Batemos um papo com a ETNO sobre turnê internacional e novo álbum

A banda brasiliense ETNO está se preparando para gravar o terceiro álbum de estúdio e embarcar em uma turnê internacional ainda este ano.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Parece que 2018 vai ser um ótimo ano para a ETNO.

A banda de rock brasiliense está se preparando para gravar seu terceiro disco de estúdio e embarcar em uma turnê internacional no segundo semestre deste ano.

Os caras participaram em 2017 do Festival Indie Week, no Canadá, e foram premiados como melhor banda por lá. Por conta disso, a ETNO ganhou um passaporte para tocar na edição inglesa, em Manchester, na Inglaterra, além de voltarem este ano também como banda convidada no festival canadense.

Durante o festival, a banda lançou a nova música de trabalho chamada “Existe Amanhã”, lançada exclusivamente aqui no TMDQA!. Agora, nós batemos um papo com os caras para descobrir um pouco mais dos próximos projetos e da expectativa para os shows lá fora.

Confira!

TMDQA: Os últimos meses têm sido bastante movimentados para a banda: entre outras datas, vocês estiveram na Indie Week do Canadá e inclusive ganharam um prêmio por lá. Como foi a experiência toda e o que isso somou para os próximos passos da ETNO?

ETNO: Foi uma experiência incrível. O formato do festival faz com que artistas interajam bastante com a cidade. São 10 dias em que as casas de show de Toronto abrem as portas para bandas do mundo inteiro. Além disso, estávamos hospedados na mesma casa junto com a galera do Trampa e do Horta Project, e durante o período do festival teve um clima de viagem de amigos. Lembro das bagunças na hora de cozinhar e de sair para conhecer os locais dos shows.

Sobre o prêmio, foi algo totalmente inesperado apesar do nosso histórico favorável em festivais com amostras competitivas. De qualquer forma, receber um prêmio internacional abriu os nossos horizontes e iniciamos o ano de 2018 com um planejamento diferente. A receptividade do público canadense chamou muito a nossa atenção e tomamos a decisão de apostar cada vez mais em shows internacionais.

TMDQA!: Em 2018 vocês irão lançar um novo disco de estúdio. Como é para uma banda de 16 anos de estrada o processo todo de começar a compor, estruturar as canções e dividir ideias? Vocês já sabem onde irão gravar o álbum e quem irá produzi-lo?

E: Na verdade o processo de composição nunca para. Constantemente estamos revisitando ideias antigas e sempre surgem novidades em momentos inusitados. Acho que vontade de apresentar um material novo é algo natural para qualquer grupo musical. É parte da inquietude de ser artista. No ETNO não há uma forma ou método para criar as músicas. Simplesmente registramos de forma despretensiosa toda e qualquer ideia que possa surgir e aos poucos vamos filtrando e descobrindo as melhores propostas. No fim das contas é fácil perceber quais ideias soam melhor quando a banda toca.

Esse novo material foi todo produzido e gravado em Brasília. Quem assina a produção é a banda e em parte das músicas tivemos a co-produção de Diego Marx. Algumas músicas inclusive foram gravadas na casa dele. Não foi um processo continuo para gravar esse novo disco. Fizemos sessões de gravação no estúdio 1234 e estamos finalizando as últimas músicas no Estúdio MV.

TMDQA!: É impossível não citar o clima político e social terrível que vivemos no mundo todo hoje. Vocês irão abordar de alguma forma a polarização que vemos hoje na política brasileira e os reflexos que isso ocasionam na nossa vida como um todo? Entendem que a arte tem papel fundamental para que a gente passe por esse período?

E: Desde o início do ETNO sempre abordamos temas que incentivem a reflexão. Não tratamos os assuntos de forma de forma direta, mas questionamos em nossas letras, por exemplo, o machismo, a homofobia, racismo e a intolerância. O próprio nome da banda é uma referência ao caráter múltiplo e diverso da humanidade. Nós não somos integrantes de nenhum movimento social e nem carregamos a bandeira de nenhuma luta específica. Agimos apenas como pessoas que possuem uma inquietude de expressar poeticamente as opiniões sobre o que acontece no mundo e esse é o impulso inicial para as nossas criações. Nossa maior mensagem é a de que acreditamos que a arte é uma das melhores formas de transformar positivamente e até de educar as pessoas.

TMDQA!: Que bandas e artistas são as maiores influências para vocês quando estão na estrada e em estúdio? Que traços vocês acham que será possível ouvir no próximo álbum a partir da sonoridade de outros artistas?

E: Em geral nós apreciamos bandas ou artistas que fazem misturas de estilos. Gostamos de ritmos inusitados e de melodias que fogem do habitual. Podemos citar System of a Down e Tool como influências fortes e entre artistas do Brasil tem O Rappa e Lenine que também apreciamos bastante. Não que essas sejam referências diretas para as nossas músicas, mas são referências enquanto proposta artística.

Em relação à sonoridade não sei se é possível citar especificamente alguma referência. Nesse novo trabalho conseguimos colocar muitas influências num mesmo material e talvez estejamos num bom passo para afirmar o nosso próprio estilo.

TMDQA!: Há alguns dias publicamos por aqui uma matéria sobre como a venda de guitarras no Brasil diminuiu drasticamente nos últimos 5 anos. Vocês são uma banda orientada a guitarras e que já está aí há muito tempo, viu muita coisa incluindo o rock nacional no mainstream durante os anos 90 e início dos anos 2000. Como vocês enxergam essa situação e como traçariam um paralelo entre isso e a efervescência da cena underground do nosso rock?

E: Sim, nós todos lemos essa matéria e com um pouco de pesar sobre esse dado. O fato é que o Rock perdeu espaço no cenário mundial. Já estamos no final da década de 2010 e não surgiu nenhum movimento forte que fosse capaz de criar uma nova tendência no estilo, como houve em todas as décadas anteriores desde 1950. É como se o
Rock estivesse num processo de se tornar cada vez mais uma textura musical que é utilizada em outros estilos.

Por enquanto o cenário underground está bem ativo e com muitas bandas se profissionalizando e lançando material, mas aos poucos estamos percebendo uma dificuldade maior de renovar o público e uma crescente falta de interesse espontâneo de jovens e adolescentes. É um momento complexo para a história do Rock. Essa pergunta de fato é o tema de muitas e muitas conversas da galera das bandas de Brasília. Veremos o que nos aguarda no futuro.

TMDQA!: Quais serão as próximas oportunidades onde o público brasileiro poderá ver shows da ETNO em 2018?

E: Agora em Março temos dois shows em Brasília. Dia 18 no Canteiro Central ao lado de vários amigos daqui e no dia 21 vamos tocar no Teatro da Caixa num evento chamado Jogo de cena em que artistas de diversas linguagens como teatro, dança e música se apresentam em apresentações reduzidas.

Para o inicio de junho estamos fechando uma turnê pelo estado de São Paulo, mas ainda não temos os locais definidos.

TMDQA!: Vocês têm mais discos que amigos?

E: Com certeza, mas sempre estamos abertos para novas amizades e quem sabe esse número não muda depois que lançarmos o nosso novo álbum (risos).