Emicida, Karol Conka e Johnny Hooker falam sobre como a música mudou suas vidas

No painel "Além da Música" da Rio2C, músicos falaram sobre poder transformador da arte, futuro do Brasil e mais. Veja como foi.

Emicida e Karol Conka na RIO2C
Foto por Bruno de Lima/R2

Não é segredo pra ninguém que a arte transforma a vida das pessoas de diversas maneiras.

Quando estamos falando da música não é diferente e há algo de realmente incrível no que acontece quando pessoas ligadas a ela passam a viver fazendo o que mais gostam e mais sabem fazer, seja nos palcos, no estúdio, nas redações ou no backstage.

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Quem falou a respeito disso foram três artistas nacionais dos mais icônicos, Emicida, Karol Conka e Johnny Hooker, que participaram de um painel com esse tema na Rio2C, evento que esse ano teve programação voltada à música pela primeira vez.

Por lá, tivemos diversos depoimentos incríveis sobre o poder transformador da música e sobre como nomes tão importantes no cenário brasileiro enfrentaram as adversidades e chegaram lá.

Johnny Hooker, por exemplo, disse que quando era mais novo foi impactado por artistas como David Bowie e Madonna, e logo percebeu que poderia, deveria e tinha a responsabilidade de ser uma voz LGBT em Recife, já que viu esse tipo de representação nos palcos desde cedo e poderia fazer o mesmo.

Karol Conka falou bastante sobre o poder que a música tem de transformar as pessoas e sobre como isso ultrapassa diversas barreiras, incluindo as culturais, de língua e as fronteiras dos países.

Ela citou como exemplo uma viagem que fez até a Alemanha onde se apresentou e viu as pessoas ficando malucas com seu som, dançando muito e até tirando a roupa; ao final da apresentação, uma das meninas da plateia veio até ela e disse que não entendeu nada do que Karol estava cantando no palco, mas que a sua música a contagiou de uma forma que nunca tinha feito por conta de sua força.

A artista paranaense também discutiu sobre como a música tem o poder de reeducar, no sentido de que ela pode transformar conceitos e servir como um verdadeiro agente de transformação não apenas para quem vive dela, mas também para quem é impactado de uma forma ou de outra.

Foto por Bruno de Lima/R2

Os pontos altos do debate sempre vieram quando o rapper Emicida pegava o microfone para expor os seus pontos de vista a respeito de diversos assuntos, e foi uma experiência incrível estar ali na Rio2C para ver tudo de perto.

Primeiro ele falou sobre como o hip hop e a música em geral podem ter o lado mais divertido ao mesmo tempo em que também podem se apresentar como carrancudos e durões. Ele deu exemplos bem claros disso falando que a parte da diversão veio com Pepeu e “Nomes de Meninas”, e o lance sério bateu quando ele conheceu os Racionais MC’s.

Um grande exemplo que ele deu nesse sentido foi quando citou “Q.U.E.E.N.”, canção de Janelle Monáe com Erykah Badu cuja letra tem um trecho que diz “o bumbum não mente”.

Segundo Emicida, quando você conseguiu impactar alguém a ponto de fazer a pessoa dançar, a conexão já foi estabelecida, e é aí que você pode impactar a plateia com diversão e ao mesmo tempo passar uma mensagem de crítica política e social, por exemplo, sem se tornar algo chato: “se ficar muito cerebral, vira palestra”.

Karol Conka, Emicida e Johnny Hooker na Rio2C

Em outro momento, o músico falou sobre a sua experiência na África que acabou resultando no disco Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, e o depoimento mais que sincero de Emicida foi seguido de perto por todos os presentes.

O rapper brasileiro falou sobre como lá se sentiu apenas mais uma pessoa, e não “um cara preto”, e continuou falando sobre como a música e principalmente a dança das mulheres africanas eram contagiantes e hipnotizantes.

Emicida confidenciou que há muito tempo não ficava tão bêbado quanto nessa ocasião, arrancando risos da plateia, e falando de uma questão muito séria em tom de brincadeira (misturando exatamente os elementos citados anteriormente sobre não ser chato com discursos importantes) disse que quando os europeus chegaram à África não devem ter entendido nada.

A lógica é que vivendo uma vida chata, cheia de regras e gente dizendo o que fazer, o que comprar, o que vestir e como agir, quando eles desembarcaram na África e viram tanta gente se divertindo, dançando e sendo muito feliz com pouca roupa e poucos pertences, eles devem ter se perguntando quem colocou o Diabo no quadril daquelas mulheres, assim como o próprio Emicida acabou fazendo de tão surpreso que ficou com aquilo tudo: “se eu fiquei assim em plenos anos 2000, imagina os caras há centenas de anos?”

Por fim, em um discurso sobre o futuro do nosso Brasilzão, Emicida mandou bem mais uma vez e disse que sempre enxergou o país como o Michael Jackson.

Ninguém entendeu muito bem logo de cara mas aí ele explicou e, mais uma vez, ao mesmo tempo em que conscientizou fez as pessoas abrirem o sorriso no rosto: “o Brasil é igual o Michael Jackson, um gigante, mas que só tá fazendo o moonwalk. Você vê o país lá, bonitão, mas ele só tá andando pra trás. Parece que vai andar pra frente, mas aí anda pra trás.”

 

A conversa foi mediada por Leonardo Lichote e aconteceu na belíssima Grande Sala Petrobras, dentro do complexo da Rio2C na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Por lá também rolou o Festivália, festival que reuniu bandas representando vários festivais do país, e você pode ver como foi por aqui.

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