um é diferente, é uma carreira e uma jornada única. E a melhor forma de absorver o que eles têm pra ensinar é ouvi-los tocar.
TMDQA!: Faz sentido! E ainda nessa turnê, parece que vocês estão com agenda lotada até pelo menos junho, o que dá pouco tempo de folga. Fiz uma busca rápida no Setlist.FM e achei 124 shows só entre abril e dezembro do ano passado. Não sei se esse é o número oficial, mas a) quando vocês dormem? e b) dá tempo de compor músicas novas quando estão na estrada?
Ben: É uma boa pergunta! (Risos) A gente quase não tem tempo pra compor músicas novas quando estamos em turnê. Até temos algumas ideias, mas não chegamos a trabalhar nelas porque a maior parte do tempo o foco tem que estar na turnê, sabe? É estar presente para quem está lá do nosso lado. Então a gente guarda as ideias pra depois, basicamente.
TMDQA!: Só pra encerrar: o nome do nosso site tem muito a ver com o quanto a música é uma companhia constante nas nossas vidas. Queria saber quais discos têm te feito companhia esse tempo toda na estrada?
Ben: “Damn”, do Kendrick Lamar!
TMDQA!: Boa escolha!
Ben: Sim, esse disco é um dos meus favoritos que saíram no ano passado e eu acho o Kendrick apenas genial.
TMDQA!: Será que não acontece uma colaboração entre vocês?
Ben: Olha, eu ia adorar! (Risos)
TMDQA!: Ben, muito obrigada pelo seu tempo! Não vou te segurar pra vocês se prepararem logo pra vir ao Brasil. Espero que se divirtam!
Ben: Foi um prazer falar com você! Nos vemos aí!
Lollapalooza Brasil
O Royal Blood toca no Lollapalooza Brasil, mais especificamente no dia 23 de Março, a Sexta-feira, primeiro dia do festival.