No fim do mês de Abril, uma das bandas norte americanas mais interessantes do emo revival desembarca no Brasil: o Citizen vem ao nosso país pela primeira vez para uma série de shows.
O grupo passará por quatro capitais brasileiras para divulgar o último lançamento de estúdio, o álbum As You Please (e se você ainda não o ouviu, recomendo não perder mais tempo). Todas as datas terão shows de abertura da banda paulistana de metalcore/post-hardcore Black Days.
Antes do início da turnê sul americana, tivemos a chance de conversar com o guitarrista Nick Hamm sobre os aprendizados e inspirações que as turnês mundiais tem trazido para a criação da banda, a sua função dupla como designer dentro do Citizen, a parceria com outros artistas do gênero (como o Title Fight), divagações sobre o futuro e discos que tem inspirado o músico ultimamente.
Confira a entrevista na íntegra abaixo:
TMDQA: Essa é a primeira turnê brasileira do Citizen até agora, mas vocês já mantinham contato com fãs e amigos brasileiros através das redes sociais antes de marcarem essas datas? A gente sabe o quanto aqueles comentários “COME TO BRAZIL” [“venham pro Brasil”] podem ser influentes.
Nick Hamm: A ideia de ir até a América do Sul foi bastante negociada com a gente ao longo dos últimos anos, mas agora pareceu o momento perfeito para finalmente fazermos isso. Esperamos que todas as pessoas que fizeram esses comentários não se decepcionem!
TMDQA: Como vocês se sentem sabendo que suas músicas estão impactando novos fãs por aqui e ao redor do mundo?
Nick Hamm: É sensacional. Simples assim. Quando paro para pensar que estamos em uma posição onde isso faz sentido, é realmente inacreditável.
TMDQA: Em 2014, durante a era do disco Youth, vocês ainda não tinham tocado nenhum show fora dos Estados Unidos. Agora, quatro anos depois, como tem sido a experiência com turnês internacionais? Conhecer realidades diferentes e ganhar novas perspectivas sobre o mundo é algo que influencia as composições de alguma forma?
Nick Hamm: É bem difícil, ao mesmo tempo que é muito recompensador. Nós realmente não sabíamos que seríamos uma banda que viajaria o tanto quanto nós temos viajado ultimamente. Observar as diferentes realidades das pessoas ao redor do mundo, e espero que façamos isso mais, é algo muito importante. Eu acho que compreender essas diferentes perspectivas pode fazer muito bem às pessoas, especialmente aos norte americanos.
TMDQA: Além de guitarrista, você é também o designer por trás da criação das capas do disco da banda e estampas de camisetas do merch. Você pode nos contar um pouco mais sobre como foi o seu processo criativo durante a concepção da capa para As You Please? Como você decidiu seguir com as estrelas distorcidas em cima do tecido vermelho? Da minha perspectiva a sensação que passa é a de que essa imagem representa símbolos distorcidos de uma nação, como uma bandeira (mas eu posso estar bem errado na minha interpretação).
Nick Hamm: Eu estava realmente muito atraído pelo simbolismo das estrelas, mas eu queria que elas tivessem personalidade e emoção. Um formato de estrela muito rígido e básico só me faz lembrar de patriotismo. Então eu queria fazer com que essas estrelas estivessem quase que dançando. Eu acho que a influência de Matisse [Henri Matisse, artista e gravurista francês] é aparente assim como o meu amor pela capa do disco There’s a Riot Goin On [do grupo de funk/soul Sly & The Family Stone]. Eu amo que seja simples o suficiente para permitir que as pessoas considerem o que ela está tentando comunicar.
TMDQA: Will Yip tem sido o produtor responsável por todos os seus LPs até o momento. As You Please soa como uma combinação do som que vocês criaram durante os discos Youth e Everybody Is Going To Heaven ao mesmo tempo que coloca a sonoridade do Citizen em novas direções. O quanto ele é responsável por moldar o som de vocês até o ponto em que vocês se encontram hoje? As músicas soam bem mais completas e profundas, com muito mais dinâmica do que elas tinham antes. Tem alguma história que vocês gostariam de compartilhar sobre o trabalho com o Will?
Nick Hamm: Mais do que qualquer outra coisa, ele permite com que sejamos criativos. Ele vai explorar cada ideia que nós temos até nós encontrarmos a que funciona melhor. Ele também tem uma energia contagiante que realmente ajuda você a se sentir bem com a música que você está criando. Ele se empolga com a ideia do disco antes que o disco exista. Eu amo isso nele.
TMDQA: As canções em As You Please têm um toque experimental com o uso de alguns instrumentos auxiliares pelo disco. O álbum é bem diverso sonoramente, com aqueles clássicos momentos de introspecção que explodem em refrões mais pesados e catárticos. Vocês sentem que tiveram que evoluir a forma com que tocam essas músicas ao vivo e mudar a dinâmica das performances de algum jeito para entregar as mesmas camadas que ouvimos em estúdio, ou vocês preferem manter as coisas simples?
Nick Hamm: É, dessa vez, nós definitivamente tivemos que levar em consideração os nossos shows e dar um salto na nossa entrega para fazer justiça às músicas. Mas ao mesmo tempo, nós amamos só plugar os instrumentos e tocar e manter as coisas simples e barulhentas. Eu acho que o nosso show ao vivo é uma boa contrapartida do que está presente no disco, mas não necessariamente são a mesma coisa.
TMDQA: Eu escuto bandas como vocês, Title Fight, Basement, Turnover e imagino a evolução de uma cena que tinha nomes como Thrice e Brand New em evidência alguns anos atrás. Vocês sentem que fazer parte de algum tipo de cena hoje em dia ainda é importante para as bandas de rock (ou de qualquer outro gênero)? O quão importante é para vocês construir relações sólidas com diferentes artistas?
Nick Hamm: Eu acho que o mundo estava um pouco mais faminto por rock na época que aquelas bandas estavam surgindo. Mas eu espero que o nosso ciclo de bandas possa fazer algo pelo rock, que é um estilo que está realmente debilitado em 2018. Eu acho que essas bandas certamente estão focadas o suficiente para isso. O Title Fight é um bom exemplo de uma banda que realmente afetou o mundo ao seu redor. Eles fizeram eu me interessar de novo por rock pelo menos umas 3 vezes!
TMDQA: Vocês já declararam que esse é o melhor disco do Citizen em outras entrevistas, e temos que concordar com vocês. Algumas faixa como “World” e “Flowerchild” se destacam pra mim devido ao conteúdo das letras e suas melodias marcantes. Você pode falar um pouco mais sobre elas?
Nick Hamm: Essas duas são composições do Mat [Kerekes, vocalista] e eu acho que elas são canções enormes, que vão muito direto ao ponto. Suas músicas são muito focadas. Ele realmente está em um ponto em que ele consegue executar esses tipos de música com muita facilidade. É bem legal de assistir.
TMDQA: Existe um tema que envolve nostalgia, niilismo e perda de esperança em relação ao futuro nesse último disco. O quão esperançosos vocês são em relação ao futuro? É algo que você pensa muito sobre?
Nick Hamm: Eu sou muito esperançoso. Os tempos estão mudando mas parece que nós temos fome por fazer as coisas de forma melhor, tanto em um aspecto pessoal quanto geral.
TMDQA: Falando sobre o futuro, o que ele reserva para o Citizen? O que vocês gostariam de conquistar com essa banda, se pudessem escolher qualquer coisa?
Nick Hamm: Eu só quero continuar sendo criativo. Eu quero fazer coisas que possam abrir portas para outras pessoas. É tudo o que eu posso pedir!
TMDQA: O nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos, então temos que te perguntar: você tem mais discos que amigos? E quais são os discos que você mais tem ouvido agora?
Nick Hamm: Eu definitivamente tenho mais discos que amigos! E no meu toca discos está tocando agora o Rock of Ages do The Band. Eu estou muito empolgado para ouvir o novo do Parquet Courts. Eu tenho escutado muito um disco do Bobby Charles ultimamente. Tem muitos discos pra lembrar agora mas poutz, eu preciso de alguns amigos.
O primeiro show do Citizen no Brasil acontece no dia 26 de Abril em Porto Alegre e todas as apresentações ainda tem ingressos disponíveis, conforme datas e locais abaixo:
- 26 de Abril – Porto Alegre – Preto Ze – Ingressos
- 27 de Abril – Curitiba – Basement Cultural – Ingressos
- 28 de Abril – São Paulo – Fabrique – Ingressos / Evento
- 29 de Abril – Rio de Janeiro – La Esquina – Ingressos / Evento