Como a gente pôde notar nos últimos meses, a indústria cinematográfica tem um machismo latente e ver mulheres se destacarem nesse meio, principalmente nos criativos (direção, roteiro e fotografia), é algo raro. Ao descobrirmos que uma cineasta brasileira estava chamando atenção em festivais de cinema de horror como roteirista, tivemos que contar essa história.
Destaque no recente festival Rock Horror in Rio Film Festival e ainda inédito no Brasil, o filme Ocupantes é um daqueles que atraem holofotes por onde passa. O longa tem uma tensão psicológica bem construída e já recebeu 42 prêmios e mais 33 indicações em festivais pelo mundo todo. E tudo vem da mente de Júlia Câmara, uma paulistana que reside em Los Angeles atualmente.
Durante sua trajetória, Júlia transita entre diferentes facetas do cinema de gênero. Conversamos com ela sobre a carreira, o cinema de terror e sobre o que ela ouve ao escrever… Afinal, aqui é um site de música, né?
TMDQA: Quais as principais dificuldades de ser uma mulher roteirista trabalhando em um gênero como o terror?
JÚLIA CÂMARA: Acredito que existe sim uma resistência em questão de dar chances a mulheres tentando iniciar na carreira de roteirista. Mas acho que esta resistência é para todos os gêneros, não só o terror. O Ocupantes participou de muitos festivais diferentes de cinema. O que eu percebi, ao conversar com o público depois do filme, foi a surpresa de muitas pessoas ao verem que uma mulher escreveu o roteiro. Quanto mais isso acontecia, mais eu achava importante estar presente em todos os eventos possíveis relacionados ao filme. A verdade é que existem muitas mulheres que escrevem, dirigem e produzem o cinema de gênero. O que nós precisamos é quebrar este preconceito de que cinema de terror só é criado por homens.
TMDQA: Vivemos em tempos sombrios, com vários temores de todos os lados. O que te motiva a criar um filme de terror?
JÚLIA CÂMARA: Eu sempre gostei do gênero de terror. Acho até meio terapêutico escrever e assistir a coisas assustadoras. Os filmes de terror muitas vezes abordam questões relevantes para a sociedade com o disfarce do gênero. Um filme como Corra! (Get Out) é mais eficaz ao falar de racismo do que se fosse um drama abordando abertamente as questões raciais. O terror muitas vezes é o açúcar misturado no remédio para esconder o gosto amargo.
TMDQA: Vendo a sua carreira, é muito bacana como você trabalhou com diversos gêneros bem diferentes como a ficção científica e a comédia. O que te atrai no cinema de gênero?
JÚLIA CÂMARA: As histórias que eu mais gosto de contar têm sempre por trás o tema: cuidado com o que você deseja, você pode conseguir! Muitas vezes, eu tenho que começar com algum elemento fantástico ou absurdo para contar a história. Eu acho sempre mais divertido ter a chance de fugir um pouco do mundo real com o cinema de gênero.
TMDQA: No fim de tudo, nós somos um site de música, então queria saber se você usa música como inspiração. Você tem aquela playlist especial para ouvir ao escrever?
JÚLIA CÂMARA: Eu tento sim ouvir algo relacionado ao material que estou escrevendo. Hoje em dia, com uma filha de quase quatro anos, as minhas playlists quando minha filha está comigo são Moana, Frozen, Trolls e a Pequena Sereia. Sempre que tenho a chance de ouvir algo diferente eu não perco a oportunidade. A minha playlist sempre inclui P!nk, Alanis Morissette, Adele, Queen. Dependendo do projeto eu me aventuro a ouvir trilha sonoras de musicais como Chicago, Wicked ou Mamma Mia.